domingo, 28 de dezembro de 2008

Pós-Natal, Pré-Réveillon

Informe publicitário sem a menor importância

Uma dose de Johnnie Walker Red Label é o suficiente para a Garota no hall rir sozinha em frente ao computador. O ano não passa pela minha cabeça como aquelas retrospectivas de quem se lamenta por ter feito menos do que desejaria. O que eu queria para 2008? Ter pique para planejar 2009. E isso eu fiz o bastante: planejei, ainda no começo desse ano do qual me despeço, o ano vindouro. Minhas próximas férias merecem ser inesquecíveis - mas, mesmo assim, serão inferiores às férias subsequentes. (Adeus tremas! Hífens, espero finalmente aprender a usá-los!)
As férias coletivas (caramba, já repeti a palavra férias três vezes... é o whisky) da editora me pegaram de surpresa, embora eu já soubesse há quase dois meses antes que seria submetida a elas. Instantaneamente, a notícia me desagradou, mas depois constatei que estava mesmo precisando de um período de descanso. E dá-lhe overdose de House e de Psych.
Além de ter mais tempo para me dedicar aos eletrodomésticos mais interessantes da casa (a televisão, o aparelho de DVD e o computador), aproveitei para passear com um amigo pelo centro de São Paulo, devidamente fotografado. A chuva apareceu para estragar o passeio, embora tenha sido uma oportunidade para conhecer o bar Salve Jorge, na Sé.
Natal (pulo essa parte).
Pós-Natal: Uma balada com alguns mocinhos lindinhos "sensualizando" (a Menina Enciclopédia vai entender). Um colega recém-chegado da Irlanda organizou o encontro. O comentário engraçado foi do irmão dele, com quem eu conversei várias vezes via MSN. Ele pensou que eu fosse mais séria e madura do que realmente sou ("você escreve tudo certinho, com ponto no final").
Pré-Réveillon: Finalmente vou descansar de São Paulo por alguns dias. Quero voltar com mais pique do que o normal - nem que para isso tenha que recorrer ao amigo Johnnie.

domingo, 21 de dezembro de 2008

O esquisito

Psycho killer, qu'est-ce que c'est

Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Fa Better

Run Run Run Run Run Run awaaaaaaaaay

Psycho killer, qu'est-ce que c'est
(Psycho Killer – Talking Heads)

Ele era o cara mais estranho da classe. Não julgo as pessoas, mas se ajo dessa maneira agora é porque senti na pele as esquisitices do sujeito. Acalme-se, não senti tanto assim. É apenas modo de expressar.
Pré, primário, ginásio, colegial, faculdade... na primeira semana, todos são amigos, até cada um conhecer melhor o colega de classe, implicar, fazer fofocas, inventar piada grosseira e outras atitudes engraçadas somente para quem está fora da situação. Com ele não poderia ser diferente, ainda que os estudantes do curso se julgassem bastante adultos por ter habilitação para dirigir e autonomia para se embriagar. Certamente ele dava motivos, inventando histórias absurdas, levando sarcasmos a sério e fazendo de tudo para aparecer.
Se o que queria era popularidade, conseguiu – para o bem ou para o mal. Uns se referiam a ele como Sloth ou até mesmo Chocolate (referências claras a Goonies). Eu o chamava de Você-Sabe-Quem. Mas antes de ter essa aversão, era uma colega comum: Cumprimentava quando o via, me despedia quando ia embora, conversava. Até ser uma vitima de suas cartinhas de amor. Sim, recebi pequenas cartas, que logo se transformaram em uma certa obsessão. Não fui a única, e acredito que apenas umas cinco alunas da sala não tenham sido a mulher mais adorada de todos os tempos da última semana.
Mas o comportamento de Vold... Você-Sabe-Quem começou a assustar algumas pessoas. Dois de seus assuntos preferidos eram satanismo e Aleister Crowley. As camisetas pretas se tornaram usuais, assim como as correntes pesadas com símbolos que desconheço, mas diziam ser de ocultismo. Logo, um grupo de pessoas discutia o que deveria fazer caso ele entrasse na sala de aula armado como um atirador de Columbine.
Felizmente, ele não fez isso. Esqueceu suas paixões platônicas, mas continuou motivo de piadas, até ser obrigado a abandonar a faculdade por conta das disciplinas pendentes.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Da série...

...Beleza feminina que me inspira
Amanda Peet

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Sobre as crônicas cinematográficas

Inspiradas em cenas de filmes, as crônicas cinematográficas são escritas de forma a manter a essência do que representaram para mim, mas com novos significado e conclusão. Resumindo: são uma releitura das cenas. Abaixo, os títulos das crônicas e os filmes que deram origem a cada uma delas:

Platão e o equilibristaA estrada da vida (La strada), de Federico Fellini
Pequena surpresaTerra de sonhos (In America), de Jim Sheridan
O homem atrasadoBrazil, de Terry Gilliam; Mais estranho que a ficção (Stranger than fiction), de Marc Forster
Catarina, a mulherJules et Jim, de François Truffaut
Sob o neonVeludo azul (Blue velvet), de David Lynch
Sam tocou de novoCasablanca, de Michael Curtiz

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Platão e o equilibrista

Julieta olhou para cima com admiração e espanto. O público, reunido na imensa praça antiga, gritava e aplaudia a cada passo que ele dava, e quando pareceu perder o equilíbrio, ela quase prendeu a respiração, devorando o espetáculo com olhares tensos e lábios imóveis. Mas o equilibrista recuperou a força e atravessou a corda inteira em uma corrida, alcançando o outro lado sob aplausos e assovios.
Fazia calor naquela noite, e a pequena cidade estava toda concentrada naquele local. Julieta observava o equilibrista e sentiu seu coração palpitar de um modo diferente. Acelerava quando o risco de o artista cair se tornava iminente; tornava a bater mais devagar assim que ele concluía com sucesso alguma de suas peripécias sobre a corda. Ela mal conseguia enxergar seu rosto, mas o desenhava em sua mente, concluindo por si mesma traços como o a cor dos olhos; o formato das sobrancelhas, do nariz e do queixo; o tom da voz.
O equilibrista finalmente terminou o seu número. Desceu por uma escada improvisada e agradeceu o público pelas saudações. Julieta seguiu o homem com os olhos, como se suas pernas estivessem travadas. Conseguiu se desvencilhar da timidez e correu de encontro com o artista. Franzino, sorridente e ágil, ele se assustou ou vê-la ali, na sua frente, tão repentinamente, elogiando as acrobacias e sua coragem em desafiar uma grande altura. Falava sem pausas, temendo o sumiço da voz após dizer tudo o que gostaria, e ele partiria para sempre após um seco “obrigado”.
Surpreso, ele a interrompeu dizendo que treinava muito para conseguir aquele espetáculo longo e intenso. Nesse momento, Julieta sentiu o perfume daquele homem dispersar-se com a brisa que anunciava uma tempestade de verão. Ela comparou o desenho que fizera daquele rosto e a verdadeira fisionomia, que se postava diante dela. Os olhos escuros, as sobrancelhas arqueadas, o nariz pequeno, os cabelos anelados, o queixo levemente quadrado, os lábios finos, a voz tranquila... Subitamente, suspirou e pediu para que ele a levasse consigo para onde quer que fosse. Faria o que precisasse: remendaria suas roupas, anunciaria seu nome à platéia, cozinharia.
O artista enrubesceu e beijou-lhe a face. Em silêncio, guardou as coisas no pequeno veículo. Entrou, ligou o motor, e acenou, despedindo-se da mulher que lhe propôs casamento. Ela ficou parada, com uma lágrima no olho esquerdo, colorindo mentalmente um futuro hipotético, distante e acinzentado.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Por que “Garota no hall”?

