Inicialmente, pensei em intitular este texto "Vingadores vs. Batman", mas achei um tanto sensacionalista, afinal não tenho pretensão de discorrer sobre qual universo dos heróis gosto mais, mesmo porque não sou entendedora do assunto para embasar tão bem meus argumentos. Não leio quadrinhos e o pouco que sabia das duas franquias veio de desenhos animados vistos durante a infância e filmes anteriores. No caso dos Vingadores, somam-se os prequels solos; de Batman, os filmes de Tim Burton e as primeiras partes da trilogia de Christopher Nolan - e a hilária série produzida na década de 1960, que passava no SBT e eu simplesmente adorava.
Logo, Os Vingadores e O Cavaleiro das Trevas Ressurge são filmes muito diferentes e as únicas semelhanças entre eles é a fonte de inspiração - histórias em quadrinhos - e os protagonistas heroicos. O que gostaria de discorrer, na verdade, é a sensação de assistir a cada um desses filmes no cinema e o saldo final. Ou seja: a gente sempre sai da sala com uma ideia e, depois de refletir sobre o que acabamos de ver e até ler/ouvir argumentos de outros entendedores do assunto, podemos passar a gostar mais ou menos. Veja o caso de Cisne Negro: pirei durante o filme, mas ao sair da sessão, no caminho para casa, percebi que na realidade o impacto dele sobre mim não havia sido tão forte assim. E mesmo lendo críticas enaltecedoras e bem argumentadas, a importância dele diminuiu muito com o passar dos dias. Mas chega de desviar o assunto e vamos direto ao ponto.
A trilogia de Batman concebida por Chrisopher Nolan foi lançada como "se Batman existisse, seria exatamente assim". É como se toda aquela fantasia do super-herói vivendo num universo distante e imaginário fosse apagada e redesenhada para os dias de hoje, em uma Gotham City realista e gêmea a Nova York. Um playboy bilionário amargurado, com gadgets incríveis, uma caverna no porão da mansão e uma lista de vilões bizarros para derrotar. O problema é que tudo parece ter sido criado para levarmos a sério demais. De Batman Begins a O Cavaleiro das Trevas, OK - admiravelmente fiéis a uma realidade paralela, embora o caos gerado pelos vilões (a.k.a. simples mortais com problemas psiquiátricos) seja um tanto exagerado.
Nolan vendeu bem os dois primeiros filmes, até confundir-se com suas próprias pretensões no final da trilogia. Porque como um longa-metragem solo (e bota "longa" nisso!), O Cavaleiro das Trevas Ressurge até funciona bem. Mas, quando lembro que existiram outros dois filmes antes dele, enfraquece bastante. Ou seja: Nolan vendeu "uma trilogia de super-herói fiel à realidade e voltada para o público adulto", mas no final entregou "mais um filme de super-herói para agradar os fanboys de Batman". Dá-se a impressão de que se eu nunca li um gibi do Homem-Morcego (mas eu cheguei a ler meia dúzia na pré-adolescência), talvez eu tenha perdido alguma coisa.
O que me irritou, aliás, foi a ideia do "não vi, mas é o melhor do ano", propagada por vários fãs dos filmes anteriores. O que vai na contra-mão de Os Vingadores, que foi recebido com certa cautela, apesar do marketing massivo. O elemento-chave do longa baseado nos heróis da Marvel foi, de certa forma, a surpresa - muitos não sabiam o que esperar dele, mas responderam de forma positiva -, enquanto o final da trilogia de Batman foi algo como "com certeza será o melhor filme de super-herói do ano, Nolan is God".
Falando mais sobre Os Vingadores, é sim um filme voltado ao público infanto-juvenil. Violento, com certeza, mas uma violência mais velada. Nova York é simplesmente Nova York. O alívio cômico funciona. Tem frases de efeito. O vilão é um canastrão que o espectador pode acabar gostando. É um filme que não força - ele se vende pelo que é: um blockbuster de ação divertido que cumpre bem o papel de arrancar risadas, sem esquecer a coesão entre os inúmeros protagonistas e apostando em uma história simples, porém permeada por vários obstáculos que constroem uma narrativa curiosa e envolvente.
Guardadas as devidas proporções, O Cavaleiro das Trevas Ressurge se vende como um filme sério e adulto, mas entrega a mesma quantidade de clichês de Os Vingadores, não tem sequer um diálogo ou frase memorável e se perde nos vários protagonistas. Sem contar o tempo de duração excessivamente longo: trata-se de um filme de super-herói, e não um épico; Bruce Wayne não é um Lawrence da Arábia e sua trajetória é bem menos interessante do que a do Tentente T. E. Lawrence - comparação injusta, eu sei, mas foi a primeira que me veio à cabeça.
Enfim, parecia que público e críticos estavam tentando crucificar filmes de super-heróis que simplesmente tiram os dois pés da realidade e trazem de volta o universo fantasioso de um quadrinho/desenho animado; absurdo aos olhos de quem torce o nariz para uma história de ficção e busca um cinema mais palpável e reflexivo. Desculpem-me, mas super-heróis não existem. Se alguém quiser uma película que pretenda aproximar-se ao máximo da realidade, que vá ver um filme de arte europeu ou do cinema independente americano.
A minha conclusão é que há espaço para diferentes encenações e reinvenções de heróis, sem uma precisar anular a outra. Não há nada de errado em imaginá-los num contexto realista próximo ao nosso, assim como não há problemas em deixá-los em seu próprio mundo regado a invasões alienígenas combatidas por sujeitos com super-poderes bizarros que não perdem tempo em formular frases de efeito para momentos inoportunos.
Saldo final? Entre um filme de ação que consegue mostrar bem as relações entre todos os personagens principais, sem apelar para o tédio para se vender como sério, e outro que falha na tentativa de usar o tempo de duração a seu favor, tornando-se inexplicavelmente longo e se perdendo no tempo-espaço do enredo, prefiro deixar a seriedade de lado e aceitar o entretenimento fácil como válvula de escape.
Um comentário:
O filme "Os Vingadores" realmente foi feito para o publico infanto-juvenil por causa dos super-heróis e aquela coisa toda de salvar o mundo, mesmo destruindo a cidade(claro que o hulk estava no meio), mas também tira umas risadas do publico adulto. Enfim, cumpre o seu papel como um filme, however, para os fãs de quadrinhos, talvez não(eles nunca estão satisfeitos!).
Agora o Batman sempre será o tipo de herói "dark" e cômico(considerando os filmes do Tim Burton) e ao mesmo tempo Nolan deu uma perspectiva muito interessante do homem-morcego. Mas vale lembrar que, no começo, era quase ridículo se considerarmos as séries de TV(apesar de serem minhas favoritas)..e pro lado dos Vingadores, lembro da série do Hulk que também é muito boa.
Acho que a adaptação dos quadrinhos para o cinema dificilmente irá trazer o mesmo impacto que os quadrinhos, mas pode promover um bom momento de diversão. Claro que sempre haverá um publico insatisfeito, como, por exemplo, minha visão como um "cara da ciência" muitas coisas são impossíveis e inexplicáveis, mas nesse cáso eu deixo essa parte de mim em casa e vou curtir o filme.
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