sábado, 28 de fevereiro de 2009

Comentando o que foi comentado

Os comentários são um item importante no meu blog. Não corto os pulsos se não recebo nenhum, nem choro no chuveiro se sou criticada, mas quando recebo algum que leve adiante uma discussão saudável, acrescente algo a mais ou se é simplesmente engraçado, adoro. Se elogia então… meu ego luta para escapar e virar um indivíduo independente. É uma característica minha não responder todos os comentários – aqui ou no blog da pessoa –, e por isso resolvi criar um TOP 5 daqueles que mais me chamaram a atenção em fevereiro, além de uma menção honrosa. Obs.: Evitei repetir os autores dos comentários.

Post: Men in glasses – Part IV
Autora: Sunflower
Comentário: Todo homem que tem que ter a piroca digitalmente reduzida é legal no meu livro.

ha.

Post: Romanticazinha
Autor: Alexandre
Comentário: Fran Healy é heterossexual?? :O

rs.

Post: 10 coisas que me lembram a infância
Autor: Fabiana
Comentário: Eu tinha medo do gato guerreiro do He-man, ok? Então, eu só via do desenho enquanto ele era o Pacato, depois mudava de canal aos prantos. Hahahahahaha

Post: 10 coisas que me lembram a infância
Autor: Jaques
Comentário: "Em seu cavaloooo, subindo a montanhaaa... vem chegando então o Zorroooo!!!!!!!!"

Mais que qualquer coisa, essa abertura lembra minha infância. Assistia a série do Zorro TODO SANTO DIA na Record antes de ir pra escola...Me dava um ânimo! XD

"Zorrooo, sua espada não falharáaa, Zorroooo, ajuda a quem precisarrr....zorrooo zorroo zorroooo......."

*surtou*

Post: Literatura inspiradora
Autor: Rubens
Comentário: Duas coisinhas. Primeira: O Macunaíma do Mario de Andrade foi escrito aqui em Araraquara-SP, na casa do Tio dele, que hoje está tombada pelo patrimônio. É um lugar lindo. Um casarão no meio de muitas árvores. Segunda: Levantei esses dias de madrugada para ir ao banheiro. Ao acender a luz, ali no chão, perto da porta havia uma barata enorme. Olhei para ela e ela balançou as anteninhas. Fui ao banheiro, depois apanguei a luz e dormi para nunca mais vê-la.

Menção honrosa
Post: Eu tenho medo…
Autor: Nathália
Comentário: Garota no hall, descobri seu blog justamente através dos comentários no blog do Rafa Cortez. Só vim parar aqui pq seus comentários lá são interessantes. Penso que se vc escrevesse sandices lá, escreveria aqui tbm. Tbm acho ridículo os "ti amu", as onomatopéias e principalmente os comentários do tipo "ow lá em casa...".

bjs!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A pior banda do mundo

Não os confunda com ingleses e muito menos com australianos. Eles vieram da terra do Senhor dos Anéis e dos kiwis e aportaram em Nova York na esperança de fazer muitos shows e fechar contrato com uma gravadora. Jemaine Clement e Bret McKenzie formam o Flight of the Conchords, dupla neozelandesa folk mais subestimada da atualidade. A balada If you’re into it foi escrita por Bret em homenagem à então namorada, Coco, no 5º episódio da primeira temporada, intitulado Yoko. Repare na sutileza da letra e apaixone-se por eles também.



If you're into it

Bret:
If you want me to
I could hang 'round with you
If I only knew
That's what you're into.

Jemaine:
You and him
Him and you
If that's what
You're into
Him hanging 'round
Around you
You're hanging 'round
Yeah, you're there too.

Bret:
And if you want me to
I will take off all my clothes for you
I will take off all my clothes for you
If that's what you're into

Jemaine:
How 'bout him
In the nude?
If that's what
You're into.
In the nude in front of you
Is that what you'd wanna view?

Bret:
If it's cool with you
I'll let you get naked too
It could be a dream come true
Providing that's what you are into

Jemaine:
Is that what
You're into?
Him and you
In the nude?
That's what he's prepared to do
Is that the kind of thing that you think you might be into?