Primeiramente, por quê Kids in the hall? O quinteto de humor canadense se inspirou em uma frase do ator e comediante norte-americano Sid Caesar para escolher esse nome: se uma piada não fosse até o final, ou se acabasse sendo pior do que o esperado, o fracasso seria atribuído às “crianças na sala”, referência a um grupo de jovens escritores à toa no estúdio.
Inspirada por essa inspiração (?!), e sendo uma admiradora do humor do KITH, percebi que tenho uma certa pretensão com meus textos – não de agradar aos outros, mas a mim mesma –, só que nem sempre eles seguem à risca minhas idéias originais e acabam se tornando um desastre. Então, eu sou aquela “garota no hall”, matando o tempo, à espera de uma oportunidade e aguardando suas idéias serem aproveitadas um dia.

E as crianças?

Eu ouvia falar dos KITH, mas não conhecia o trabalho deles. Em 2007, aluguei os DVDs das primeiras temporadas da série NewsRadio (1995-99) e resolvi pesquisar sobre a carreira do elenco. Descobri que o genial Phil Hartman – um dos atores a ficar mais temporadas no Saturday Night Live – havia sido morto pela própria esposa enquanto dormia, e que Dave Foley não fez nada muito relevante na carreira além de NR e Kids in the hall. Dando aquela fuçada esperta no YouTube, procurei pelos KITH e me esbaldei com os esquetes cheios de nonsense, humor negro e sarcasmo.

E esse negócio de "Garota know-how"?
É apenas uma tag com um trocadilho fonético e nada mais – além de denotar uma certa arrogância.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Post 99

99 itens/coisas/características/defeitos/qualidades/etc que todo homem deveria saber antes de se apaixonar por mim

1- Sou nerd.
2- Mas não sou geek.
3- Talvez seja um pouco CDF.
4- Embora seja esquemática, adoro surpresas.
5- Surpresas simples, porque não sou mulher que se compre.

6- Não gosto de ser chamada de meiga.
7- Tenho um lado maldoso, mas não faço maldades (só penso em fazer).
8- Já dei um tapa na cara de um namorado.
9- Ele me irritou, sabendo que eu já estava irritada. Fez comparações entre a vida medíocre dele e a minha.
10- Odeio quando as pessoas falam do que elas não sabem.
11- E, sim, eu só abro a boca quando (acho que) tenho certeza.
12- Minha sobremesa preferida é sorvete, sendo o de pistache o favorito.
13- Sou quase vegetariana (de vez em quando como peixes ou frutos do mar).
14- Eu sempre tive tendência a ser vegetariana.
15- Decidi de fato dar seguimento à abstinência de carne por birra. Pensei: “Se aquele idiota consegue, por que eu não conseguiria?”.
16- Mas eu não acho ele idiota. Já achei. Não tem como achar alguma coisa de alguém sem saber se está morto ou vivo.
17- Não idealizo as pessoas e não acredito no conceito de “encontrar alguém”.
18- Já chorei ouvindo Olhos nos olhos, do Chico Buarque. Desde então, evito escutar essa música.
19- Eu sou chata.
20- Gosto que respeitem meu espaço.
21- Se não estou afim de fazer alguma coisa, não faço. Fazer algo só para agradar os outros não é comigo.
22- Detesto quando fazem algo só para me agradar.
23- A pessoa com quem mais brigo é a minha irmã. Somos muito diferentes e uma implica com a outra.
24- Fico chateada com facilidade.
25- Mas também, fico contente com atos simples.
26- Sou individualista.
27- Sou egoísta.
28- Meu egoísmo se resume a pensar em mim antes de tomar atitudes benéficas para os outros.
29- Exemplo: Se eu fizer isso vai ser bom para fulano, mas será bom para mim?
30- Se vai ser ruim para mim, não vai ser bom para ninguém. E ponto.
31- Já se foram os tempos em que eu me sacrificava por alguém.
32- Não bebo café – já sou hiperativa por natureza.
33- Sou formada em Jornalismo.
34- Adoro ler e escrever. Dedico boa parte de meu tempo a esse hobby.
35- Não me acho uma pessoa engraçada.
36- Sou tão séria que às vezes levo meu sarcasmo e ironia a sério.
37- Sou muito sarcástica e irônica.
38- Muitas vezes, preciso explicar para as pessoas que não estava falando sério.
39- E a dúvida delas me confunde: Será que eu estava brincando ou era sério?
40- Acredito que o casamento seja uma convenção social.
41- Não me imagino no altar de vestido e grinalda.
42- Economizaria o dinheiro do casamento e da festa para viajar.
43- Viajaria, sim. Mesmo que fosse sozinha.
44- Não deixo de fazer as coisas por causa dos outros.
45- Se eu deixo de fazer algo, é porque eu não quero mais fazer.
46- Sou impulsiva.
47- Sou ansiosa.
48- Sou perfeccionista.
49- Não falo muito palavrão – só de vez em quando.
50- Sou tímida.
51- Fico vermelha por qualquer coisa, desde um elogio a uma confissão picante.
52- Gosto mais do frio do que do calor.
53- Sou ignóstica.
54- Tentei ler a Bíblia.
55- Li apenas as primeiras páginas e parei porque a considerei um “manifesto machista”.
56- Não sou muito feminista. Só um pouco.
57- Não tenho paciência para aprender atividades que exigem destreza manual.
58- Logo, não sei costurar, fazer crochê, tocar violão...
59- Nunca fui uma boa aluna em Educação Artística.
60- Mas eu me saía bem em Língua Portuguesa, Literatura, Geografia e História.
61- Não entendo nada de Biologia do corpo humano - células, sistemas, aparelhos... Tenho mais interesse pela área de ciências naturais e teorias científicas.
62- Sempre me dei melhor com meus professores do que com os colegas de classe.
63- Acredito que eu tenha um nível de maturidade bastante avançado.
64- Apesar disso, tenho atitudes imaturas às vezes.
65- Se eu fosse escolher o livro que mudou minha vida, seria Paris é uma festa, do Ernest Hemingway.
66- Fico muito concentrada quando estou trabalhando.
67- Algumas vezes, me desligo do mundo exterior e mergulho em pensamentos.
68- Tenho déficit de atenção, principalmente pelo que não me interessa.
69- Meus pais são separados.
70- Não gosto de falar sobre a relação deles.
71- Eu preciso confiar muito na pessoa para entrar nesse assunto.
72- Sou cinéfila, mas tenho vida social.
73- Meus cineastas preferidos são: Irmãos Coen, Luchino Visconti, Federico Fellini, Stanley Kubrick, Woody Allen e Eduardo Coutinho.
74- Eu sou petulante quando o assunto é cinema.
75- Fiz cursos de teoria e crítica cinematográfica.
76- Meu conceito de beleza masculina é amplo e inclui desde Hugh Jackman a Johnny Galecki.
77- Quando estou nervosa ou ansiosa, falo demais.
78- No meu estado normal, falo pouco (ou pelo menos, mais devagar).
79- Adoro óculos de grau, mas não uso porque não preciso.
80- Não saio de casa sem óculos escuros.
81- Acho o Leonard, de The Big Bang Theory, sexy (ele usa óculos).
82- Sou fanática por The Big Bang Theory e Monk. Sempre que quero rir, assisto.
83- Adoro séries de TV, mas acompanho pouquíssimas.
84- Prefiro ver séries em DVD para não criar dependência com os horários em que vão ar.
85- Não assumo compromissos na noite de segunda-feira para não perder o CQC. A não ser que seja para ver o programa lá no estúdio.
86- Tenho uma memória muito visual.
87- Costumo escrever as coisas para não esquecer. Muitas vezes, porém, nem preciso reler.
88- Já fui fanática por música, mas ultimamente o silêncio tem me feito bem.
89- Os três melhores shows que vi na vida, fui sozinha: Oasis, Chemical Brothers e Muse.
90- Meus drinks preferidos são Alexander, Cosmopolitan, White Russian e caipirinha de kiwi ou de morango.
91- Nunca usei drogas.
92- Exceto quando misturei calmante com álcool.
93- Aposto que o efeito de uma droga é parecido com o do item acima.
94- Adoro sair para dançar – desde que a trilha me agrade.
95- Danço até a pilha acabar.
96- Danço sozinha ou acompanhada.
97- Comecei a frequentar balada depois dos 22 anos.
98- Tenho as seguintes síndromes: de Elaine, de Monk e de velhice precoce.
99- Eu me surpreenderia se depois de tudo isso alguém ainda viesse falar comigo.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Ao vivo de São Paulo, CQC!

