domingo, 28 de abril de 2013

Relendo a si mesma

Nas últimas semanas, dediquei-me à releitura de eu mesma. Não sei explicar, mas determinados acontecimentos remeteram a antigos textos e algo me inclinou a procurá-los e relê-los. Começou assim, até que abri a página de edição para visualizar tudo o que postei. Sem reler todos os textos, obviamente, mas mereceram a releitura aqueles que chamaram a atenção pelo título. Redescobri Katherine Mansfield, citada com um conto sobre uma definição particular de "apaixonar-se" - a qual, aliás, compartilho.
E assim foi. Posts tristes e melancólicos guardam uma beleza particular, seja do momento em que foram escritos ou da própria construção e escolha de palavras, desdobrando-se elegantemente. Vez ou outra, a citação de uma canção desperta os sentidos, recordando-me do que realmente sinto quando a escuto. 
Em alguns momentos, a data do texto me ajuda a relembrar a ocasião. Alguns posts "livres" - daqueles em que relato algo pessoal - podem ser injustos ao serem lidos hoje, mas no momento pareciam corretos e precisos. Vez ou outra, minha imaginação era mais forte e descambava num delírio literário.
Algumas surpresas, como assuntos particulares abordados sutilmente, arrancam sorriso. Imagino se a sutileza foi corretamente interpretada por algum leitor. Mas, melhor não saber.
Acima de tudo, percebo como em determinadas ocasiões recorri à blogterapia. Eficaz até certo ponto, relendo os textos eu consigo me compreender melhor: exagerada, dramática, delicada e receosa. 
Aliás, o medo se faz presente em muitas abordagens. Medo (d)e decepção, juntinhos. Referências a olhares e sorrisos são quase clichês, mas falar de pele merece o troféu. Não que seja obcecada por pele, mas costumo referir-me a ela como um escudo à prova de sentimentos. E isso em inúmeras ocasiões, como se a pele estivesse envolta em uma armadura e me protegesse das decepções.
Em determinados períodos, simplesmente não conseguia escrever um texto que prestasse, envolta em uma preguiça diária e abandonada pela inspiração. Em outros, conseguia voltar àquele exato momento narrado, sentindo a mesma sensação narrada. Este seria um ótimo exemplo disso.
Lembranças são revividas quando me deparo com algumas narrativas randômicas. Minhas favoritas são sobre shows. A felicidade aflorando quando vi The Swell Season. As lágrimas derramadas quando o Muse tocou Starlight. O êxtase de ter o Black Keys na minha frente, como se tocasse só para mim.
Memórias adquirem uma visão unidimensional, como uma interpretação única de um momento. Toda a razão é minha - é o meu ponto de vista que importa. E esta história me faz rir e voltar no tempo.
Sem objetividade, orgulho-me por ter registrado tantas crônicas, reais ou totalmente fictícias. Algumas histórias exalam pretensão, outras são pequenas e charmosas. Há ainda aquelas que tenho vergonha de ter publicado. Mas todas, sem exceção, são como minhas filhas - minhas criações. E reencontrá-las mostra que, desde o início deste blog, tenho meus altos e baixos, não somente em frente ao teclado, como também na minha maneira particular de enxergar os fatos da vida. Assim... exagerada, dramática, delicada e receosa. E um tanto apaixonada e detalhista.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Da série...

...Quero pegar no colo e não soltar mais


Aidan Turner

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Inesperado

Tudo o que queria era poder tirar-lhe a máscara, descobrir sua face do véu invisível que ocultava quem realmente era. E assim fez, por acaso, durante uma visita cordial. Na sala de jantar, o marido contava uma piada e arrancava gargalhadas dos convidados. Sem poder demonstrar o quanto patético considerava aquela piada racista, riu junto, abrindo um enorme sorriso. Como era bela quando sorria! Admirou-lhe discretamente, pois não queria que soubessem de sua paixão secreta pela mulher casada. 
Pensava que vivia feliz ao lado do jovem marido, mas no seu íntimo, sentia que ela sabia guardar segredos difíceis como a solidão e o desconforto. Quando ela se levantou, ainda rindo, e seguiu rumo a cozinha, com duas travessas nas mãos, ele a seguiu, segurando um pequeno frasco, para ajudá-la a desfazer a mesa. Sem perceber os olhos do admirador, parou de rir assim que adentrou a cozinha. Colocou as travesas em cima da pia e lançou um olhar cansado para o relógio na parede. Com receio de ser descoberto, escondeu-se atrás de um armário antigo e continuou a estudá-la silenciosamente. Ela se abaixou, abriu a porta do gabinete da pia e retirou uma garrafa sem rótulo com um líquido âmbar. Despejou a bebida friamente num copo e bebeu, como se fosse água. 
Enquanto os risos aumentavam na sala, seus olhos deixavam escapar lágrimas, que escorriam e desbotavam a maquiagem. Ao ver aquilo, ele não conseguiu se conter e aproximou-se retirando um lenço branco do bolso. Embora tivesse assustado com sua presença naquele momento, ela simplesmente sorriu. Deixou que lhe enxugasse a lágrima e sussurrou um pedido de desculpas pelas piadas de mal gosto do marido. Ele sorriu de volta e lhe deu um beijo, sentindo o gosto da bebida. Surpresa, tentou disfarçar como se nada tivesse acontecido e respondeu que já estava indo quando chamaram-lhe para ouvir a piada hilária que havia perdido. Após fitar o chão de maneira confusa, seguiu-a, para despedir-se de todos, agradecer pelo convite e pegar o paletó. Nunca mais voltaria a ver o casal de amigos, mas sentia-se satisfeito por vê-la como realmente era. E por beijá-la e ser correspondido.

