domingo, 29 de setembro de 2013

Reencontro

Frente a frente, ela mal conseguia olhar em seus olhos. Tantas coisas passavam pela cabeça que era difícil se concentrar. Respirou fundo, tentando se controlar, e começou a falar. Fez algumas perguntas e gostou de ouvir sua voz em resposta. Estava se segurando, imaginando por quanto tempo conseguiria não transparecer o que sentia. Vez ou outra desviava o olhar em direção a alguma pessoa que passava - mas sua atenção permanecia ali.
Conforme as reticências ocupavam seu pensamento, ele pediu para sentar-se ao seu lado. Abraçou-a. Aquilo a fez retornar dois meses e meio no tempo. O beijo na bochecha alcançou uma parte dos lábios, tocando-os levemente. Não sabia se era proposital, mas decidiu acreditar que sim. 
Em um impulso, pediu para beijá-lo. Queria senti-lo, como tantas outras vezes, e redescobri-lo. Assim o fez. O diálogo aos poucos esmaeceu. Preferiram dedicar-se o momento e curti-lo juntos, enquanto a noite encobria a cidade e a falta de planos permitia um final inesperado.  

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Desafio dos 200 filmes - parte 4

16) Um filme que utilizou de cenas reais: Welcome to Sarajevo (1997)
Eu fiquei impressionada com as cenas reais da guerra em Sarajevo. Tanto que não consegui terminar de ver o filme.


17) Um filme que ganhou o Oscar merecidamente: O Artista (The Artist, 2011)
Só para pegar um exemplo bem recente.


18) Um filme que você nunca assistiria de novo: O Turista (The Tourist, 2010)
Foi o primeiro que me veio à cabeça - e considerei que assisti inteiro.


19) O melhor documentário: Cabra Marcado para Morrer (1984)
Não sei se é o melhor, mas é um dos meus favoritos. 


20) Um filme que possui uma excelente trilha sonora: Um Grande Garoto (About A Boy, 2001)
Assinada por Badly Drawn Boy, é tão boa que dá vontade de deixar no repeat.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O(s) último(s)/A(s) última(s)...

... filme visto: Elysium
... episódio de série visto: S06E22 de The Big Bang Theory
... série descoberta: Derek
... álbum escutado: The Beast In Its Tracks, de Josh Ritter
... DVDs comprados: A ponte do Rio Kwai e A Vida de Brian
... show visto ao vivo: Bruce Springsteen, em São Paulo
... balada: no Beco 203
... pequenos prazeres: chocolate quente cremoso e quiche de tomate seco num dia frio
... sonho de consumo realizado: um Swatch branco
... trabalho da pós finalizado: artigo sobre a Netflix

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Uma noite de quarta-feira

São de Paulo, 18 de setembro de 2013. Espaço das Américas, 21 horas. A expectativa pelo artista e pela banda acentua a ansiedade. Alguns minutos se passam e as luzes do palco prenunciam a apresentação. Finalmente, um dos shows dos meus sonhos finalmente aconteceria, ali e naquele momento.
Cada músico toma seu lugar e o artista principal se aproxima do microfone. Não parece um senhor de 64 anos. Simpático, jovial e sexy, com a voz rouca e o semblante de uma pessoa comum. Não era o rockstar, era o artista. 
Ao som de Raul Seixas, cantor e banda interpretam Sociedade Alternativa. Nem foi preciso gritar "toca Raul"! Num português carregado de sotaque, a versão enérgica leva o público surpreso à loucura. A partir daquele momento, minha certeza de que aquele seria um show histórico só foi confirmada.
Foram tantos momentos memoráveis que eu não conseguiria fazer um top 10. Mesmo as canções que não conhecia, exalavam sinceridade e emoção. O cantor é um verdadeiro showman. Sua banda, uma reunião de músicos talentosos. Juntos, formam uma família no palco, disposta a entreter e levar alegria ao público. E tudo de maneira espontânea.
Ao longo de quase 3h30, ninguém parecia disposto a deixar o palco. Mas o momento final chegou. A despedida emocionada, o público agradecido e uma pequena lista de músicas que poderiam ter sido incluídas fecham o começo de madrugada - afinal, já era meia noite e meia. É difícil retornar à realidade e constatar que é preciso voltar para casa, dormir e levantar para trabalhar no dia seguinte. Pelo menos foi um motivo para sorrir e enxergar a rotina de outra forma.

Obrigada Bruce Springsteen.


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Da série...