“Live from New York, it’s Saturday Night!” é o bordão do programa de humor semanal mais querido dos Estados Unidos, o Saturday Night Live. Mas aqui, o CQC é o meu programa do coração. Dia 08/12, estive nos estúdios da Band e participei da platéia mais gostosinha da tevê brasileira. A seguir, comento alguns factóides dessa crônica. Olha isso!  

Fui com uma escola de idiomas. O ônibus era velho, mas tudo bem: foi de graça. Como era de se esperar, uma pivetada falando e gritando o trajeto inteiro. Não me sentia assim desde o ginásio.

Chegando à Band, por volta das 20h30, esperamos na fila para passar do portão para dentro. Uma moça do programa entregou as pulseiras para colocarmos. A minha era azul.

Finalmente entramos, mas não no estúdio. Esperamos mais, até entregarem os lanches (misto frio, coca-cola, bolinho e chocolate). Abri meu pão e fiz minha boa-ação do dia: “Alguém quer o presunto? Eu não como.”

Avisaram que o público já estava conseguindo lugar para sentar no estúdio. Eu nem terminei meu bolinho e quase saí correndo. Consegui um lugar mais à frente, dava para ver bem... exceto por uma caixa de som que cobria (justo quem?) o Marco Luque e limitava minha visão. Mas como os espectadores foram obrigados a se espremer para caber todo mundo, fui privilegiada pelo novo lugar.

O Marco Luque foi o primeiro a aparecer lá. Não preciso nem mencionar os gritinhos das meninas – até ele olhou surpreso. Eu não gritei, só pensei: “PQP, ele é lindo mesmo!” Em seguida, Marcelo Tas e Rafinha Bastos chegaram ao palco. O Tas logo avisou que eles haviam gravado outras duas edições do programa durante a tarde – ou seja, apresentaram três CQCs em um só dia – e que por isso iriam precisar da energia da platéia.

Os três estavam visivelmente cansados, principalmente o Rafinha. O Luque foi o mais brincalhão deles, falando besteiras, fazendo piadas, imitando alguns personagens do Terça Insana... Realmente, o porra-louca da bancada. O Rafinha fez uma ou outra brincadeira, sobre são-paulinos e corintianos; depois, apontou para uma garota da platéia, com blusa listrada branca e vermelha, e disse “achei o Wally!” Ela ficou puta com isso.

Antes de o programa ir ao ar, os três foram para trás do estúdio e ficaram conversando. Mas o microfone estava ligado e quem sentou perto da caixa de som – como eu – ouvia algumas partes da conversa, até que eles notaram algumas risadas e o Luque perguntou: “Vocês estão ouvindo a gente?” A resposta afirmativa parece tê-los deixado meio sem-graça.

O programa começou. Quaisquer tipo de câmeras ali foram proibidas. Antes, tentei tirar algumas fotos sem flash, mas ficaram ruins. Só do Luque ficaram melhores, pois em alguns momentos ele estava bem próximo do meu lugar e eu aproveitei a oportunidade.

Na matéria do Danilo Gentili sobre uma premiação promovida pelo Jornal Extra aos melhores da tevê, ficou visível o quão ridículas foram as escolhas, afinal trata-se de um veículo de comunicação das Organizações Globo, o que justifica vários dos ganhadores, como Zorra Total e Luciano Huck. Mas o protesto no palco do CQC foi bastante surpreendente, parodiando uma dor-de-cotovelo, cheio de palavrões – não sei se na tevê deu para perceber tão bem quanto ao vivo. Momentos depois, quando estava no intervalo, Luque e Rafinha demonstraram preocupação com o choque que poderiam ter causado no público. Isso porque antes de começar, o Luque fez várias piadas com palavrões, justificando não ter problema porque não iria ao ar mesmo.

Sabia que algum repórter do CQC poderia aparecer ali no estúdio. O Felipe Andreoli não iria porque estava gravando matéria – eu li no blog dele. Quem sabe o Danilo Gentili, o Oscar Filho ou o Rafael Cortez desse uma passada lá? Não deu outra: O Cortez chegou – e parece que tinha voltado de uma gravação externa.

O novo quadro, Cadeia de favores, apresentado pelo Rafinha, fez sua estréia dia 08/12. Além de ser ótimo, ele comoveu a bancada de apresentadores: O Rafinha não se conteve e colocou os óculos escuros. Depois, saiu emocionado do palco.

No final do programa, todo mundo queria fotos com os ídolos. Eu consegui umas palavrinhas com o Cortez e com o Tas. Ao primeiro, elogiei sua intervenção no tapete vermelho do Festival de Veneza com o elenco do filme Queime depois de ler. Blasé, ele apenas respondeu que tinha dado sorte. Tirei foto dele – e não com ele – e peguei um autógrafo. Ao Tas, brinquei e disse que era sua coleguinha de profissão e também pedi autógrafo. Ele perguntou em que veículo eu trabalhava, respondi, e uma menina se meteu e falou “Por que você não entrevista o Tas? Eu já entrevistei ele, né Tas?”. Respondi “Porque estou sem gravador.” Qual é... só porque a gente é jornalista tem que estar a trabalho o tempo todo?

No fim, esperei muito, mas o Luque e o Rafinha não saíram. Meu ônibus já estava saindo e eu tive que sair correndo. Da próxima, queridos, espero conseguir trocar umas palavrinhas com vocês...

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O caderno de Isabella

Grande, rechonchudo e feminino. Assim era o caderno de Isabella, uma estudante inteligente e atenciosa. Durante as aulas, sacava a lapiseira e anotava tudo o que os professores diziam: cada vírgula, parêntese, exemplo, citação... Não era de se espantar, portanto, que tivesse ótimas notas devido ao interesse e à atenção com os quais assistia às aulas.
Em poucos meses, seu caderno virou um sucesso entre a classe. Em vésperas de provas, logo aparecia um grupinho de pessoas pedindo para tirar cópias de suas anotações minuciosas. Páginas inteiras repletas de idéias, conceitos e palavras. A caligrafia pequena, sinuosa e elegante preenchia cuidadosamente os espaços das folhas brancas, como desenhos que se desdobravam em significados, atentamente interpretados por cada um que tivesse a reprodução de seus escritos. O balcão da sala de cópias se apinhava de gente, todos apressados para garantir sua própria versão do caderno de Isabella. A porta voz do grupo pedia:
- Cinco cópias dessa página até essa aqui.

E todos voltavam aliviados para a sala de aula, devolvendo o caderno e sem esquecer dos agradecimentos. Ele era entregue mais amassado e encardido do que antes, um tanto irritado com a falta de zelo da dona. Não entendia o porquê de tanta badalação e detestava aqueles dedos sujos virando suas folhas apressadamente e pressionando-as naquele vidro quente e luminoso. Do outro lado, apareciam réplicas suas, mais brancas, porém feias e tortas. De repente, surgia um exércitos de clones, com palavras iguais, mas sem o mesmo amor em seus discursos.
Com ar de superioridade, o caderno encarava as cópias com a certeza de que jamais se igualariam a ele. Afinal, depois daquela prova perderiam o valor e virariam meras páginas largadas em um canto qualquer do quarto ou, pior, terminariam rasgadas e jogadas na lixeira. A arrogância subiu-lhe à cabeça, e só no final daquele período de muita correria e solicitações percebeu que ele mesmo havia perdido a importância ao ser substituído por um novo e invejável caderno, que a partir daquele momento seria recheado de histórias e ouviria os melhores elogios de que sem ele as provas seriam muito mais penosas.

sábado, 6 de dezembro de 2008

"Musos" inspiradores - Parte III

Ele pode ser um músico genial, mas é desconhecido pelo grande público (pelo menos no Brasil). Mas quem assistiu à animação Os sem-floresta conferiu seu talento na divertida trilha sonora. Pianista e compositor de grande talento, Ben Folds liderou o trio Ben Folds Five durante sete anos. O grupo acabou e ele seguiu em carreira solo, talvez não compondo canções tão marcantes, mas ainda assim ótimas. Impossível, então, ignorar os outros integrantes da banda, Robert Sledge (baixo) e Darren Jessee (bateria), com quem Ben Folds tinha uma química incrível – só ouvindo para entender. E como ignorar o maravilhoso cover para Raindrops keep fallin' on my head, clássico de Burt Bacharach e Hal David imortalizado no divertido western Butch Cassidy?

