Trinta de setembro de 2010. Um frio na barriga se espalha pelo meu corpo e o coração acelera. Ando apressadamente e tento disfarçar meu nervosismo. Olho ao redor e reviso mentalmente, mais uma vez, se não esqueci nada. Não há como mudar de ideia: agora será para valer. Ali, há tantas pessoas que devem estar sentindo o mesmo que eu, mas cada um na sua individualidade, na sua diferença.
Faço o meu check-in e aguardo o tempo passar, enquanto o frio na barriga aumenta, até finalmente dar a hora de eu atravessar para o lado de lá e mostrar todos os documentos. É o primeiro grande passo para embarcar em um avião pela primeira vez. E é tudo tão diferente, tão complexo. Estar ali sozinha, contando comigo, com a minha habilidade de tentar me manter calma e desfrutar tudo da melhor maneira. A pequena janela reflete os raios do sol, o mundo lá embaixo encoberto por nuvens, e eu me sentindo como uma semente de dente-de-leão, imperceptível e sonhadora.
As horas passam. É dois de outubro, e o dia primeiro, uma sexta-feira, inexistiu no meu calendário. Seria uma página em branco do diário. É como se eu tivesse viajado no tempo e chegasse àquela estranha cidade, em um sábado ensolarado e com muito vento, num passe de mágica. Todos são estranhos, até mesmo o idioma, mas ali será minha casa por um mês. E é um lugar aconchegante, com pessoas hospitaleiras e simpáticas. Mas o dia anterior não existiu, fazendo com que eu sinta, mais do que nunca, o quanto a vida é curta e como o tempo acelera quando menos esperamos.
O dia que desapareceu para mim deve ter sido inesquecível para outros. O choro de um bebê irrompendo no quarto do hospital enquanto o médico dá-lhe um tapinha; as lamúrias da viúva enquanto olha para o corpo do marido durante o funeral; o sorriso da garota ao receber o SMS do rapaz que ama; o silêncio do homem ao saber que o namoro chegou ao fim. Primeiro de outubro de 2010 foi nada para mim, porque simplesmente foi o dia que não existiu.
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