quarta-feira, 8 de maio de 2013

Rendição

- Eu te odeio.
A discussão se estendia por quinze minutos, com ataques mútuos, mas sempre a voz dela se sobressaindo, em tom alto, porém sem ser agudo. Ele retrucava, mas a tranquilidade de sua voz e o tom quase professoral da pronúncia das palavras a irritavam ainda mais.
- Você não me odeia. Sei que não me odeia. Não há motivos para me odiar. Nossas discussões sempre começam por alguma crise de ciúmes sem justificativa e...
- Ah, que droga! Você quer ser sempre o dono da razão! Não dá mais, chegou a um ponto que não te suporto! Chego a te odiar com esse jeito pedante!
Ele abaixou a cabeça e sorriu discretamente. Sabia muito bem o que fazer. "É hora de domar a fera...", pensou consigo mesmo, sabendo que o ciúme sem propósito - e a discussão que se seguia - chegaria ao fim em alguns instantes.
- ... e aquela sua amiga exibida, que vive rindo de tudo que você fala, para me provocar... - e parou de falar abruptamente.
Os olhos arregalados foram se fechando lentamente, enquanto um suspiro audível escapava-lhe dos lábios. A pequena e leve mordida no lóbulo da orelha a fazia derreter. O beijo no pescoço causava-lhe arrepios. A raiva foi se dissipando e ela se rendia à armadilha, sabendo se tratar de um velho truque do qual jamais conseguia escapar. 
- Você quer continuar brigando por uma coisa estúpida? - perguntou ele, com a voz serena enquanto tocava delicadamente seu ombro.
Qual parte do "eu te odeio" não conseguiu entender? - sussurrou, enquanto deixava que ele a levasse mais uma vez.

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