Catarina se vestiu de menino. Colou um bigodinho falso, emprestou a roupa, o sapato e o boné de um amigo, adotou uma postura encurvada e engrossou a voz. Julio e Dino olharam surpresos para ela: parecia realmente um moleque largado, mas era a mesma Catarina astuta de sempre.
A moça propôs uma aposta para ver quem chegaria primeiro ao outro lado da pequena ponte que passava sobre um córrego de águas calmas. Queria provar a superioridade feminina mesmo em vestes masculinas. Era uma feminista, dessas que evocam nomes feios em brigas pela igualdade (ou superioridade) da mulher e agem de forma inesperada e impulsiva. Os três amigos estavam preparados para a corrida, quando a moça furou a largada e saiu à frente, chegando primeiro ao outro lado. Os rapazes riram da trapaça e aceitaram a derrota. A amiga era a mais esperta do grupo, não havia o que discutir. E os dois estavam apaixonados por ela; só não brigavam porque a amizade era forte demais para uma disputa dessas torná-los inimigos. Catarina, perspicaz e interesseira, reconhecia a admiração mútua, e isso fazia com que sentisse ainda mais querida. Queria ser uma mulher livre, sem dono, rotina e responsabilidades. Seu destino era ser amada e conseguir tudo o que quisesse, sem ter de retribuir o sentimento ou dar aos outros aquilo que eles gostariam de receber.
Quando Julio finalmente tomou coragem para se declarar à amiga, diante da desistência de Dino, ela o aceitou imediatamente. Foi um impulso que acometeu suas idéias e a vontade de experimentar uma outra vida, sem que a quisesse para sempre. No entanto, sabia que não havia sido feita para amar. Seu orgulho era grandioso demais para que pudesse amar alguém, e seu egoísmo não permitia que pensasse nos outros antes de si própria. Seria vantajoso ter um marido, alguém que se preocupasse com seu bem-estar e suas vontades. Mas levantar cedo para cuidar da casa, dos filhos e do marido, e deixar os hobbies de lado para assumir afazeres domésticos, estava fora de cogitação. Queria a melhor empregada para cuidar de tudo. Nas noites em que Julio estivesse fora, sairia em busca de diversões sem culpa. Dessa maneira, construía seu futuro imaginativamente nas folhas de um caderno antigo, onde desenhava um vestido de noiva e um terno a rigor, colando a foto de Julio no corpo feminino e a sua nas vestes masculinas.
5 comentários:
Eu adoro essas suas historinhas ;]
hum, às vezes sou meio catarina, mas às vezes... acredito realmente no amor! ai, ai... hj escrevi um pouco sobre essas minhas contradições, rs...
beijo
Tá, eu sei, é um pensamento terrível. Mas, acho que feminismo hj, salvo alguns casos, é mais histeria que qualquer outra coisa. Foram dar voz pra mulher pelos direitos e agora ela não cala a boca nunca.
Não gosto de sair por aí e ter que escutar coisas só pq eu sou mulher. A gente não grita chamando homem de gostoso no meio da rua pq nao temos coragem, mas pq é ridículo. Nesse caso eu queria que simplesmente parassem.
Tb sei que ainda há casos que homem ganha mais que mulher, e acho que fazendo o mesmo trabalho deveria ser igual.
Tb acho q já q é direitos iguais, tb deveria ser chamado de ESTUPRO o ato de violação corpora contra homens, e não atentado violento ao pudor.
Enfim, o que fico puto - e por isso o comentário está longo e eu ainda nem falei do conto - é que são essas mesmas mulheres que se dizem feminisnas (qdo querem se dizer superiores) é que são as que lêem os homens são de marte, as mulheres são de venus, Nova - como satisfazer seu homem na cama, e que fazem joguinhos pra ligar, ir atrás, essas coisas. As que mais lutam pela indiferença, são as que mais as veêm.
Enfim, adorei o seu conto e acho que Catarina poderia fazer o que ela quer, sem colar a cabeça dela no corpo do homem.
sim, é do Salvador Dali. se não me engano chama AMANHECER. beijo!!
Catarina, o homem? (rs) Uma visão histórico-másculo-paterno-machista do que mais propriamente uma feminista. :)
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