Bret:
And then maybe later
We get hot by the refrigerator
In the kitchen next to the pantry
You think that might be what you fancy?

Jemaine:
In the buff
Being rude
Doing stuff
With the food
Getting lude
With his food
We heard that's what you are into

Bret:
Then on our next date
Well, you could bring your roommate
I don't know if Stu is keen to
But if you want we could double-team you

Jemaine:
How about you
And two dudes?
Him, you and Stu
In the nude
Being lude with two dudes with food
Well, that's if Stu's into it, too

Bret:
All the things I'd do
The things I'd do for you
If I only knew
That's what you're into

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O problema do “curral”

Um leitor atento ligou para a redação da revista, reclamando de um erro da palavra cruzada da última edição:

- Alô, estou com exemplar da revista de vocês e encontrei um erro na palavra cruzada.
- Um erro? Qual seria, senhor?
- Onde fala de “doce feito de milho”. Na resposta está “curral”, mas o certo é com um “R” só.
- Estranho… eu chequei antes e encontrei com essa grafia.
- Meu neto teimou que estava certo, mas curral, que eu saiba, é onde guardam as vacas. – e riu do erro.

Lembrei-me dessa dúvida e da pesquisa que fiz para verificar se a grafia da palavra estava correta. Mas, ainda assim, respondi ao leitor que era daquela forma que escrevia. Segundos após desligar o telefone, procurei de novo no dicionário e, para minha vergonha, eu estava errada - e a pessoa que fez o passatempo e a revisora. Só que, nesse caso, atribui a mim mesma o deslize, já que ainda por cima controverti o homem e insisti no engano.
Na correria do fechamento, procurei por “cural” no dicionário. Certamente a palavra não existe, mas não pensei na possibilidade do “curau”, que é o nome do doce. E isso eu fui perceber depois de dispensar o senhor atencioso.
“Estou emburrecendo!”, pensei aflita, tentando diagnosticar o problema que me afetou. Melhor do que corrigir os outros, com a devida atenção e modéstia, é receber uma correção de volta, com a humildade de reconhecer o erro. Eu reconheci, só que tardiamente.


sábado, 21 de fevereiro de 2009

Eu tenho medo…

Colin Farrell loiro em Alexandre
Não consigo assistir ao drama épico Alexandre, estrelado por Colin Farrell. Não é só porque achei os trechos que vi muito toscos: É que não dá para encarar o Farrell loiro, com aquelas lindas sobrancelhas retocadas.

Almoçar tarde em restaurantes
Passou das 14h00, já considero um perigo iminente almoçar em restaurantes. Fico imaginando há quanto tempo a comida deve estar pronta ali no self-service. E se for prato feito, será que foi preparado com má vontade depois desse horário?

Quem acompanha o Big Brother Brasil
Não me diga que você assiste a esse programa porque não passa nada melhor na TV no horário! Não quero saber quem são os participantes nem quem vai ser a próxima capa da Playboy e genéricas. É tudo lixo.

Ar-condicionado
Um calor insuportável lá fora e eu entro em uma sala gelada, com o ar-condicionado ligado. Na certa, vou ficar pelo menos quatro dias com sintomas de resfriado. Será que é preciso exagerar no ambiente “fresquinho”?

Tietes que comentam nos blogs dos meninos no CQC
OK, eu costumo comentar nos blogs dos repórteres do CQC. Mas (sempre essa conjunção adversativa) pelo menos escrevo sobre o que acabei de ler, e não um monte de declaração de amor ou onomatopéias.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Hulk vs. Hulk

Atenção: Comentários não recomendados para quem não assistiu aos filmes Hulk (2003) e O Incrível Hulk (2008).

Bruce Banner: Edward Norton é mundialmente conhecido pelo seu talento e carisma. Ele já interpretou assassino de dupla personalidade (As duas faces de um crime), esquizofrênico (Clube da Luta), padre apaixonado (Tenha Fé), apresentador de programa infantil (Morra, Smoochy, morra) e por aí vai… Seu Bruce Banner é daqueles que dá vontade de pegar no colo, porque é romântico e tem aquela expressão de quem não quer causar problemas. Já o Banner de Eric Bana é atormentado, torturado, angustiante. Ator autraliano talentoso, Bana tem um sex appeal tão grande que em Tróia você até esquece que tem o Brad Pitt e o Orlando Bloom. Em Hulk, o ator vive um outro personagem: O herói que sofre em silêncio por causa de suas mutações. Empate.

