Aquela sensação de sentir o peito sendo rasgado enquanto a cabeça repousa sobre o travesseiro e o corpo apresenta os sinais de cansaço noturno. As lembranças que custaram a se dissipar de repente retornam como uma bomba.
É só ele reaparecer que eu fico mal. Eu até me culpo daquilo que não tenho obrigação nenhuma de fazer. Eu me diminuo, recordo situações que me fizeram muito mal - aqueles acontecimentos que ganham dimensão com o tempo, como se na época eu fosse uma mocinha que não entendia tão bem como as coisas deveriam ser.
Uma vez que ele ressurge, levo alguns dias para me recuperar. Às vezes, tenho medo de que outra pessoa me faça sentir assim, mas ao mesmo tempo tenho consciência de que sou mais sábia hoje, de que raciocino melhor e de que tenho uma voz que, se não for ouvida, tão pouco será abafada.
Há muito mais que eu gostaria de dizer, mas me calo para me distanciar. E espero que a distância seja recíproca, pois cada vez mais eu percebo o quanto é melhor me afastar. Porque eu não estou sozinha e não me sinto solitária - ao contrário de quando eu me sentia assim mesmo ao lado dele.
E é impressionante também como os outros notam como ele me faz sentir quando se aproxima. Eu mesma não consigo disfarçar a apatia que toma conta de mim e a mágoa que me arranca lágrimas no meio do dia ou da noite. O meu sofrimento só eu sinto. Por isso, eu tenho que me preocupar com ele, pois é o que me derruba às vezes e me faz sentir culpa por não ter reagido antes.
Aqui, na noite silenciosa, eu não o procuro mais para desabafar. Não o faço recordar as atitudes erradas. Não conto como ainda me sinto por determinada coisa que me disse. Não quero tornar sua vida mais complicada do que já deve ser. Mas também não quero que complique a minha. E não quero mais precisar me expressar em palavras neste meio todas as vezes em que reaparecer. Só quero dormir sem ter que secar as lágrimas que escorrem lentamente em meu rosto triste e cansado.
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