Com certeza, Ben Folds Five foi uma das melhores bandas dos anos 90. E se Chaplin tivesse conhecido Ben Folds, chamaria para colaborar com as trilhas de seus filmes (ao ouvir algumas de suas canções, imagino um filme mudo de um dos maiores ícones do cinema).

Com vocês, Ben Folds Five tocando Raindrops keep fallin' on my head para o especial Burt Bacharach: One Amazing Night (1998).


sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Lembrete

Aquele era um dia de mudanças. Esvaziava as prateleiras e as gavetas do guarda-roupas, separando o que seria lavado, doado, trocado de lugar ou simplesmente jogado fora. Edredons, cobertores, toalhas, lençóis e fronhas. Livros, revistas, bolsas, cintos. Blusas, calças, vestidos, camisas. Calcinhas, sutiãs, meias, blusinhas. Blusões, moletons, pijamas e... um pedaço de papel perdido no meio das roupas.
Apanhou o papel, já um pouco amarelado, e tentou descobrir o que ele fazia na última gaveta, no meio daquele monte de roupas. Havia duas letras anotadas ali e, logo abaixo, oito números. Percebeu que se tratavam das inicias de um nome e o telefone era provavelmente um celular, pelo modo como a seqüência começava.
Matutou durante alguns segundos, até lembrar do que se tratava. Anotou as inicias e o número naquele pedaço de papel e o jogou à sorte no fundo da gaveta mais bagunçada que tinha, pois assim não correria o risco de encontrá-lo facilmente. Agora, porém, não sentiu nada ao olhar para aquele mero rascunho, uma tentativa de deixar enraizado algum fato longínquo. Segurou com firmeza o quadrado de papel, rasgou em quatro pedaços e jogou na lixeira da cozinha. Havia coisas mais importantes para se preocupar naquele momento.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Da série...

...Presentes que eu gostaria de ganhar


(clique no link caso queira encomendar já uma para mim)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Realidade alternativa

Naquela manhã ensolarada, o fone de ouvido cobria minhas orelhas e os passos desviavam dos buracos da calçada. No ponto de ônibus, logo à frente, algumas pessoas com olhares melancólicos aguardavam o transporte silenciosamente. Cheguei ali, protegida pelos meus óculos escuros e pela minha atitude blasé tipicamente paulistana.
Alguns minutos se passaram e aquela música tocou.
Modern Love, do David Bowie. Instintivamente, agitei meus pés, balancei a cabeça e movi os quadris. As estrelas pontilhavam o céu enquanto ele escurecia gradativamente. Um sopro forte expulsou o sol para o outro lado do horizonte e uma lua mirrada surgiu timidamente em um canto qualquer da abóboda celeste. As pessoas desapareceram e o chão rachou, dando lugar a um grande quadrado. De dentro da terra, paredes subiram, formando um cômodo ao meu redor, posteriormente coberto por um teto alto ornado por luzes. O cimento da calçada foi substituído por um piso macio enquanto minha bolsa, meus óculos e meu fone se dissolviam pelo ar e minhas roupas eram substituídas por algo mais confortável e justo ao corpo; os sapatos apertaram os pés e se metamorfosearam em tênis. A música se dispersou pelo ambiente, alta e límpida, na medida em que várias pessoas se aglomeravam em ritmo frenético naquele lugar que se assemelhava a uma pista de dança.
Dançava ali, sozinha e de olhos fechados, quando uma mão agarrou a minha e puxou meu corpo. Abri os olhos e dançava ali, com aquele rapaz misterioso, como se os passos fossem ensaiados e nossas mãos já tivessem se entrelaçado tantas outras vezes. Sorriamos e nos divertíamos, e durante horas dançamos juntos.
A canção terminou e eu estava sentada ao lado da janela, abrindo lentamente os olhos e observando os carros percorrerem suavemente ruas e avenidas, como se lustrassem o asfalto para que o reflexo das luzes brilhassem com mais intensidade durante a noite.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Coleção de frases randômicas – Parte II

Frases cinematográficas

Declaração de amor inesquecível. De Mark Darcy (Colin Firth) para Bridget (Renée Zellweger) em O Diário de Bridget Jones...
- I don't think you're an idiot at all. I mean, there are elements of the ridiculous about you. Your mother's pretty interesting. And you really are an appallingly bad public speaker. And, um, you tend to let whatever's in your head come out of your mouth without much consideration of the consequences... But the thing is, um, what I'm trying to say, very inarticulately, is that, um, in fact, perhaps despite appearances, I like you, very much. Just as you are.
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Em clima romântico, até Harry Burns (Billy Crystal) se declara a Sally Albright (Meg Ryan) em Harry & Sally – Feitos um para o outro...
- I love that you get cold when it's 71 degrees out. I love that it takes you an hour and a half to order a sandwich. I love that you get a little crinkle above your nose when you're looking at me like I'm nuts. I love that after I spend the day with you, I can still smell your perfume on my clothes. And I love that you are the last person I want to talk to before I go to sleep at night. And it's not because I'm lonely, and it's not because it's New Year's Eve. I came here tonight because when you realize you want to spend the rest of your life with somebody, you want the rest of your life to start as soon as possible.
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Seth (Nicolas Cage) responde ao anjo Cassiel (Andre Braugher) se estava arrependido de ter se tornado humano em Cidade dos Anjos...
- I would rather have had one breath of her hair, one kiss of her mouth, one touch of her hand, than eternity without it. One.
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Em Ligeiramente Grávidos, Pete (Paul Rudd) abre o jogo com Ben (Seth Rogen) sobre casamento...
- Marriage is like a tense, unfunny version of Everybody Loves Raymond, only it doesn't last 22 minutes. It lasts forever.
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McMurphy (Jack Nicholson) levantando a moral dos colegas de manicômio em Um Estranho no Ninho...
- What do you think you are, for Chrissake, crazy or somethin'? Well you're not! You're not! You're no crazier than the average asshole out walkin' around on the streets and that's it.
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Em De Volta para o Futuro, Doutor Brown (Christopher Lloyd) duvida de Marty McFly (Michael J. Fox) quando ele afirma ter vindo do futuro...
Dr. Emmett Brown: Then tell me, "Future Boy", who's President in the United States in 1985?
Marty McFly: Ronald Reagan.
Dr. Emmett Brown: Ronald Reagan? The actor? Then who's VICE-President? Jerry Lewis?
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Em Adaptação, Valerie (Tilda Swinton) sugere a Charlie Kaufman (Nicolas Cage) que os personagens do roteiro que ele está escrevendo se apaixonem. Mas eis a resposta...
- Okay. But, I'm saying, it's like, I don't want to cram in sex or guns or car chases, you know... or characters, you know, learning profound life lessons or growing or coming to like each other or overcoming obstacles to succeed in the end, you know. I mean... The book isn't like that, and life isn't like that. You know, it just isn't. And... I feel very strongly about this.
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Em A Vida de Brian, Reg (John Cleese) tenta argumentar por quê os romanos devem ser expulsos de Judéia...
- All right, but apart from the sanitation, medicine, education, wine, public order, irrigation, roads, the fresh water system and public health, what have the Romans ever done for us?
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Em Todos Dizem Eu Te Amo, Steffi (Goldie Hawn) conversa com o ex-marido Joe (Woody Allen) sobre relacionamentos passados dele...
Steffi: What about Carol? What was her last name?
Joe: Carol was a poet and a member of Mensa.
Steffi: She was a heroin addict.
Joe: Yes, but I thought it was insulin!
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Dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum) filosofa em Jurassic Park...
- God creates dinosaurs. God destroys dinosaurs. God creates man. Man destroys God. Man creates dinosaurs...