Betty Ross: É inegável que Liv Tyler formou um belo par com Edward Norton (dois meiguinhos apaixonados), mas Jennifer Connelly tem mais presença em Hulk, talvez devido à maturidade de sua personagem e de como ela se desenvolve ao longo da trama. Digamos que Connelly interpreta uma mulher mais forte, enquanto Liv é mais frágil e não lembra muito uma doutora. O desenvolvimento de um personagem depende do roteiro, mas no quesito atuação é perceptível que Jennifer ganha pontos, pois ela consegue expressar melhor a credulidade e a inteligência de Betty Ross.

Roteiro: Este é um ponto complicado de ser analisado – mas não impossível. É um mesmo personagem, porém são roteiros com enfoques completamente diferentes. Começo pelo filme de 2003: os créditos do roteiro estão divididos entre John Turman, Michael France (O Justiceiro) e James Schamus (Tempestade de Gelo). Levando-se em consideração outro roteiros com o qual Schamus colaborou, toda a carga dramática do longa ficou a cargo dele. Assim, defino essa adaptação como um filme mais sério e com uma ótima história para contar, já que conhecemos o lado humano e familiar do personagem e pouco nos importam as cenas de ação.
Já o responsável por todo o roteiro da película de 2008, tem em seu currículo os dois últimos filmes dos X-Men. Mas, como brasileira, confesso que ri bastante nos dez minutos iniciais da sua história: Bruce Banner se refugiando na Favela da Rocinha? Cariocas que falam português como estrangeiros recém-chegados? Ele se concentrou muito na ação da hisória, já que a produção anterior havia apresentado o surgimento de Hulk. Isso, porém, não justifica a risível fábrica de refrigerantes. Prefiro o roteiro de 2003.

Direção: O taiwaês Ang Lee (2003) contra o francês Louis Leterrier. Com certeza, o domínio que Lee tem da liguagem cinematográfica é o ponto alto de seu filme, que narra de forma dramática uma história de ação que tem muita inspiração no formato quadrinesco (a tela divida na forma de HQ, por exemplo). E ele ainda por cima fez um filme para quem quer história, e não ação e explosões desenfredas.
Leterrier, por outro lado, apostou na ação e na violência. Fez um filme mais voltado ao público jovem, ávido por sequências impressionantemente bem realizadas. Recebeu em mãos um roteiro que exigia exatamente isso: movimento. Apesar de cumprir bem o que lhe foi proposto, é a direção de Lee que faz toda a diferença quando comparamos os dois filmes.

Efeitos visuais: O pior do filme de 2003 foi exatamente o efeito visual empregado na obra. O Hulk ficou animalesco demais, sempre dando a impressão de que um de seus poderes era voar. Não houve uma dosagem correta entre elementos dramáticos e visuais. Já a mais nova empreitada, ao levar às telas o gigante monstro verde, mostrou-se bem-sucedida ao saber utilizar os elementos gráficos de forma mais plausível. Aliás, como uma super-produção baseada em uma HQ com um personagem complexo como o Hulk pôde resultar em sequências de ação mornas como no primeiro filme? Seria melhor pintar o Eric Bana de verde. Ou não.

Vilão: O pai maluco interpretado por Nick Nolte e o arrogante Talbot (Josh Lucas), em 2003, ou um militar ambicioso na pele de Tim Roth, em 2008? Nolte e Roth são dois ótimos atores e interpretam bons antagonistas, misteriosos na medida certa – e um tanto sádicos. Mas o personagem de Josh Lucas não me convenceu. Tudo bem que o ator estava perfeito (em todos os sentidos) no filme-catástrofe Posseidon, mas em Hulk ele não me agradou. Logo, no quesito vilão, O Incrível Hulk ganha.

Gen. Thaddeus ‘Thunderbolt’ Ross: William Hurt (2008) está mais malvado do que Sam Elliott (2003). Ao que me parece, no segundo filme somaram as personalidades de Ross e Talbot, que vivia pegando no pé do mutante no longa anterior. Mas a essência e a importância do General é a mesma, então declaro o empate.