...Candidato a teste do sofá

Oscar Isaac

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Desafio dos 200 filmes - Parte 3

11) Algum filme que te traga boas lembranças: O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel (The Lord of the Rings - The Fellowship of the Ring, 2001)
Além de ser o meu favorito da trilogia, é um filme que me lembra as pequenas - e inesquecíveis - viagens pela Nova Zelândia. E é claro que fiz o tour do Senhor dos Anéis em Wellington.


12) Um filme que você dormiu antes de terminar: O Rei Leão (The Lion King, 1994)
Eu tinha uns 11 anos e dormi antes da metade. Sempre gostei mais das aventuras da Disney do que dos dramas e filmes de princesa. 


13) Algum filme que você nunca conseguiu assistir inteiro: Calígula (Caligula, 1979)
OK, só tentei ver uma vez. E achei tão péssimo que chega a ser engraçado constatar que Peter O'Toole e Helen Mirren fizeram parte disso. 


14) Um filme que tenha sido baseado em um livro: Emma (Emma, 1996)
Adoro o livro e o filme. E a Emma Woodhouse dispensa comentários. Diva!

Emma (1996) por m0vietrailerpark


15) Um filme que tenha participação de algum famoso que não seja ator: Dogma (Dogma, 2000)
O filme é ruinzinho, mas lembrei da participação boba da Alanis Morissette.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Meu escritório por três meses

Se um elemento audiovisual pudesse resumir os últimos três meses de minha vida, seria The Office. Não a série original britânica estrelada por Ricky Gervais e Martin Freeman, mas seu homônimo estadunidense que durou nove temporadas. 
Por incrível que pareça, a série nunca havia me atraído. Talvez porque uma vez, zapeando pelos canais da TV deixei nela por uns 5 minutos e não senti vontade de acompanhar. Mas quando vi que a Netflix tinha várias temporadas, pensei "por que não?". Afinal, as séries que estava acompanhando já haviam chegado à season finale e tinha acabado de conferir a quarta temporada de Arrested Development, também na Netflix. Comecei e simplesmente viciei. Às vezes, no meu próprio trabalho, olho para a sala do chefe e penso "como gostaria que saísse um Michael Scott de lá...".
Em primeiro lugar, preciso confessar que virei fã de Steve Carell. Seus papéis no cinema nunca chamaram muito minha atenção, mas Michael Scott é simplesmente um ícone, um dos melhores personagens da TV de todos os tempos - e, sim, melhor do que o David Brent de Ricky Gervais. Assistindo à série, já sabia que ele sairia em algum momento, e o episódio de despedida do Michael me fez... chorar.
Em segundo lugar, Amy Ryan como Holly Flax é a perfeição. Gosto muito da atriz, mas vê-la como essa personagem cujas participações simplesmente me fascinaram só me faz aplaudir The Office em pé.
Em terceiro lugar, Rainn Wilson está genial como Dwight Schrute. Único ator do elenco que consegue rivalizar com Carell, ele é hilário e talentoso. Chega a ser incrível, na verdade. 
Em quarto, quinto, sexto, sétimo... tudo na série. Dos atores/roteiristas B.J. Novak ("little man") e Mindy Kaling (agora com sua própria série, The Mindy Project) às participações especiais (Will Ferrell, Kathy Bates, Idris Elba, James Spader...), passando pelas revelações John Krasinski (protagonista do simpático Distante Nós Vamos, de Sam Mendes) e Ed Helms (o Stu de Se Beber, Não Case). De episódios especiais de Halloween e Natal a momentos insuperáveis, como o cheese puffs e o parkour (assista a ambos abaixo), The Office entrou definitivamente no meu coração, onde permanece ao lado de Seinfeld, Newsradio, Arrested Development, Flight of the Conchords, The IT Crowd e Parks and Recreation.
E hoje, 13 de setembro, cheguei à series finale como se tivesse passado nove anos com esses personagens, dentro do escritório da Dunder Mifflin em Scranton, Pennsylvania. Mas The Office amorteceu meus últimos três meses, colocando sorrisos nos meus lábios e me fazendo rir alto. Ou suspirar por Jim e Pam e ficar com os olhos cheios de lágrimas em alguns momentos surpreendentes. Foi minha anestesia. Será que estou completamente curada?



sábado, 7 de setembro de 2013

A menina

Era uma festa infantil, mas não havia muitas crianças no salão. Algo pesava no peito de uma das convidadas, que resolveu se afastar de um grupo que conversava sobre um assunto qualquer, em busca de um lugar mais tranquilo onde pudesse se sentar e simplesmente terminar de beber o refrigerante do copo descartável transparente.
Encontrou um canto ignorado pelos outros convidados e pela própria música, que o alcançava com o volume mais baixo do que o resto do salão. Acomodou-se na cadeira e bebeu um longo gole do copo. Afastou a manga da blusa e conferiu as horas no relógio de pulso que acabara de comprar. Ajeitou-o e, quando levantou a cabeça, foi surpreendida por uma menina de olhar curioso a fitando. Sem saber o que dizer, simplesmente voltou a olhar para o relógio.

