Recebi da minha mãe, na manhã de terça-feira, a notícia de que havia ocorrido um forte terremoto em Christchurch, Nova Zelândia. Fiquei triste, mas não surpresa. No início de setembro do ano passado (um mês antes de eu ir pra lá), já havia acontecido o que eles chamam de "the big one": o grande terremoto, de 7.1. Um dia, conversando com a mãe da casa onde fiquei, ela disse que estavam prevendo outro forte tremor. Quando fiz aquela cara de assustada, ela simplesmente me acalmou:
- Não se preocupe, você já terá ido embora.
Então fiquei com essa conversa na cabeça, relembrando de vez em quando e pensando em quando poderia acontecer essa outra tragédia. E admito que ocorreu bem antes do que eu imaginava.
Cheguei em Christchurch no dia 2 de outubro. No dia seguinte, fiz meu primeiro passeio pelo centro, sozinha e com meu guia turístico na mão - comprei um mapa na primeira livraria que vi. Pensei que fosse encontrar uma cidade mais abalada por causa do "big one", mas havia menos edifícios e imóveis interditados do que eu imaginava. As ruas estavam mais bem cuidadas do que a Augusta, nos Jardins (área nobre de São Paulo). Em um mês, a cidade havia se recuperado bem.
No dia 4, uma noite de segunda-feira, eu estava quase dormindo quando ouvi um barulho forte e minha cama começou a tremer. Os cabides de metal chacoalhavam e eu fiquei paralisada: não sabia se saía do quarto ou se permanecia na cama. Era uma réplica de 5.0, seguida por uma mais branda, e ninguém na casa pareceu se importar muito. A partir desse dia, passei a ter um sono bem mais leve.
Daí as réplicas (ou "aftershocks") viraram parte da rotina. Algumas vezes eu nem sentia, só ouvia a mãe perguntar se eu tinha sentido durante o dia ou de madrugada. Eu lembro mesmo dos tremores mais marcantes, como um que ocorreu durante a aula de inglês e a professora falou para a gente ficar embaixo das mesas. Eu comecei a rir... de nervosismo, claro. Afinal, o que umas mesinhas de madeira iriam fazer se fosse mais forte? Estávamos no quinto andar do prédio!
Em outra ocasião, eu estava no laboratório de informática e até mandei um tweet "ao vivo" contando que tinha acabado de sentir um tremor. Ah, lembrei de outro, que aconteceu no meio de uma aula, mas foi até leve.
O último "aftershock" que senti foi numa tarde de domingo, descendo a escada da galeria de arte. Paralisei, como todo mundo. A porta, de ferro e vidro, fez um barulho alto, mas nenhum quadro ficou fora do lugar. Acho.
Agora, a parte estranha: quando voltei ao Brasil, fiquei muito sensível em relação a tremores. Explico: onde moro, qualquer ônibus e caminhão que passa em uma rua próxima faz até a janela dar uma tremidinha. Antes, eu nem ligava, quase não percebia. Depois, cada veículo grande que passa parece um terremoto.
Outra estranheza? Domingo estava dormindo e senti que tinha alguma coisa balançando minha cama. Acordei assustada e não era nada. Menos de dois dias depois, me deparo com a notícia do terremoto de 6.3. Melhor nem comentar.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
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