O cinema independente chega em peso a São Paulo com o Indie 2009, trazendo filmes que dificilmente poderão ser vistos em outra ocasião. Algumas peculiaridades dessa vertente são notadas de forma clara em muitas películas, como a presença de uma família com problemas psicológicos e de pelo menos uma personagem depressiva. Essa característica é ressaltada pelo roteiro com poucos diálogos, onde o silêncio das personagens impera e a câmera não tem muito o que fazer a não ser estender a montagem a longos planos que não levam o enredo a lugar algum – apenas esticam o tempo de duração e fornecem ao espectador a mesma sensação de angústia que permeia a vida dos personagens.
O baixo orçamento obriga vários produtores a cortar a verba da trilha sonora, o que muitas vezes realmente não impacta no brilhantismo da obra se ela fizer desse recurso um novo personagem, e não apenas uma forma de aumentar o tédio do espectador. Vale utilizar de efeitos como o som ambiente, mas para isso um bom sonoplasta é indispensável. Ou seja: tudo depende da boa vontade do produtor e da criatividade do diretor. Existe, ainda, os moderninhos e samaritanos que decidem convidar a banda independente do primo para emprestar algumas canções. Assim, não gastam com direitos autorais e ainda impulsionam a carreira dos amigos.
Se o filme quiser, acima de tudo, ser uma obra audiovisual descolada, é importante trazer cenas de sexo "cruas": nada de montagens sugestivas, câmera focando apenas nos rostos dos amantes ou fotografia escura para “esconder” algum detalhe anatômico. Afinal, o fade out é coisa de cinema conservador da época em que Hollywood baseava suas películas na lei dos bons costumes.
Algumas obras apelam para o humor. Mas não espere nada físico: são “grandes sacadas” cheias de ironia, sarcasmo e humor negro. Não são compreendidas por qualquer um – o que leva a imaginar o quanto um selo de piada cult faz falta em momentos assim.
Se a locação de filmagens for um lugar onde o inverno seja rigoroso, as melhores épocas para produção são o outono ou o inverno. Talvez porque os equipamentos sejam de terceira e o frio funcione como uma forma natural e barata para mantê-los resfriados e momentaneamente livres de riscos de curto ou explosão. Além do mais, o frio sempre aumenta a sensação de depressão, ainda mais se a história se passar em uma cidadezinha industrial em decadência. Aliás, alguém já viu um filme independente filmado em uma praia em pleno verão, com o mar azul em ondas convidativas?
Sobre os equipamentos, as steadicams são luxo para essas produções. O negócio aqui é “uma camera na mão e muitas ideias na cabeça”, não importando se quem segura o equipamente tem cordenação motora ou know-how para controlar foco e zoom de forma que o espectador não seja acometido por ataques de enjoo ou dores de cabeça. Afinal, se os personagens enxergam suas próprias vidas como um barquinho em alto-mar durante uma tempestade, nada mais realista do que o espectador se sentir da mesma forma.
Sobre a autora: considera o independente A garota ideal (Lars and the real girl) o melhor filme lançado no Brasil em 2009, até o momento. No entanto, quase passou mal com as imagens trêmulas e desfocadas nos minutos iniciais do japonês Shara, exibido no Indie 2009.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
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2 comentários:
Eu acho que a linha que separa o bom cinema do amadorismo escroto nessa seara é muito tênue.
Muito bom!
E Lars and the real girl é um dos melhores independentes ever.
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