Os olhos cansados encararam-se por um breve instante no espelho, logo após escovar os cabelos antes de deitar, algo que costumava fazer todas as noites. O olhar distante não se reconheceu naquele reflexo; as íris acastanhadas estavam opacas, sem o brilho de outrora; as pálpebras pesadas se esforçavam para manter-se abertas. Era como se observasse uma figura estranha através do espelho, uma versão envelhecida de si mesma. E isso tudo notou durante alguns segundos.
Sem se mover, dirigiu o olhar para os lábios ressequidos, esbranquiçados e levemente enrugados. Passou a ponta da língua na parte inferior e sentiu pequenos sulcos e um corte, provavelmente resultante do clima frio e seco - e da falta de cuidado para consigo mesma. Com a pontas dos dedos, jogou as madeixas para trás; depois alinhou-as para o lado direito. Enquanto isso, recolhia os fios que se desprendiam e caíam delicadamente sobre a blusa do pijama, montando um pequeno emaranhado.
O gosto amargo do remédio subiu-lhe a garganta, causando repugnância e ânsia. Esforçou-se para engolir novamente, sem se preocupar em pegar um copo d'água para amenizar o gosto ruim que revolvia sua boca. Uma tontura revirou sua mente, fazendo com que o corpo magro se jogasse suavemente na cama. Sentiu o coração palpitar com violência pela veia do pescoço, enquanto uma mistura de calafrio e delírio subia-lhe a espinha.
Puxou a coberta do pé da cama e cobriu-se com esforço. Ajeitou a cabeça no travesseiro e esticou o braço para trazer o despertador para perto de si, ajustando o horário no qual deveria se levantar. Sentiu o furo na veia do braço e tentou disfarçar a aflição que aquilo lhe causava, encolhendo-se para se esquentar, à espera do sono que se interromperia pela manhã, ao som do sinal do alarme alertando que o segundo dia havia chegado.
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