Surpresa: Colocar o Robert Downey Jr. no final de O Incrível Hulk como o herdeiro da Stark Industries foi a maior surpresa entre os longas. A empresa já havia sido citado anteriormente no filme, mas ver o Tony Stark (vulgo Homem de Ferro) ali, cogitando se juntar ao Hulk, me emocionou. Faz pensar que um filme de super-heróis com Norton e Downey Jr. juntos não está tão longe assim de ser realizado.

Resultado: Hulk vs. Hulk = empate

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Hidrofobia

Ainda me lembro daquele verão. Às vésperas da comemoração de ano novo, uma garota magra e pequena, de cabelos castanhos, andando descalça à beira do lago. Vestindo calças curtas cor-de-rosa e top branco, sentou-se no chão de madeira que alcançava “quase até o fim da água”, como costumava dizer. A ponta do dedão do pé esticava até doer só para encostar na superfície fria da água. Primeiro, tocava aquela película extraordinária que fazia com que os insetos andassem sobre ela. Quando ouvia o avô contar a história de Jesus andando sobre a água, imaginava que ele poderia ter sido um inseto gigante, ou então que Deus o transformou naquele momento só para impressionar as pessoas. 
Quando a película se rompia com a força do dedo, atribuída à unha do pé que rasgava a água, mergulhava e tirava rapidamente o irmão mais velho do mata-piolho, o mata-formiga. Tinha medo de que algum peixe confundisse aquela massa branca com um pedaço de pão atirado por alguma das outras crianças que visitavam o lugar todo final de semana. A mordida deveria doer, então apenas alguns segundos eram o suficiente para que a adrenalina de quase perder o dedo do pé a satisfizesse.
O lago era verde escuro. Gostava de observar os reflexos das nuvens em suas águas vitrais. Quando ventava, pequenas ondas levavam folhas secas e galhos de árvores afogados até a margem, todos marrons e moles. Do lado raso, observava famílias se banhando, espirrando água para cima. O olhar ciumento do pai da moça que beija o namorado e toca as mãos na costa descamisada e bronzeada do amado. Queria ter um namorado assim um dia. Bonito, alto, forte, bronzeado e sorridente. Pegava a moça no colo e a jogava na água. Só que a menina observadora tinha medo de água. Mas quando crescesse, perderia o medo, assim como a irmã mais velha não tinha mais medo do escuro, e ela um dia aprenderia que o medo só existe quando se é pequena e fraca demais para lutar, seja contra o preto da noite, a água do buraco imenso, a bronca do pai enciumado.
Aquele verão ainda está na minha memória. Cresci e perdi o medo do escuro e do pai ciumento. Mas a água ainda me assusta e nunca irei me divertir ao ser atirada no lago por braços musculosos e bronzeados.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Da série...

... Se eu fosse groupie

Bret McKenzie (Flight of the Conchords)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Men in glasses - Part IV

Bill Hader
Colin Farrell


Atualizando...
Eu juro, sempre faço teste antes de postar e dá tudo certo. Quando o post está no ar, aparecem essas mensagens de proibição. Mas tá aqui o link do site para o Colin Farrell: http://www.colinfarrellfansite.com/gallery/thumbnails.php?album=313

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Teste de genialidade e loucura

Há cinco anos eu fui Van Gogh nesse teste. Agora sou o Kubrick.



Faça você também Que
gênio-louco é você?
Uma criação de O Mundo Insano da Abyssinia


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

10 coisas que me lembram a infância

1- Filmes
Esqueceram de mim; Olha quem está falando; alguns dos Trapalhões; Lua de Cristal (da Xuxa); Quero ser grande; Os fantasmas se divertem; Forrest Gump; Meu primeiro amor; Uma babá quase perfeita; Os Goonies; Admiradora Secreta.

2- Livros e gibis
Quando eu não sabia ler, pedia para que lessem para mim, principalmente gibis e livros de contos de fadas – esses, eu tinha uma coleção ilustrada com bonecos representando as cenas.

