quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Ópio

"A religião é o ópio do povo", já dizia o filósofo alemão. Mas o meu é outro. Poderia dizer que sonhar acordada funciona como um ópio eficiente, porém é o que me desconecta do mundo que considero uma anestesia. Sonhar acordada é o efeito.
Assuntos para encarregar a cabeça de pensar enquanto fujo de outros temas. Literatura já foi meu ópio, mas atualmente ler é parte do ganha-pão diário. Os olhos cansados embaralhando as letras impressas enquanto sigo da casa-metrô e do metrô-casa. Aponto para outra distração para a fadiga - a música saindo do fone e adentrando minha mente vazia. Identifico-me com palavras e melodias. Repito-as mentalmente, até crescerem dentro de mim e adquirirem valor maior do que minhas expectativas.
Na frente da tela, busco histórias mais interessantes do que a minha. Ficções que amortecem meus receios. Maneiras de reinar em um lado obscuro da vida. Visões esclarecedoras de um mundo - não o meu, o deles. Uma realidade alternativa que me envolve em outro plano - não superior, pelo contrário.
Pessoas já foram meu ópio, com presença confortadora e resposta imediata. Já não são. O que busco é o conforto de estar sozinha, sem porquês, explicações, satisfações, histórias e justificativas. É um hábito com o qual simplesmente me acostumei. Porque estar só não exige esforço. Eu posso ser eu mesma. Minhas ideias fluem melhor. Basta um pouco de ópio para aguentar até o fim do dia.
É o sentimento egoísta se expressando em maior tom. A metrópole me engole lentamente e tudo que me preocupa é "o ópio da vez". Enquanto estão todos com suas vidas feitas, cá estou, absorvendo em doses diárias a droga que produzem. 
Consciente do poço no qual adentro, vejo uma luz acima, mas fujo e consumo meu ópio. Distraio-me por alguns instantes, posso até dizer que me alegro. Exalto. Escrevo. Compartilho um pouco do vício. Sonho. Imagino. Aceno para cima. Mas não subo.

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