Fechou os olhos e contou até dez. Quando abriu, viu uma pequena caixa sobre a mesa. Passou os dedos sobre a tampa e sentiu a textura macia do tecido vermelho. Era leve e estava envolta por uma fita de cetim rosa-bebê. Enquanto analisava a caixa, ele a observava com o olhar ansioso, tentando disfarçar a apreensão com um gole de vinho. Com um sorriso nos lábios, olhou para ele e começou a puxar o laço delicadamente, como se desfazê-lo fizesse parte de um cerimonial.
Quando a tampa da caixa estava desimpedida, levantou-a. Demorou alguns segundos para olhar dentro. Retirou outra caixinha e teve dificuldade para abri-la. Assim que ele ofereceu ajuda... clique. Sentiu o coração bater aceleradamente, suspirou e olhou novamente para ele. Finalmente, retirou uma corrente prateada com um camafeu. Nele, identificou seu perfil: os cabelos ondulados, o queixo reto, os lábios grossos. A imagem parecia uma releitura clássica de si mesma.
Surpresa, tentou agradecer, mas algo a impedia de dizer. Os olhos marejaram, mas nenhuma lágrima escapou. Destravou o fecho e pediu que ele colocasse em seu pescoço. Aproximou-se e a ajudou com o colar. Tocou no camafeu e olhou para ela, admirando ambos.
A cada encontro, o camafeu estampava-lhe o colo. Ela nunca agradeceu pelo presente. Ele nunca perguntou se havia gostado. Conforme a convivência se tornou diária, o acessório era constante. Passaram-se décadas e, todos os dias, ele notava como o camafeu permanecia um retrato fiel.
Em uma quinta-feira nublada, bateram à porta de casa. Interrompida pela visita, fechou o livro e levantou-se do sofá. Ao atender, ouviu a notícia de que ele havia passado mal subitamente, sendo levado ao hospital. Era o coração, provavelmente. Um tremor agitou-lhe as mãos, enquanto a vista escurecia lentamente. Ao recuperar o fôlego, pediu que fosse levada imediatamente até ele.
Ao vê-lo na cama, sentiu que aquele seria o último encontro. Aproximou-se silenciosamente e chamou pelo seu nome. Quando ele abriu os olhos, viu o camafeu sobre o colo e os dedos alisando-o levemente.
- Adorei o camafeu que me deu.
- Eu sempre soube.
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