domingo, 21 de abril de 2013

Desafio musical - parte 50

246) Uma música de um artista solo que saiu de uma banda que você gosta: Noel Gallagher, Everybody's on the run
Meio óbvio que seria o Noel Gallagher...

 


247) Uma música de um artista que não trabalha mais com música: REM, Man on the Moon
Bem, o baterista Bill Bery se aposentou da música. Os outros integrantes do REM, não sei o que fizeram depois da separação do grupo, vários anos depois.



248) Uma música de um artista que, na sua opinião, "fala demais" sobre o que não entende: Caetano Veloso, Você É linda
O culpa nem é toda dele, mas da mídia que vai procurá-lo para opinar sobre qualquer assunto - como se tudo o que ele dissesse fosse relevante.




249) Uma música de um artista que tenha exposto seu órgão sexual em algum momento: The Doors, Pepople Are Strange
Ouvi uma história de que o Jim Morrisson fez isso em show, mas não sei se é verdade - mesmo porque nem gosto o suficiente da banda para querer saber.




250) Um item que ainda não tenha aparecido no desafio: Uma música para cozinhar: Cole Porter, It's De-Lovely
Para animar o momento e a comida ficar especial.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O último/ a última...

... filme (re)visto: Jane Eyre
... episódio de série visto: The Mindy Project – Mindy’s Brother (S01E10)
... música escutada: Tom Petty and The Heartbreakers, Don't Do Me Like That 
... álbum escutado: The Strokes, Room On Fire
... momento "groupie extasiada": show do Black Keys no Lollapalooza S2 
... mudança de casa: há exatamente uma semana
... ataque de gulodice: milkshake e veggie burger do Fifties
... ataque de pânico: ficar quase uma semana sem internet
... comprinha de mulher: saia e camisete
... itens para a lista de compras: bota, mochila e porta-chaves

domingo, 7 de abril de 2013

Depressão pós-show

O sorriso demorou a desaparecer do rosto. Mesmo deitada sobre o travesseiro, com os olhos fechados e quase pegando no sono, lá estava ele, de canto a canto. A canção ecoava na cabeça e alguns detalhes remanescentes cintilavam na lembrança. Aqueles pálidos olhos azuis perpassavam a todo momento na memória, assim como o gesto com o qual se expressava enquanto cantava. 
A todo momento, queria voltar a ouvir aquela voz. Encantadora e sensual, mexia com os sentidos e os sentimentos. Um tipo de excitação brotou e algumas fantasias tomaram forma no exato momento em que presenciou. E não conteve o berro espontâneo de "Dan, take me home", que permanecia como uma anedota divertida. 
Pequenas histórias que, coladas, formavam um mosaico do que aquele show representou. Mas, aos poucos, uma melancolia tomava forma e a abatia. Esperou tantos meses por aquilo e, finalmente, tinha acontecido. O que viria a seguir? O que esperar? Deu-se conta de que era uma pessoa adulta e que sua vida seguiria naquela mesma e velha rotina. Algo que, naquele instante, soou cruel e insuportável. Nada de Wendy na Terra do Nunca: havia crescido e envelhecido em poucos segundos. 
As dores do dia anterior, que em vão procurava ocultar, subiam das pontas dos pés ao topo da cabeça. Trêmulos, pernas e pescoço concentravam pontos latejantes, que vez ou outra pareciam torcer os músculos. Não se importaria em voltar no tempo e espaço, pulando enquanto os pés afundavam na lama e cantando com uma voz que jamais imaginou conseguir entoar. Era como se algo mágico saísse daqueles amplificadores e a transformasse.
Enquanto os delírios daquele passado próximo insistiam em elevar-se à décima potência, a realidade se aproximava lentamente, explodindo em câmera lenta na sua face. Nos dias que se seguiram, agiu de maneira apática. 
Ao mesmo tempo que queria falar sobre o que havia presenciado naquela noite de sábado, sabia que ninguém a compreenderia e nada do que dissesse traduziria o que viu, ouviu e sentiu. Não revelaria que naquela noite voltou a ter 17 anos, sendo a mesma sonhadora de outrora, que enxergava a beleza na simplicidade de uma canção. 
Embora obsessão e fanatismo fossem termos que pudessem ser usados para julgá-la, encantamento e melancolia seriam as palavras corretas para defini-la, enquanto lançava um olhar distante remetendo à pequena figura de pálidos olhos azuis contornados por olheiras, emoldurados pelos desgrenhados fios de cabelo ruivo e pela barba avermelhada. E a voz excitante conjugando tudo aquilo.

