"A religião é o ópio do povo", já dizia o filósofo alemão. Mas o meu é outro. Poderia dizer que sonhar acordada funciona como um ópio eficiente, porém é o que me desconecta do mundo que considero uma anestesia. Sonhar acordada é o efeito.
Assuntos para encarregar a cabeça de pensar enquanto fujo de outros temas. Literatura já foi meu ópio, mas atualmente ler é parte do ganha-pão diário. Os olhos cansados embaralhando as letras impressas enquanto sigo da casa-metrô e do metrô-casa. Aponto para outra distração para a fadiga - a música saindo do fone e adentrando minha mente vazia. Identifico-me com palavras e melodias. Repito-as mentalmente, até crescerem dentro de mim e adquirirem valor maior do que minhas expectativas.
Na frente da tela, busco histórias mais interessantes do que a minha. Ficções que amortecem meus receios. Maneiras de reinar em um lado obscuro da vida. Visões esclarecedoras de um mundo - não o meu, o deles. Uma realidade alternativa que me envolve em outro plano - não superior, pelo contrário.
Pessoas já foram meu ópio, com presença confortadora e resposta imediata. Já não são. O que busco é o conforto de estar sozinha, sem porquês, explicações, satisfações, histórias e justificativas. É um hábito com o qual simplesmente me acostumei. Porque estar só não exige esforço. Eu posso ser eu mesma. Minhas ideias fluem melhor. Basta um pouco de ópio para aguentar até o fim do dia.
É o sentimento egoísta se expressando em maior tom. A metrópole me engole lentamente e tudo que me preocupa é "o ópio da vez". Enquanto estão todos com suas vidas feitas, cá estou, absorvendo em doses diárias a droga que produzem.
Consciente do poço no qual adentro, vejo uma luz acima, mas fujo e consumo meu ópio. Distraio-me por alguns instantes, posso até dizer que me alegro. Exalto. Escrevo. Compartilho um pouco do vício. Sonho. Imagino. Aceno para cima. Mas não subo.
Consciente do poço no qual adentro, vejo uma luz acima, mas fujo e consumo meu ópio. Distraio-me por alguns instantes, posso até dizer que me alegro. Exalto. Escrevo. Compartilho um pouco do vício. Sonho. Imagino. Aceno para cima. Mas não subo.
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