Pense em uma pessoa ansiosa, metódica e neurótica. Agora, imagine que ela vai viajar e fará o possível para planejar tudo de modo que nada a prejudique: comprou um guia completo sobre o lugar; além do cartão travel money leva uma boa quantidade em notas; deixou todos os telefones de emergência à mão, bem como a papelada para apresentar no aeroporto e evitar problemas.
Foram mais de 20 horas de viagem (contando com a escala que me deixou à toa por cerca de 4 horas) e assim que vi o avião se aproximar lentamente do aeroporto de Auckland, suspirei aliviada e emocionada. Chegando lá, teria de correr para pegar minha mala, apresentar a papelada e responder as perguntas à polícia federal neozelandesa e procurar o terminal para pegar meu voo para Christchurch. Simples assim. Mas antes, tinha que dar uma passadinha no toilette.
Foi aí que me perdi. Não encontrava o terminal e o ponteiro apressado do relógio me fazia suar frio. Aproximei-me do balcão de informações e pedi ajuda a um senhor atencioso com um crachá na jaqueta que dizia "voluntário". Tendo em vista que eram 6 horas da manhã, aquele homem devia gostar muito do que fazia. Assim que ele viu minha passagem, simplesmente respondeu que eu deveria me apressar, senão perderia o voo. Pânico!
O senhor, que se não me engano se chamava Bruce, chamou outra voluntária para me acompanhar, uma senhora simpática que foi conversando comigo o caminho todo e me acalmando. Percebi que o sotaque kiwi era mesmo uma coisa bem Flight of the Conchords, e que eles eram adoráveis e prestativos. Ela me levou até o lugar onde eu deveria retirar minha mala (a única que estava lá, diga-se) e me explicou sobre a alfândega e o caminho que eu deveria fazer para chegar ao terminal de onde meu voo partiria.
Tudo certo, até descobrir que teria de andar por uns 15 minutos até chegar ao tal terminal, arrastando minha mala e levando minha mochila pesadinha nas costas. Respirei aquele ar gelado, tremendo de frio e de nervoso. Falaram que tinha um ônibus que ia para lá e, quando eu estava procurando o ponto, perguntei a um homem asiático se ele sabia. "Estou indo para lá, pode me acompanhar". Fomos andando bem rápido, pois ele também parecia estar preocupado com o horário. Conversamos nesse breve caminho - que parecia ser eterno naquele momento -, e ele, muito simpático, ofereceu-se para levar minha mala no carrinho dele. Impressionou-se por eu estar levando tão pouca coisa para passar cinco semanas. "Estou levando o necessário e o que aguento carregar, pois viajarei uma semana sozinha", justifiquei.
Esse moço era de Wellington e trabalhava para algum ministério (acho que era do planejamento). Quando eu disse que iria para lá no final da viagem, ele falou bem da cidade e, no final, deixou um cartão comigo. Acompanhou-me até o balcão da companhia aérea do meu voo e seguiu para o dele. Agora estava por minha conta.
Sabia que tinha perdido meu voo para Christchurch por conta de ter me perdido no aeroporto e porque a agência comprou um voo muito em cima da hora. Além disso, o avião havia pousado com uns 20 minutos de atraso. Mas a esperança não havia me abandonado e expliquei minha história à atendente que, para variar, era prestativa e simpática. Com feições maori, ela me chamava de Lutiana (como no idioma italiano) e disse que tentaria me colocar no voo seguinte, que sairia dali a duas horas. Eu deveria procurar o balcão em uma hora para verificar.
Minha mente cansada queria se distrair um pouco, mas meu corpo estava muito pesado. Naquele momento, a emergência número um seria ligar para a minha homestay mother em Christchurch e avisar sobre o atraso. Comprei um cartão telefônico e corri para o telefone mais próximo, sempre arrastando minha mala. Por telefone, consegui entendê-la e ela me entendeu, o que achei o máximo. Depois, vi que tinha computador para usar no aeroporto - e de graça - e me adiantei a mandar e-mail para minha mãe avisando que o avião não tinha caído, mas eu estava presa no aeroporto porque havia perdido o voo. Já que estava ali mesmo, mandei um tweet resumindo a peripécia.
Dei uma volta pelo pequeno terminal, reparando lojas e pessoas. Vi um time juvenil australiano de rugby, mas o mais curioso foi ver umas garotinhas de algum time de hóquei regional da Nova Zelândia. Passado o tempo, fui ao balcão e tive a notícia mais feliz do meu dia: eu embarcaria no próximo voo para Christchurch.
Dias depois, conheci uma brasileira na escola de inglês que tinha passado pelo mesmo que eu no aeroporto de Auckland. Só que ela contou ter chorado e ficado ainda mais desesperada; o inglês dela era de inciante e ela não entendia ninguém. Mas falou das pessoas simpáticas e prestativas que a ajudaram a sair daquela situação. Ah kiwis, vocês são demais!
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