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Meme saúde

Não costumo responder memes, mas já que a minha amiga Patty propôs esse para mim, não tinha como eu ficar indiferente!

3 doenças que eu tenho:
1. Taquicardia;
2. Rinite;
3. Fotofobia.

Quando eu era criança tive:
1. Catapora;
2. CIV (Comunicação Inter-Ventricular);
3. Sinusite.

3 hábitos saudáveis que eu me orgulho de ter:
1. Não fumar;
2. Beber bastante água;
3. Não ingerir gordura animal.

3 hábitos saudáveis que eu gostaria de ter:
1. Comer frutas;
2. Fazer exercícios físicos com mais frequência;
3. Alimentar-me bem no café da manhã.

3 Remedinhos sagrados para mim:
1. Aspirina;
2. Dormir;
3. Silêncio.

Me sinto bem quando:
1. Acordo espontaneamente após uma ótima noite de sono;
2. Saio para beber e conversar;
3. Vejo um ótimo filme, escuto uma ótima música, leio um ótimo livro.

Me sinto mal quando:
1. Não consigo controlar a ansiedade;
2. Faz muito calor;
3. Tenho cólicas.

Pra mim TPM é sinônimo de:
1. Irritação;
2. Impaciência;
3. Reclusão.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Men in glasses - Part II

Clique no nome para conferir a versão óculos. Part I aqui.  

Clive Owen 

Atualizando...
O link do Noah Wyle não abre. Para visualizar a imagem será necessário copiar o link a seguir e colar na barra de endereços: http://gatesfan.bravehost.com/pics/Microsoft/relaxation%20posv.bmp

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Lolita não está mais à venda

A pré-adolescente com a boca vermelha de batom sorriu e mordeu os lábios de forma provocante. Humbert fingiu não notar, mas o prazer queimava dentro de seu peito. Olhava para ela de esguelha e continuava conversando com a mãe da garota como se não tivesse percebido nada. De repente, Lolita olhou para mim como se estivesse suplicando. No mesmo instante, Humbert e Charlotte interromperam a conversa, perceberam o que estava acontecendo e me lançaram o mesmo olhar. Nabokov surgiu ecoando em minha mente. “Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta”. O escritor russo não estava disposto a me perdoar caso eu desse prosseguimento àquilo.

Enquanto aguardava a mulher retornar, o livro de capa azul encardida repousava silenciosamente naquele móvel. As outras obras sobre o balcão do sebo eram ignoradas, e a de capa verde do Saramago devia estar enfurecida por parar ali sem sentir metade de suas páginas serem tocadas por meus dedos de leitora, vorazes enquanto as histórias conservassem minha afeição.

A mulher regressou e tentou encontrar algum valor nos objetos que simbolizavam o sustento de sua loja. De sobressalto, apanhei Lolita e coloquei de volta na sacola, relembrando algumas passagens do livro, o período da faculdade quando o li e o ótimo professor que lecionou a matéria que me apresentou a obras tão marcantes. “Mudei de idéia, esse aqui não quero mais vender”, respondi à vendedora/compradora.

Imaginei Lolita saltitante, agindo de forma mais semelhante a uma criança do que a um símbolo sexual. Pensei em como teria sido difícil a um russo escrever uma história daquelas em inglês, criticando a sociedade consumista norte-americana da década de 1950 e tratar do tema pedofilia em um período de puritanismo e conservadorismo nas artes. Fantasiei Stanley Kubrick dirigindo Peter Sellers na adaptação cinematográfica de 1962. Todas essas imagens me acompanharam até o caminho de volta. E a língua tocava o céu da boca e os dentes conforme o nome da personagem.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Dúvidas de uma maníaca obsessiva compulsiva

Post dedicado a Adrian Monk, Howard Hughes e Melvin Udall - e quem mais se identificar.

Por que o fio do telefone enrola sozinho?
Noto aquele fio irritantemente enrolado quando vou falar ao telefone. Com cuidado, o desenrolo. Tempos depois, quando volto a usar o aparelho, o dito cujo enrolou sozinho!

Por que sou uma das poucas pessoas que se importa com objetos devidamente alinhados sobre uma mesa, como talheres, jogo americano, guardanapo...?
Uma mesa perfeita para a refeição. Não é preciso muita coisa, eles devem apenas estar alinhados, transparecendo organização e limpeza.

Por que o garçon não tem mais cuidado para não derramar o chope?
Chope escuro é bom – dentro do copo. Vazou e escorreu, não hesito em secar a taça, a mão, o porta-copo, a mesa...

Por que perfeccionistas são tachados de chatos?
O que há de tão ruim em reler um texto várias vezes antes de mostrar a alguém, conferindo milimetricamente se não há repetição de palavras no mesmo parágrafo?

Por que a ação a seguir é tratada como uma compulsão: “repetir mentalmente uma conversa para garantir que nenhum detalhe tenha sido esquecido”?
Eu faço muito isso, como se estivesse (mentalmente) conversando sozinha. Oras, é apenas receio de falar o que não devo ou esquecer alguma coisa no meio da conversa.

sábado, 22 de novembro de 2008

House para maiores

Depois de ver um beijo desses em um episódio de House, eu tinha que ter um sonho impróprio com o gênio rabugento...


sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A panela dos indiscretos

Sutileza e discrição é uma das qualidades mais admiráveis em uma pessoa, principalmente no ambiente de trabalho. Por exemplo, se existe o horário de almoço para colocar a conversa em dia e fazer futricos e reclamações, por que cochichar longamente durante o expediente? Certamente, para evitar que outros ouçam, mas o próprio cochicho se entrega, ainda mais quando é usado em uma sala pequena, denotando a ansiedade em comentar algum fato que poucos podem ouvir. Mais lastimável ainda é entrar na dita sala para trabalhar e interromper imediatamente um cochicho, provocando a saída voluntária das pessoas, que continuam a cochichar fora da sala.
Mesmo aqueles que são aparentemente experientes no que diz respeito à ética cotidiana, cometem deslizes terríveis e perdem pontos de crédito e confiança. Falar mal do colega em público, debochando e rindo, aproveitando que ele ainda não chegou? Achei que esse tipo de coisa só acontecesse na escola – talvez porque eu tenha abandonado o hábito lá na época do ginásio.
A postura durante o trabalho diz muito sobre a personalidade de alguém. Não defendo uma ditadura onde ninguém converse ou ria e só esteja concentrado nas tarefas, de olho na produtividade, mas há de ter o bom senso de que certas atitudes devem ser evitadas. E, notando até o mais leve olhar de desdém, prefiro almoçar sozinha e ocupar meu tempo com alguma leitura.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O intelectual e a aspirante a jornalista

A entrevista havia sido marcada pelo telefone: seria em uma terça-feira de setembro (não recordo a data), às 15h00. O endereço e uma explicação de como chegar ao local foram anotados com muita atenção. Eu estava ansiosa (e um tanto nervosa). Mas a voz calma do outro lado da linha indicava uma pessoa extremamente gentil.
No dia seguinte, comentei com alguns professores sobre o sucesso em conseguir aquela entrevista.
- Ele é uma flor de maracujá! Muito fofo! – afirmou a professora que conhecia o entrevistado há muitos anos.
- Chame-o de senhor, seja muito educada e aproveite o momento. Será muito importante para o seu TCC – aconselhou o orientador da tese, aparentemente mais nervoso do que eu.

