Às vezes, não é preciso haver fatos: são os próprios pensamentos que puxam o corpo para baixo, como se fosse uma âncora que insiste em ser usada nos momentos inoportunos. Contra eles, não há remediação. Afinal, como é possível parar de pensar?
É a nossa própria mente que nos prega peças. Imprevisível, ela faz surgir ideias nos momentos errados e, quando menos esperamos, lá está ela, mais forte do que os fatos. Uma mente criativa encontra obstáculos para controlar os pensamentos. Eles simplesmente fluem e criam histórias - ou recriam fatos - que buscam vida própria dentro da cabeça.
É preciso separar lembranças de ideias, o que nem sempre é fácil. É preciso desligar-se de vez em quando, para fazer os pensamentos cessarem. Essa missão pode ser diária ou esporádica - e ela pode cansar mais do que os próprios pensamentos.
Não sei se é uma coisa de gênios, que precisam estar constantemente se reciclando, registrando, produzindo, criando. Uns pintam, outros compõem. Alguns filmam, outros escrevem. Eu já escrevi até cansar, pois, embora meus pensamentos me cansassem, era um tipo de cansaço que só terminava quando os colocava em ordem, embora essa ordem pudesse parecer ilógica à razão de algumas pessoas.
O mais difícil é que, muitas vezes, os pensamentos surgem na tentativa de mudar algo que já aconteceu. Geralmente, esses são os mais difíceis de lidar. Por isso, fazer terapia exige esforço. Você é a mesma pessoa em um ano de sessões, mas não exatamente. Você se questiona mais por suas próprias atitudes destrutivas ou autodestrutivas.
Há algumas semanas, relatei o episódio pelo qual passei, em um ônibus. Eu simplesmente deixei que a âncora dos pensamentos negativos puxasse meu corpo para baixo, ainda que estivesse em um local público, sem temer que as lágrimas chamassem a atenção de outros. Eu não chorei por mim, mas por uma situação na qual não estava diretamente envolvida, mas tomei a dor para mim.
Mesmo com os conselhos de amigos, permaneci imersa naquela sensação negativa: negando esperanças e soluções; antecipando o pior, que não aconteceu. Ainda que eu apoie e dê conselhos que contradigam a maneira como ajo comigo mesma - sempre fui mais rígida comigo e com meus pensamentos -, não acho justo levar a aspereza com que muitas vezes me trato para fora de mim.
Enfim, este texto é mais um fluxo de pensamentos, que filtro para expulsar a energia que me puxa novamente para baixo. É a maneira que encontrei para me mostrar que, sim, preciso me aceitar como sou, mas nem sempre eu sou a melhor pessoa para mim mesma.
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