segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Sr. e Sra. Miller

O entrevistado seria Arthur Miller, dramaturgo norte-americano. O brasileiro, que estava nos Estados Unidos para aprender como os programas de televisão eram feitos e levar o know how ao Brasil, aproveitou a estadia para conhecer personalidades que admirava – e conseguir alguns tostões com as entrevistas que venderia à Folha.
O jornalista-nas-horas-vagas bateu à porta da residência nova-iorquina e foi atendido pela esposa do Sr. Miller, uma loira baixa, descalça e sorridente, sem o glamour que exibia nas telas – os cabelos esvoaçantes e a maquiagem cinematográfica. Estupefato, apresentou-se e foi convidado a entrar.
Arthur Miller o recebeu e foram conversar em uma sala mais reservada. Logo no início, Sra. Miller interrompeu, avisando o marido de um compromisso importante que ele teria mais tarde, mas a entrevista duraria cerca de 40 minutos e não acarretaria em atraso, comentou o entrevistador. Naquela época, Miller era um dos investigados da famosa caçada às bruxas, quando o governo norte-americano perseguia e espionava supostos comunistas e simpatizantes.
Ao final da entrevista, o jornalista foi conduzido ao hall de entrada, onde aguardava pelo Sr. Miller, até a esposa do dramaturgo aparecer e ele se sentir na obrigação de trocar algumas palavras com a bela mulher.
- Gostei muito de seus filmes. Mesmo nos papéis menores, sua presença se destaca nas telas. All about Eve, The seven year itch
A jovem agradeceu e comentou o último projeto, no qual atuou e produziu, e que não resultou em um bom filme. Em seguida, revelou o passo seguinte de sua carreira.
- O meu próximo trabalho será escrito e dirigido por Billy Wilder, uma comédia sobre gangsters chamada Some like it hot.
- Some like it hot? Mas o que quer dizer?
- É o estilo de jazz da época, os protagonistas são músicos.
De repente, o Sr. Miller aparece e interrompe a rápida, porém interessante, conversa. O jornalista vai embora e, cinquenta anos depois, relata o nostálgico dia em que conheceu Marilyn Monroe.


Baseado nos relatos de Alberto de Moya.

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