Segunda metade da década de 1990. Eu era uma adolescente introspectiva que vivia num mundinho recheado de leituras, música e filmes. Tinha poucos - e bons - amigos, sendo a maioria fora da escola. Desde aquela época, já era diferente e não gostava das mesmas coisas que todo mundo. Assim como na maioria dos filmes adolescentes, existia o grupo das meninas sebosas e das normais. Mesmo não sendo tão normal assim para me encaixar num grupo de tal nome, fazia parte dele.
As sebosas eram fofoqueiras e gostavam de aparecer. Superestimavam sobrenomes e gostavam de Bon Jovi - e eu odiava, claro. Tal como os irmãos Gallagher, líderes da minha banda preferida, eu falava mal e não suportava o que as sebosas gostavam (algum tempo depois fiz amizade com uma fã de Bon Jovi que era normal, daí parei de implicar tanto com a banda farofa).
Enquanto eu me fechava no quarto ouvindo Oasis, tentando traduzir e decorar as músicas deles, minha mãe desenvolvia um comportamento suspeito e começava a se tornar fã de Bon Jovi. Quando eu fazia cara de desdém ao ouvi-la comentar que as músicas eram lindas, ela emendava dizendo que o cantor também era lindo. Era demais para mim. Achava que ela merecia ser mãe de qualquer uma das sebosas que achava Bon Jovi a melhor banda do mundo, seguida por Hanson, Backstreet Boys e Spice Girls - elas não tinham a cabeça muito aberta para ouvir coisas que eu julgava boas.
Vira e mexe, minha mãe ainda se emociona quando ouve Bon Jovi e continua achando o coroa bonitão. Como não sou mais tão mal humorada, até acho divertido quando ela faz tal comentário, e fico imaginando se as sebosas ainda são sebosas que escutam Bon Jovi e ensaiam coreografias típicas de "vergonha alheia". Dou um sorrisinho e lembro que mais tarde vou ao cinema ver o novo filme do Woody Allen. Eu mudei, mamãe não mudou. Será que elas mudaram?
Um comentário:
ai, como eu queria que minha mãe fosse fã de Bon Jovi! minha educação musical teria sido muito melhor aproveitada...!
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