Cheguei antes do horário marcado e fiquei aguardando ele chegar. Estava muito nervosa, afinal era o Antonio Candido. Um intelectual, professor, pesquisador, autor... de grande importância para a cultura brasileira; a figura chave para o meu trabalho, um perfil biográfico jornalístico do critico de cinema Paulo Emilio Salles Gomes, falecido em 1977. Juntos, eles e outros jovens como Ruy Coelho, Decio de Almeida Prado, Gilda de Mello e Souza (para citar alguns), fundaram a revista Clima, na década de 1940. A publicação foi um marco para a crítica cultural brasileira, influenciando autores e editores de grandes jornais a investirem nesse tipo de produto.
Em frente ao prédio, o porteiro avisou que Antonio Candido tinha saído e retornaria por volta das 16h00. Eu quase entrei em pânico, preocupada com o horário, com algum imprevisto que pudesse acontecer e, pior ainda, que ele tivesse esquecido daquele encontro.
Mas, enfim, eis que surgiu um senhor muito simpático. Eu me apresentei a ele, que indagou se a gente não havia marcado para o dia seguinte: ele anotou na agenda que seria na quarta-feira. Felizmente, me recebeu. Pediu desculpas pela confusão e subimos juntos para o apartamento dele, onde seria feita a entrevista. Assim que adentrei, fiquei maravilhada: a sala era uma biblioteca com centenas de livros. Fiquei imaginando ele, outrora, estudando aquilo tudo, fazendo esboços de pesquisas, preparando aulas...
Sentamo-nos em duas poltronas nessa sala. Preparei meu gravador e o bloco de anotações, dei uma relida nas questões e a entrevista começou. Depois de tudo, pensei bem e não foi, de fato, uma entrevista: foi uma conversa, de tão descontraída e enriquecedora. Houve um momento em que fomos interrompidos por uma ligação. Ele pediu licença, atendeu o telefone e voltou à entrevista exatamente no ponto onde havia parado – notei ao ouvir a fita novamente; nem parece que havia tido uma pausa de alguns minutos. Um senhor de 88 anos (hoje ele tem 90), tão lúcido e atencioso que me fez querer chegar à idade dele assim também.
Em certo momento, perguntou “qual é o seu nome mesmo?”. Respondi e ele falou que era muito bonito, lembrando que era parecido com o de sua mãe. De repente, começamos a falar sobre Minas Gerais, Estado onde ele cresceu e do qual a minha família provém. E, claro, não tem como falar de Minas sem mencionar a maravilhosa culinária mineira.
A entrevista gerou muitos comentários na faculdade, e até piadas. “Você não acha que ela deveria fazer uma camiseta escrito ‘Eu entrevistei o Antonio Candido?’", a professora comentou com meu orientador. Mesmo tímida com toda essa badalação, eu me senti orgulhosa. Há fatos na vida que a gente prefere apagar. Melhor, porque assim sobra mais espaço para aquilo que devemos registrar.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Jujubas

Marcela percorria os olhos inchados de tanto chorar pelas prateleiras desorganizadas do corredor de guloseimas do supermercado. Procurava um antídoto doce para aquele momento no qual sentia muita pena de si mesma; apanhou uma barra de chocolate ao leite e colocou na cesta plástica encardida. Deu mais alguns passos e aproximou-se da coluna de balas. Havia gulodices de todas as cores, tamanhos e sabores. Examinou sem muita atenção os pacotes coloridos, até seus olhos brilharem ao focalizar uma embalagem de jujubas. Pequenas, macias, saborosas e inexplicavelmente familiares. Colocou o chocolate de onde havia tirado e chegou ao caixa apenas com as jujubas.
Satisfeita com a simples compra, saiu do supermercado em direção a sua casa. Salivava a todo momento que olhava para as balas, e resolveu parar e abrir a embalagem ali mesmo. Puxou as duas extremidades. Nada. Fez um pouco mais de força e começou a xingar silenciosamente, até perceber uma explosão de jujubas coloridas, expelidas violentamente do pacote e se esparramando pela calçada. Com uma expressão dramática, piscou lentamente os olhos e percebeu o que havia feito: desperdiçou uma porção de doces que seriam aproveitados por algum cão de rua sarnento.
Chorou compulsivamente. Poderia voltar ao mercado, comprar muitas outras jujubas e seguir para casa, mas não quis. Aquelas balas coloridas, espalhadas pelo chão, eram as que ela queria. Soluçando, sentou na calçada. Ficou assim, até esquecer as balas, o ex-namorado, a calça manchada, o colar partido...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Somando e dividindo

Muitas vezes, admiramos uma obra simplesmente porque determinada personagem nos cativou ou guarda alguma semelhança com nossa própria personalidade. E ainda: ela tomou alguma atitude que gostaríamos de ter tomado em algum momento pelo qual já passamos. Seja fictícia ou real, nenhuma personagem é idêntica a alguém: Do mesmo jeito que não existem duas pessoas exatamente iguais no mundo, um alguém real não é idêntico a nenhum personagem. “A vida imita a arte”, sim, mas não completamente – é sempre preciso algumas adaptações para a ficção se tornar verossímil em nosso mundo.
Pensando nisso, selecionei algumas personagens literárias, televisivas e cinematográficas com as quais me identifico. Some todas elas, divida por dez e tenha uma vaga idéia de o quanto sou complicada.

Amélie Poulain (Audrey Tautou – O Fabuloso Destino de Amélie Poulain)
Sente prazer pelas pequenas coisas e tem um olhar atento e curioso sobre fatos mais simples do cotidiano.

Catherine (Jeanne Moreau – Jules et Jim)
Impulsiva e dona da razão, não atura comentários machistas e está sempre pronta para defender seus direitos.

Elaine Benes (Julia Louis-Dreyfus – série televisiva Seinfeld)
Não consegue encontrar um par compatível com seus ideais e é a amiga para todas as horas.

Elisabeth Bennet (Orgulho e Preconceito, de Jane Austen)
Sensata e orgulhosa, não acredita na bondade alheia e é muito cética em relação ao comportamento das pessoas.

Emma Woodhouse (Emma, de Jane Austen)
Erra, reconhece que errou, se arrepende e pede desculpas. Mas continua errando, porque é imperfeita.

Hermione Granger (série literária Harry Potter, de JK Rowling)
Petulante, séria, dedicada e responsável. Tem dois garotos como grandes amigos e está lá quando precisam dela.

Kate (Catherine Zeta-Jones – Sem Reservas)
Exigente, perfeccionista e sistemática, julga o próprio trabalho e o dos outros também.

Lisa Simpson (série televisiva Os Simpsons)
Nerd e vegetariana. Apesar da sensatez, convive com todo o tipo de gente, mas sempre se sente a diferente.

Sally Albright (Meg Ryan – Harry & Sally)
Jornalista, gosta das coisas do jeito dela. É capaz de passar um longo tempo explicando ao garçon como quer a sobremesa.

Vittoria (Monica Vitti – O Eclipse)
Comprovando a complexidade das relações humanas, resiste até ao charme de um Alain Delon no auge da beleza.

sábado, 15 de novembro de 2008

Da série...

