Ela contava os dias para a chegada daquela aguardada data comemorativa. Planejava sair mais cedo do trabalho e fazer um jantar especial. No caminho para casa, compraria velas ornamentais. Não. Se fossem muito bonitas, teria pena de vê-las queimar e se extinguir em algumas horas. Apenas velas coloridas; umas cinco, para iluminar bem a pequena cozinha do apartamento.
No final de semana que antecedia a data, foi às compras. Pegou tudo o que precisava, menos as velas. Essas seriam compradas no dia, para não correrem o risco de deformar com o calor fora de época. A previsão do tempo indicou um mormaço incomum para aquele período do ano. Coisas do aquecimento global.
Chegou em casa e guardou as compras no armário. Aproveitou aquela folga semanal para limpar o apartamento. Enquanto esfregava o chão, projetou na mente o que faria naquela data. "Saio mais cedo, passo na lojinha e compro as velas. Cinco. Vou usar uns pratinhos para colocá-las em cima. Depois, chego e preparo o jantar. Vou tomar um banho, me arrumar e usar aquele vestido novo. Coloco a mesa... não posso esquecer o vinho. Daí ele chega, jantamos, conversamos e eu entrego o presente. Será que ele vai gostar? Ele disse que estava precisando de camisa social... O que será que ele comprou? Ah, dia 12 será perfeito!".
O tão esperado momento chegou. Ela comprou as velas e chegou ansiosa em casa. Preparou tudo conforme havia planejado semanas antes. A receita que copiou de um site da Internet parecia ótima. Maquiou-se, colocou o vestido azul marinho e calçou as sandálias de salto alto. Não poderia esquecer os brincos, o colar, a pulseira e, principalmente, o perfume.
Quando a campainha tocou, mal conseguia respirar. Atendeu o interfone e autorizou a entrada do convidado. Em poucos minutos, ele estava à porta, batendo levemente. Foi imediatamente atendido. Seu olhar percorreu o salto da sandália e o decote do vestido. Com o presente em mãos, entregou à namorada.
- Nossa, mas já? Achei que fosse ficar para o final da noite. – comentou surpresa.
- Não, abra agora. Quero ver se fun... fica bom o tamanho.
Um pouco decepcionada com a pressa e com o fato de ele sequer tê-la beijado com o romantismo que esperava, abriu a caixa. Em meio ao papel de seda, viu um corpete. Levantou a delicada peça e comentou:
- É mais pesado do que eu imaginava. É lindo, adorei!
- Vista.
- Mas já? Vamos jantar primeiro, fiz um...
- Vai lá no quarto que eu te espero.
Com a própria vontade mais uma vez contrariada, foi ao quarto. Despiu-se e vestiu a lingerie. Tinha alguma coisa ali, algum volume diferente no busto da peça. Seria um defeito? Foi para a sala e viu o namorado sentado com o notebook no colo. Nem percebeu que ele havia entrado em sua casa com aquele aparelho. “Até agora vai ficar com os olhos vidrados nessa maldita coisa?”, pensou com raiva.
- E aí? Gostou? Nossa, tá linda!
- Tem alguma coisa no busto.
- Não é nada, não.
- É sim, tem alguma coisa!
- Espera um instante que o site abriu. Pronto, tá funcionando! Maravilha!
- Hã? Como assim?
Ela apalpou o busto da lingerie e notou um bolso discreto. Dentro dele, um pequeno aparelho com adesivos em inglês.
- Mas o que é isso? Um gravador?
- Não. Promete que não fica brava? Fiquei sabendo que estavam vendendo essa novidade e não resisti.
- Fala!
- Um GPS.
Sabia que o namorado era ciumento, mas não imaginava que fosse chegar a tanto. A aguardada data estava arruinada. Ela se trocou, vestiu um pijama e pediu a ele que fosse embora – não sem antes devolver o presente e falar o quanto achava aquilo um absurdo. Ele partiu sem dizer nada, e ela viu as velas queimarem enquanto jantava sozinha aquele frango grelhado com risoto e vinho rosé. A camisa deveria servir em seu irmão.