Eu poderia escrever um post inteiro sobre o show do Black Keys no Lollapalooza Brasil, mas optei por um texto gigante abrangendo o que vi no segundo dia do festival - enfim, minhas costumeiras impressões pessoais. Dia 30 de março era a única data do ano que me fez olhar no calendário e fazer contagem regressiva. Afinal, já tinha comprado o ingresso assim que as vendas abriram e estava em êxtase para ver The Black Keys. Mas assim que a programação saiu, uma decepção: Franz Ferdinand e Alabama Shakes no mesmo horário. Com o tempo, fui montando minha grade para decidir o que assistir, mas eis que no próprio dia acabei remexendo tudo: ficaria apenas no palco Cidade Jardim, para ter uma visão melhor de todos os shows dali, principalmente do Black Keys.
Sem chuva, mas com lama. Sob o sol forte, logo fiquei perto da grade de segurança - a de trás, não do palco - para poder sentar e descansar nas pausas entre as apresentações. Minha pressão estava um pouco baixa, não podia dar uma de "super-mulher", com o risco de passar mal ali. Consegui ganhar alguns copos de água dos seguranças, o que compensou mais ainda.
Começou bem morno, com Toro y Moi, projeto do artista Chazwick Bundick. Musiquinha para ouvir sentado ou em um clube pequeno, calminha. Só para quem gosta mesmo.
Quando terminou, pude escutar Gary Clark Jr. do palco Alternativo. Bateu vontade de ir para lá, mas estava muito calor e eu só queria ficar sentada, já que assim conseguia uma sombrinha também. O show pareceu bom, mas depois li que problemas técnicos atrapalharam o guitarrista e vocalista norte-americano. Uma pena.
O baixista sensacional do TDCC |
Two Door Cinema Club (TDCC) não é uma grande banda, mas faz bem aquilo com o qual se compromete: indie pop dançante. Músicas fofas, melodias para dançar, pular e sorrir e presença simpática no palco fizeram da apresentação dos irlandeses uma ótima maneira de se aquecer para o que viria a seguir. Os rapazes são uma graça, principalmente o baixista Kevin Baird, que estava sem óculos. Um fã mais brincalhão segurava um cartaz escrito "Ron, Harry e Neville", em referência à aparência física do trio principal.
Quando terminou, Alabama Shakes começou a tocar no palco alternativo e meu coração doeu: estava lindo ouvir dali. Como queria arriscar e ver a Brittany Howard cantar com sua banda! Mas fiquei ali, dei mais uma sentadinha, comi outra barra de cereal e batatinha e me preparei para o tumulto a seguir.
O gigante Josh Homme, do QOTSA |
Queens of the Stone Age (ou QOTSA) entraram no palco com pinta de banda principal da noite. E poderia ter sido. É inquestionável que o som pesado do grupo liderado por Josh Homme move massas e obriga a pular. Bem, se eu tivesse mais espaço para isso, teria feito. O problema (pequeno, diga-se) é que não sou familiarizada com a discografia deles E várias pessoas perto de mim, fãs, não pareciam estar empolgados o bastante. Assim, como se movimentar se estão todos lá parados, com o risco de acabar caindo em cima sem querer? Resumindo: foi um show foda, com presença e muita força. Mas, cumprindo aquilo que uma banda desse gênero promete. Ou seja, sem mais nem menos.
Dever cumprido
Após o final de QOTSA, muitas pessoas deixaram o palco Cidade Jardim. Talvez porque não quisessem ver The Black Keys ou preferissem aproveitar o tempo (1h45 para o início da apresentação seguinte) de outra forma. Mantive-me firme, embora o bocejo estivesse tomando conta de mim - e estava sentindo um pouco de cólica. Fui mais para frente, em busca de uma interação maior com o show. Ali estavam fãs fervorosos. O terceiro vocalista ruivo da noite (depois de TDCC e QOTSA), Dan Auerbach, surgiu com o olhar melancólico de sempre, acentuado talvez pelo recente divórcio com o qual está lidando. As olheiras eram as mesmas e a humildade no palco também. Ele e Patrick Carney estavam ali para tocar 20 músicas e fechar a noite de maneira satisfatória. Mas, ao meu ver, foi perfeita. Como já assisti a milhares de vídeos ao vivo, analisando sob a perspectiva imparcial, a apresentação foi objetiva e coube dentro do que o duo e a banda de apoio vêm fazendo.
Não é música pesada e ensurdecedora, é algo que às vezes beira o transcendental. Embora o som pudesse estar melhor, foi possível constatar porque Dan é um os melhores vocalistas do momento: é possível enxergar sua alma em canções como Little Black Submarines, Everlasting Light e Nova Baby. Quando fecha os olhos e se concentra, a voz flui; faz movimentos e gestos com as mãos, tendo autocontrole com o dom vocal. Afinal, não reproduz simplesmente aquilo que escutamos nos álbuns, mas se rende ao público
Pat e Dan em uma apresentação marcante |
Não foi uma apresentação de arena. Não foi porrada atrás da outra. Eu não sabia cantar todas as músicas, embora conhecesse e soubesse os nomes de todas. Mas vê-los ali, de perto, foi inesquecível. Dan abatido, surpreendendo-se com o público brasileiro, dando um sorriso aqui e outro ali. Foi melancólico, sob certo aspecto, mas belo e doce. São os mesmos caras das entrevistas que leio. Gente comum, colegas que formaram uma dupla e tocaram durante anos até dar certo. Li muitas críticas sobre o show, dizendo que foi apagado em comparação com QOTSA. Não cabe a uma fã como eu exacerbar revolta ou discordância, mas sob meu ponto de vista, foi algo lindo de ver, ouvir, acompanhar e sentir. Foram histórias pessoais intercaladas com músicas. Para mim, textos que contenham frases como "apenas banda do momento", "show apagado" e "não merecia ser headliner" são apenas pontos de vista de críticos especializados em música, que têm como trabalho analisar objetivamente, superficialmente e até friamente, tal qual aprenderam na faculdade. A diferença de um "show de verdade" com qualquer outro está no que ele significa para você. Neste caso, o maior valor do show foi ter sido emocionalmente envolvente.
Emoção à flor da pele com Little Black Submarines
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