...Se eu fosse groupie

Kelly Jones


sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Pequena surpresa

Cristina e Ana eram irmãs inseparáveis. Passavam muito tempo juntas e raramente brigavam, por isso os pais nem precisavam chamar a atenção das duas. Quando Ana, a mais nova, estava triste, Cristina pegava pincel, papel e guache, sentava no chão da sala e chamava a irmã. Ficavam horas desenhando e pintando figuras imaginárias, como fadas, centauros, duendes e sereias. E se Ana percebia que a irmã mais velha estava chateada, juntava as moedinhas e a convidava para um sorvete na lanchonete da esquina.
Apesar de a família ser muito unida, passava por um daqueles momentos de transição e de superação. A perda do filho fez com que os pais investissem em um projeto de recomeço, em algum lugar distante e cheio de oportunidades. As filhas reconheciam as dificuldades que a família atravessava e evitavam fazer aquelas típicas cobranças a que as crianças geralmente estão acostumadas quando querem alguma coisa ou estão insatisfeitas.
Em uma manhã de outono, Ana acordou falante e decidida: queria fazer algo diferente naquele dia. E foi além quando mencionou que sentia saudades de quando a mãe a vestia de princesa e a levava para brincar com os primos na casa da avó. Sentia falta desse universo fantástico em que podia fingir ser Cinderela, imitar um sapo saltando pelo pântano ou pintar o rosto e fazer a irmã rir de suas palhaçadas ingênuas. Queria incorporar algum personagem que nunca seria – a não ser durante algumas horas, até ter de tomar banho, jantar, dormir e acordar cedo para a escola.
Percebendo que poderia fazer alguma coisa para alegrar Ana, a mãe correu ao pote da cozinha onde guardava algumas economias emergenciais. Contou tudo, separou uma parte e chamou Cristina. Combinaram de fazer uma surpresa à garotinha, ainda que bastante simples. Enquanto a irmã mais velha distraía a caçula em casa, a mãe desceu as escadas do prédio e rumou em direção à papelaria. Comprou o material e escondeu em cima do armário da cozinha.
- Por que vocês não vão comprar chocolates? Veja, tenho o troco do mercado aqui. Ah, Cristina, leve sua irmã para o parque depois. Tomem cuidado e voltem antes das quatro. – sugeriu a mãe, com um jeito tão doce que seria impossível resistir.
As duas saíram correndo pela porta da sala, se divertiram e voltaram conforme o combinado. Quando entrou pulando no quarto, Ana gritou de surpresa. Em cima de sua cama havia um par de asas lindamente decoradas em papel cartão, uma auréola feita em papel laminado dourado e presa a uma haste, e uma roupa que parecia ser uma camisola branca, que a garota certificou ser a velha peça da mãe, cortada para caber nela. Contente, vestiu a roupa e preparou a fantasia com a ajuda da irmã. Horas mais tarde, o pai chegou cansado e abatido. Ana surgiu sorrindo na sala, salpicando delicadamente o chão com as pontas dos pés. Ele não se conteve de admiração e se ajoelhou para abraçar filha, levantando-a do chão como se quisesse fazê-la voar por todos os cômodos da casa.
No início, Cristina sentiu ciúmes ao presenciar a cena. Depois, lembrou que havia desfrutado, bem mais do que a irmã, dos momentos felizes antes da mudança da família. Ficou ao lado da mãe, observando os dois brincarem como se as pequenas asas de papel fossem reais.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Reservada

So let's get to the point, let's roll another joint

And let's head on down the road

There's somewhere I got to go
And you don't know how it feels

You don't know how it feels

No, you don't know how it feels to be me

(Tom Petty – You don’t know how it feels)

Não, você não sabe como é se sentir assim. Ou talvez saiba. Faria diferença se soubesse ou não? Não sei. Mal nos conhecemos. Ou talvez nos conheçamos o suficiente para eu me sentir assim: estranha.
Às vezes, é engraçado. Eu me contenho para não tomar atitudes impulsivas. E espero. Espero por algo que desconheço. Porém, espero mesmo assim. Evito externar supostas pretensões. Oculto meu interesse sob um manto: minha pele. Apenas o trivial é tratado em nossas conversas desde aquele dia. Ando pelas bordas com medo de cair para fora e com receio de pisar dentro do círculo. Dessa maneira, dou voltas repetitivas, olhando para o centro de esguelha.
Eu juro, evito ao máximo pensar nisso. Mas quando penso, não é tão ruim assim. Fico em meu silêncio interminável, rindo internamente. E um pouco acanhada pela sua curiosidade em saber sobre aquele sonho.
Acima de tudo, tenho respeito. Por isso, opto por desabafar nesse espaço, quase anonimamente. Sem saber se essas palavras e frases curtas serão lidas por você.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Bons tempos...

Bebês são tão divertidos (e trabalhosos). Depois que crescem, perdem a graça e não rendem tantos momentos impagáveis, como esse abaixo. Será que a minha irmã se divertia assim quando rasgava os meus gibis?



segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Coleção de frases randômicas – Parte I

Durante uma aula de Química há alguns anos...
- Professor, o que é HCN?
- É o ácido cianídrico, usado nas câmaras de gás.
- E é tóxico?
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Pai com a filha pequena em um quiosque de sorvetes no shopping. Um garoto compra uma casquinha e os colegas começam a zoá-lo...
- Filha, presta atenção no seu sorvete. Não liga para esses retardados.
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Em um bar na Vila Madalena, em alguma noite de sábado. Alerto uma amiga sobre as pretensões de um sujeito que não larga do meu pé...
- Esse cara tá querendo ficar comigo.
- Coitado!
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Eu e um amigo, conversando no carro...
- Então, o que você achou do blog?
- Não foi tudo isso. Em Hellicopter...
- Não é o show do Bloc Party, é blog!
- Ah! Então, aquela ultrapassagem que tirou o Massa... [confundindo com o piloto Glock]
- Não, eu disse blog!!!
- Nossa, que diálogo mais maluco! Esse dá para você postar lá no blog.
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Minha chefe, navegando na página do UOL, faz um comentário...
- Vi a Ugly Betty e me lembrei de você.
- Er, o que você quer dizer com isso?
- É que o texto falava da nova temporada do House.
- Ah bom!
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Falando em House, uma pérola dita pelo médico querido, na segunda temporada da série, a uma paciente com a peste negra...
- Don't worry, it's treatable. Being a bitch though, nothing we can do about that.
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Um diálogo entre Leonard e Sheldon em The Big Bang Theory...
Leonard: We need to widen our circle.

Sheldon: I have a very wide circle. I have 212 friends on MySpace.

Leonard: Yes, and you’ve never met one of them.

Sheldon: That’s the beauty of it.
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Elaine Benes, em Seinfeld, se justificando a uma passageira no metrô...
- I'm not a lesbian! I hate men, but I'm not a lesbian!
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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Pequena grande cidade

Às vezes comento que São Paulo é uma cidade pequena, mas não falo por ironia. É impressionante o número de coincidências que já me ocorreram por aqui em menos de um ano. A última foi um esbarro casual durante o horário de almoço, que varia de acordo com o fluxo de trabalho. E nesse dia, saí mais tarde do que o costume.
Subia a movimentada rua nas proximidades de um shopping quando um conhecido descia. Estudávamos na mesma faculdade, em outro município, sendo os cursos diferentes, e pegávamos ainda o mesmo ônibus fretado. Ele era uma pessoa quieta demais, acho que só ouvi a voz dele umas cinco vezes em quatro anos.
- Oi, lembra de mim?
Resposta inaudível, mas interpretada como “sim, eu me lembro”.
- Então, o que faz por aqui?
- Estou fazendo um curso – voz sussurada e abafada pelo barulho de ônibus e automóveis.
- Puxa, que coincidência. Trabalho aqui perto.
- ...
- Vou almoçar, tchau. Boa sorte.
- ...
Segui meu rumo, lembrando que ele não havia mudado nada desde aquela época. E como era difícil conversar com ele. Ainda é. Parece que tudo o que se fala não tem interesse algum, já que não existe reciprocidade entre as frases trocadas, tornando o papo um monólogo de dois minutos. Raj. Acho que vou apelidá-lo assim.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Monges fashionistas