sábado, 6 de abril de 2013

Eu sei o quê

Não sabia o quê. Mas neste momento eu sei. Diferentes, mas iguais. Ou iguais, mas diferentes? Dói ao inspirar o ar, a cabeça lateja e a boca seca não cura nem com água. Os olhos caídos, o olhar distante e aquela lágrima que brota e demora a cair. Os pensamentos vazios se voltam a apenas uma coisa. As expectativas ocultas reagem para subir, e eu me esforço para mantê-las ali, debaixo da pele.
"Ella e nós" foi pensando em você. Sei que está longe de ser uma obra-prima, mas tenho orgulho. Uma história que nasceu na minha cabeça enquanto dançava solitariamente pela sala. Não admiti muitas coisas. Nunca falei sobre esse texto. Talvez fosse receio. Ou timidez. Ou os dois. 
Chegou a um ponto que você não esperava mais nada. E não esperar nada de alguém não impulsiona a seguir em frente, mas a parar, refletir e desistir. Diante de uma versão feminina de Mr. Darcy: indiferente e com um escudo costurado sobre a pele. O sentimento de importância, os pensamentos recorrentes... estavam todos ali, embora não parecesse. E quando finalmente se diz algo, é tarde demais. Não tem relevância, foi tudo jogado num canto.
Construí histórias na minha cabeça. Queria que fossem reais, que um dia se desdobrassem. Escondi o que sentia, puxei a corda com força quando algo estava prestes a se soltar. Não sabia o que você queria ao certo, e por isso não admiti o que eu desejava. E foi assim... ladeira abaixo para nunca mais subir de novo.
Mas, "nunca mais" é muito tempo. Bem sabemos que 2007 faz bastante tempo, mas não impediu que uma volta se esboçasse timidamente - para logo ser apagada em seguida. 
Não espero que esteja lendo nem que venha a ler. Se um dia vier parar aqui, compreenda que esta foi a melhor maneira que escolhi para me expressar - como sempre, guardada em algum lugar, para ser encontrada.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Eu queria ser Emma Woodhouse...

... Mas ainda quero? Um dos meus posts mais clássicos (datado de agosto de 2008) surgiu pouco tempo depois de uma pessoa que considerava muito dizer, na maior franqueza, "não gosto tanto de você quanto gosta de mim". Doeu. E ele nunca mais me procurou e deixou tudo como antes, como se nunca tivéssemos nos conhecido.
Na mesma época, lia Emma, de Jane Austen. Coincidentemente, Orgulho e Preconceito, da mesma autora, marcou outro momento de decepção amorosa em minha vida, e Elizabeth Bennet foi transformada em heroína.
Não sei exatamente qual momento atravesso. Só sei que fui repreendida com certa razão. Acomodei-me a agir de determinada maneira, seja com quem fosse. Mas eu não coloco um peso sobre minha cabeça de que sou a única culpada - tão pouco me faço de vítima.
De repente, sou a "Nova Baby" da música do Black Keys. "All this love of mine/ All my precious time/ You waste it 'cause you/ Don't know what you want". Cantei aos berros, quando me dei conta de que talvez fosse um pouco sobre mim - não sei o que quero.
Talvez idealize demais as situações e me esconda quando preciso tomar alguma atitude. Porque de tanto idealizar, chorei em meu travesseiro ao notar que a realidade é sempre mais aquém daquilo que construí mentalmente. 
Ou ainda, sou a "Romanticazinha", esperando que tudo siga um script determinado e tenha um final feliz. Mas esse script... eu sou a co-autora. Eu determino a minha parte, construo minha personagem, escrevo suas falas e determino suas atitudes. Só não controlo os outros, fazendo com que seja imprevisível e o final aproxime-se tanto de uma comédia quanto de um drama - só espero que suspense e terror passem longe.

Então, respondendo à pergunta: Ainda quero ser Emma Woodhouse? Penso que ela seja a personagem literária que mais se aproxime de quem sou. Não uma lady, mas alguém que com uma certa petulância quase incorrigível à espera de um Mr. Knightley que educadamente me faça enxergar que o mundo não gira apenas em torno de meus desejos escusos.