- Você tá triste? - indagou a menina com olhar curioso.
- Ãhn? É... Não... Por que tá perguntando isso?
- É que você tá aí sozinha e todo mundo tá lá. - apontou para o outro lado do salão, onde as pessoas conversavam e algumas até dançavam com as crianças.
- Não estou sozinha, você tá aqui também.
A menina a encarou mais uma vez, como se seu olhar questionasse a resposta.
- Eu só estou cansada.
- Mas a festa tá começando! Vai demorar um tempão pra cortar o bolo. Eu só fico cansada no final.
Achou graça no comentário e acrescentou:
- Sim, é mesmo. Quando eu tinha a sua idade só me cansava no final também. Voltava pra casa dormindo no carro.

Ao dizer isso, reparou melhor na menina: corpo magro, pernas finas, cabelos e olhos escuros. A franja balançava de um lado para o outro, conforme ela se expressava e gesticulava as mãos ao falar. Lembrava-lhe alguém, inclusive a voz e o modo como falava. 
- Mas o que aconteceu? Você não gosta mais de festas? 
- Eu gosto, é que... sim, estou triste. Você acertou.
A menina balançou a cabeça afirmativamente, como se dissesse "eu sabia". 
- Não pensei que fosse assim tão chato ser adulta
- Como é que é? - olhou incrédula para a menina, impressionada com a semelhança física entre as duas. Até o jeito de balançar a cabeça e morder o lábio inferior era idêntico.
- É... chato. Eu sempre tenho hora pra fazer tudo. Nunca posso ficar mais tempo na festa nem ver filme à noite na TV. Preciso comer legumes e feijão, senão não ganho sorvete. Mas pelo menos não fico triste em festa de aniversário.

Ela abriu a boca para responder à menina, que repentinamente se afastou. Procurou-a pelo salão, mas não a encontrou. Aproximou-se da mãe do pequeno aniversariante e a descreveu, mas não obteve resposta sobre quem seria nem onde poderia estar. Passou o resto da noite pensando naquele diálogo inusitado.
Ao voltar para casa, colocou a cabeça sobre o travesseiro e encarou o teto durante longos três minutos. Suspirou e lembrou-se dos bons tempos em que ouvir um "boa noite" indicava que teria um sono tranquilo e sem pesadelos.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Reconstrução

- Lacuna... - disse silenciosamente, aos prantos, enquanto recordava alguns acontecimentos recentes. 

Mas a ciência não havia revolucionado a tal ponto. A inteligência artificial saía das páginas da literatura de ficção-científica e se tornava parte do cotidiano de milhares de pessoas. O transplante de face já era encarado como um procedimento médico possível. Enquanto isso, apagar memórias seletivas estava longe de se tornar uma realidade. 
Com os olhos fechados, fixou-se em uma lembrança. Apertando as pálpebras, tentou movê-la de um lado da mente para o outro, como se uma tela mental mostrasse tal procedimento. Fazia força, mas a recordação insistia em permanecer ali, imóvel. Segurou a respiração e rememorou outra vez, como se pressionasse com o pensamento um botão imaginário. Assistiu a uma lembrança distorcida, com cores vívidas em paleta alaranjada. 
Ao fundo, escutou uma canção que não pertencia àquele momento. A voz masculina ecoava em uma agradável melodia, enquanto a cena rodava. Parecia estar picotada, pois palavra ou outra era cortada e os movimentos não pareciam naturais. Editara a recordação e agora a relembrava do seu jeito. 
Não se sentia estúpida por mudar o ângulo daquele momento. Agora, era a diretora e comandava o diálogo, focando no detalhe que desejava. Podia torná-lo até mais magro, mais bonito, menos irritante e menos arrogante. Já sua própria imagem, preferia deixar como era, afinal compreendia bem seus defeitos e limitações. Suas falas, porém, eram reescritas. Responderia aquilo que gostaria - ou achava que deveria ter dito. 

A sequência rememorada não tinha conclusão. Repentinamente, era encoberta por névoa e desaparecia enquanto os olhos se abriam. Da próxima vez que acessasse o arquivo mental daquela lembrança, ela seria diferente. Novos detalhes seriam incorporados, enquanto outros seriam descartados em uma nova reconstrução que não se comprometeria a ser fiel à realidade.