“Você é toda fashion”. Foi o comentário que ouvi de uma jornalista e editora de moda. “Eu lembro até hoje o dia da sua entrevista, você estava vestindo um terninho preto e tinha o cabelo preso. Na segunda vez que veio, seus cabelos estavam soltos”. A melhor impressão deve ter sido a que ficou.
O mais surpreendente é que sou anti-moda. Visto aquilo que me faz sentir bem – tanto no bolso quanto no corpo. Afinal, ao contrário do que dizem, a roupa não faz o monge – e todo aquele trabalho espiritual, não é mais importante do que as vestes dele?
O colégio, certamente, serve de palco para os adolescentes descobrirem a personalidade. Afinal, é nesse ambiente sufocante que somos expostos aos mais banais estereótipos e temos nossa paciência testada por indivíduos desinteressantes e baderneiros. Foi no terceiro ano do ensino médio que usei cabelos curtos pela primeira vez. “Agora você está com cara de jornalista mesmo. Só faltam os óculos”, ouvi dizerem. Com certeza eu deixava as melhores roupas para sair, e não ir à escola – não que eu saísse tanto; morar no interior tem a desvantagem de não ter lugar para ir senão o mesmo de sempre.
Na faculdade, fazia o estilo “viemos aqui para aprender ou... para desfilar?”. Será que foi esse um dos motivos para um certo professor dizer que eu tinha cara de comunista? Alguns já devem me imaginar de jeans com uma camiseta do Che, ou vestindo saias enormes, sandálias rasteiras e blusas largas.
Antes de pensarem que detesto roupas, eu interfiro. Assim como Anton Ego (o adorável critico gastronômico de Ratatouille), gosto tanto de roupas que poucas me agradam. Então, antes de me convidar para sair às compras, pense bem porque posso levar horas só para encontrar a blusa perfeita.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Furo desmerecido

A pista estava cheia e eu me esbaldava com os hits dos anos 80. David Bowie, Depeche Mode, INXS... até reparar naquele rapaz sozinho e distraído, vestindo uma camiseta do Echo & The Bunnymen. Ele era bonito, assim como a camiseta. E eu tinha que driblar minha timidez e me aproximar dele. Até que um inconveniente me cercou, e eu quase vi minha chance desaparecer. Momentos depois, eu estava livre. Cheguei perto do rapaz e perguntei seu nome de forma muito engraçada, pois as palavras foram expulsas em uma atitude que parecia ser impensada. Ele respondeu e imediatamente começamos a conversar. Até me chamou para ir a um lugar onde pudesse me ouvir melhor. Conversamos durante um tempo, a ponto de ele já saber o que eu fazia, minhas bandas e meus cineastas preferidos.

Ficamos algumas vezes. Saímos juntos, conversamos sobre decepções, religião, cinema, futuro, música, literatura... Apesar de ele ser uma ótima pessoa, inteligente, bonito e cativante, eu travava no beijo. "It was like kissing my brother", parodiando a Lorraine McFly. Era tão bom andar pela Paulista com ele como uma amiga, conversando e sem me preocupar em parecer chata ou petulante, só que quando nos aconchegávamos mais, era estranho. Seríamos ótimos amigos se tudo ocorresse de modo normal e eu não tivesse desaparecido. Achava ele tão legal que pensei que deveria poupá-lo de qualquer conversa previsível.

Coincidentemente, nos encontramos outras vezes depois. Ele era o mesmo, como se fôssemos amigos. Eu não conseguia ser a mesma, pois lembrava de meu sumiço mal educado, e ficava sem-graça por não conseguir agir como ele. Gostaria de chamá-lo para ir ao cinema sem parecer que tenho outras intenções - mesmo porque não tenho. Mas pessoas como ele merecem alguém menos medrosa, ainda que seja apenas uma amiga.

sábado, 1 de novembro de 2008

Teste de (in)utilidade pública

Which 'Big Bang Theory' Character Should You Be Dating?

Leonard Hofstadter




















You'd score with Leonard ! He's modest and shy and his sweetness won you over.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Uma conversa qualquer

O ônibus sacolejava enquanto as amigas conversavam animadamente sobre as novidades. Algumas eram boas, outras nem tanto; o importante era colocar aquela conversa em dia e se sentir triunfante ao receber um assentimento com a cabeça, olhares de aprovação ou risos que demonstrassem surpresa.
- Daí você não sabe, ele veio com aquele papo de que o problema não era comigo, era com ele mesmo.
- Ih, eles são todos iguais.
- Foi isso o que eu pensei, mas iria parecer clichê se falasse.
- Mas são mesmo iguais, você deveria ter dito. Assim ele assimilava pelo menos uma coisa que prestasse na vida.
Uma mulher obesa que não havia conseguido um assento no ônibus olhou para as amigas, na esperança de que fossem descer no próximo ponto. Nada.
- É, mas deixa para lá. Não iria mudar muita coisa se eu dissesse. E você, conseguiu conversar com o Henrique?
- Sim, eu falei com ele.
- E então? Vai, me conta!
- Ah, só conversamos. Ele veio com aquele papo de “não me odeie”, como se odiar alguém fosse o combustível dos meus sentimentos.
- Você disse que não gostaria de ter sido a Professora Helena dele?
- Eu pensei, mas não falei.
- Meu, a gente tem que parar de pensar nas coisas e falar logo.
- É... Então, ele falou que eu também teria algo para tirar do que aconteceu entre a gente. E, realmente, aprendi mesmo.
- E o que você aprendeu?
- Que edredom não se escreve com “N” no final.
Nesse momento, até a mulher que rezava para alguém descer do ônibus riu. As amigas olharam para ela e gargalharam as três juntas. Quando as lágrimas dos risos cessaram de escorrer, Helena suspirou e olhou o trânsito pela janela. Cíntia fez o mesmo. E a mulher, que não agüentava mais ficar em pé, teve de se contentar com o silêncio e ocupar a mente impaciente com a lista dos afazeres domésticos que a aguardava em casa.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A invasão

O jovem casal se via apenas nos finais de semana. Ele ia à casa dela na maioria das vezes, almoçava e ficava por lá até a hora de ir embora. Aproveitavam o tempo para contar as novidades e os aborrecimentos da semana e, naturalmente, namorar.

Ela morava com a família, e às vezes se sentia incomodada com a falta de privacidade. Não que precisasse de mais tempo e espaço para si, mas tinha um certo comportamento anti-social que a fazia gostar mais do silêncio do que das conversas cotidianas. Assim, sempre que buscava sossego, entrava no quarto e fechava a porta.

Em uma dessas visitas do namorado, a preguiça pós-almoço atraiu a atenção para a cama, no quarto dela. Um cochilo, uns beijinhos e um aconchego lado a lado curaria aquela ressaca domingueira.

Entraram no aposento, fecharam a porta e foram curtir o edredom. Momentos depois, um abraço, um carinho, um beijo e os dois já estavam enroscados na cama. Naquele momento bom, a porta foi abruptamente aberta: ela esqueceu de trancá-la. Era a mãe, com alguma pergunta sem a menor importância para uma circunstância daquela. Com um susto, os dois disfarçaram, mas ela não conteve um constrangido grito de “Fecha a porta!” assim que viu a mãe.

Os dois ficaram ali, na timidez. Não daria para saber quem se sentia mais envergonhado, ela ou ele. Mais tarde, quando precisaram, enfim, sair do quarto, a mãe fingiu não ter presenciado nada. Estava como sempre, gentil e conversadeira. Não queria causar mais constrangimento, muito menos um trauma para o resto da vida deles.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Bom senso no limite

Ultimamente ando menos ansiosa do que o normal. Porém, acho que ando mais anormal do que nunca, vivendo em um mundo de fantasias e bizarrices, em uma fase relax que contradiz a correria de todo final de ano. Enumerando os fatos extra-rotineiros dos últimos dias:

- Saí de casa pela manhã cantarolando Good morning, do filme Cantando na Chuva.
- Tive um sonho erótico com o Dr. House.
- Um namorado imaginário me deu um vaso de tulipas.
- Em plena segunda-feira, São Paulo me parece uma cidade do interior.
- Comprei uma camiseta com o Woody Allen estampado.
- Quero tirar habilitação para moto e comprar uma scooter.
- Consegui uma dispensa no trabalho para ver um debate sobre a carreira do Rubens Ewald Filho.
- Autodenominei-me grinch porque detesto época de natal.

Será que vou sarar essa semana? Ah, estou gostando de ser assim!