A tal garrafa de vinho barato tinha vindo em uma cesta de Natal. "Vinho tinto suave de mesa", descrevia o rótulo. A vontade de beber veio associada à solidão - não o sentimento de solidão, mas o "estar sozinha" naquele momento - e ao desejo de ouvir jazz, que a despertou. Porque cerveja é com rock'n'roll, mas vinho é perfeito embalado por jazz e aquela sonoridade urbana e chuvosa. Coincidentemente, era uma noite chuvosa também.
O aroma pouco convidativo da bebida não despertou o desejo de prová-la, e quando bebeu um pequeno gole, um gosto levemente ácido preencheu a boca. "Ella Fitzgerald, Chet Baker ou Brad Melhdau?", questionou-se, para subitamente responder "Brad Mehldau!".
Sentou-se e bebeu mais um gole, com a consciência de que estava longe de ser o melhor sabor do mundo. Pressionou o play e viajou mentalmente por entre dedilhados de piano. Como gostava de pianos, em seu ritmo delicado, como se o passeio suave dos dedos por entre as teclas não apenas tentassem dizer algo, mas simplesmente expressassem e dissessem. E somado a isso, a bateria e o baixo acústico, tudo combinado de maneira bela e harmoniosa .
Saltando para outro gênero, escolheu o folk progressivo. "Punch Brothers!". O entrosamento entre mandolim, banjo, violão, violino e baixo, marcados pela delicada voz de Chris Thile, serviram de background para um gole e outro. O vinho já havia adquirido paladar mais agradável, com a mistura de sentidos e a leveza de espírito daquela noite. Sozinha, sim. Solitária, jamais.
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