Pagou a entrada e passou pela portinhola aberta por um segurança mal humorado. Era um lugar feio e sem cor, salpicado por pessoas reunidas em pequenos grupos e conversando de maneira pouco animada. Após comprar uma bebida, circulou e resolveu parar e encostar em uma parede bem iluminada. À sua frente, uma moça com olhar distante suspirava enquanto observava um grupo de amigos.
- Oi, você está sozinha por aqui?
Ao ouvir a pergunta, não conseguiu disfarçar o desânimo. "Tudo o que eu queria - uma pergunta clichê vinda de um cara qualquer", pensou.
- Não, não estou. Na verdade vim acompanhada de um grupo de colegas de trabalho - respondeu secamente, olhando para o relógio.
- Ah, é que estou sozinho. Você sabe como é complicado sair sozinho. Porque as pessoas dizem que se você não tem amigos e não conhece ninguém, precisa sair de casa para mudar a situação. Mas aqui estou... sozinho e mais solitário do que se estivesse no meu quarto, ainda que tenha esse monte de gente ao redor.
Instantaneamente, ela se interessou pela conversa. Voltou o rosto para ele e passou a repará-lo. Enquanto o synthpop tocava ao fundo, ele segurava um copo plástico e olhava para os lados de maneira desconfortável. Parecia gostar da música, mas não daquele ambiente acinzentado e sujo.
- Entendo o que está dizendo. Vim com pessoas com quem mal converso. Só estou aqui por boa vontade de me integrar ao grupo. Mas eles parecem ignorar minha presença. Você mesmo perguntou se eu estava sozinha - comentou, em tom de ironia.
- Então, tecnicamente, estamos ambos sozinhos. Numa noite de sexta-feira e num lugar com boa música, mas pouco amigável.
- Você é novo na cidade? - perguntou curiosa.
- Bem... não. Por que?
- Disse que não tem amigos e não conhece ninguém.
- "Ninguém" é modo de falar. Pessoas vêm e vão. Um dia você conhece alguém e conversa animadamente. Depois, chama essa pessoa para dar uma volta com você e escuta que "não anda tendo tempo ultimamente". Acostumei-me.
- E noutro dia, alguém te diz que precisa ser mais sociável no trabalho, daí você sai com as mesmas pessoas que vê o dia inteiro todos os dias e ninguém dá atenção para o que diz. Preferem falar mal das pessoas com quem convivem...
Ele a encarou de maneira terna, como se a compreendesse. Bebeu o último gole e jogou o copo no lixo. Fez alguns movimentos com as mãos, denotando nervosismo, e finalmente olhou nos olhos dela e perguntou:
- Qual o seu nome?
- Ticiane.
- Bom, Ticiane, você quer dançar?
- Dançar? Ninguém mais está dançando...
- O que temos a perder? Nada! E eles? Uma ótima música trocada por conversas agressivas.
Sorriu e pegou em sua mão. Dançaram juntos, de maneira atrapalhada, enquanto as pessoas ao redor lançavam olhares e risos debochados. Ela fechou os olhos e pensou que talvez aquela seria sua noite de sorte - mesmo se nunca mais visse aquele desconhecido que a tirou para dançar.
2 comentários:
Adoro suas crônicas.
Obrigada :-)
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