3- Desenhos e programas de TV
Xuxa; Simony; Bozo; Catavento; Rá-Tim-Bum; Castelo Rá-Tim-Bum; Glub-Glub; Fofão; Punky… Já os desenhos, não lembro o nome de todos. Os que me vêm à cabeça são Smurfs; Perdidos nas Estrelas; Quarteto Fantástico; Liga da Justiça; Muppet Babies; Nossa Turma…

4- Balas Toffee 
Toda vez que eu ia na casa de um de meus avôs, saía de lá com o bolso cheio dessas guloseimas.

5- Boneco do Fofão
Já ouvi uma amiga dizer que tinha medo do boneco do Fofão. Eu não: adorava e não desgrudava dele. Gostava mais do que de bonecas que choravam, patinavam ou Barbie (eu tinha todas essas também).

6- Video-game Atari
Eu já fui uma geek em video-games. Adorava Atari pela simplicidade dos jogos. Depois dele, foi a vez do Mega Drive e, quando as coisas ficaram muito sofisticadas, desencantei.

7- Música
Nesse quesito, não era precoce: ouvia mesmo era Trem da Alegria, Balão Mágico e outras coisas infantis. Até hoje lembro a letra de um monte de música. Mas eu cheguei a gostar também de Polegar e Roupa Nova, além de trilhas de novelas.

8- Canetinhas e giz de cera
Eu já tive várias canetinhas e usava até estragarem – o que não significa que eu usasse por tanto tempo assim. O giz de cera eu gostava de comer também (!?).

9- Chicletes Bubbaloo e Ping Pong
O Bubbaloo eu gostava do recheio e o Ping Pong, das figurinhas. Mas depois fui enjoando de chiclete e hoje nem ligo mais.

10- Pulseiras
Principalmente pulseiras coloridas, de plástico ou de linha. Tinha também umas que você batia no braço e elas fechavam, mas eu me machuquei bastante com aquilo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Festa imaginária

O convite deixou claro: “Você é o meu convidado e sua presença é indispensável. Compareça, sem barreiras linguísticas, espaciais ou temporais”. No canto do pequeno salão, um sujeito com expressão mal-humorada se encosta na parede, girando uma bengala no ar, com a cabeça levemente baixa e as sobrancelhas levantadas, assistindo a um homem de meia idade que passa por ele em direção a um quadro levemente torto na parede, com olhos atentos para não pisar nos rejuntes dos pisos. Uma mulher loira o acompanha em silêncio, evitando olhar para qualquer um dos convidados.
O homem da bengala retira um pequeno frasco de comprimidos do bolso e joga alguns na boca. Nesse instante, uma moça baixa nota o tom azul de seus olhos. Percebendo a presença de alguém que rotularia como intrometida, vira-se para ela educadamente:

- Vicodin?
- Hã? Não, obrigada…

A moça se afasta, confusa, em direção ao sofá, onde dois amigos discutem algum assunto que parecia ser interessante.

- Mas o que estou dizendo é que a sua teoria não pode ser aplicada nesse caso, especificamente. – afirma o rapaz de óculos.
- Como não?! Quem disse que você tem a autoridade no assunto para me corrigir na frente destas pessoas? – exaspera-se o colega.
- Não tem ninguém ouvindo a nossa conversa… - vira lentamente a cabeça e nota a moça ali, com um ponto de interrogação invisível na testa. – A não ser ela. Oi!
- Oi!
- Ei, você não acha que uma pessoa que concluiu o doutorado há tão pouco tempo não deveria ter a audácia de discordar da minha brilhante tese…
- Olha, eu não sei. Não estou ouvindo a conversa de vocês. Então… hum… com licença. – e se distancia mais uma vez, suspirando, enquanto o homem de óculos culpa o amigo por conseguir afastar tão rápido as pessoas que se aproximavam.

Logo adiante, um homem e uma mulher riem de um colega. Baixo, acima do peso e de óculos, ele retruca o deboche, disparando receios insólitos sobre a mulher com quem estava saindo há uma semana.

- Biff! Pode ser verdade: o cachorro de estimação do irmão dela teve que ser operado e ela precisou ficar lá para apoiar os sobrinhos. – o colega, sarcástico, tenta acalmá-lo.
- Eu não acredito… aposto que ela pensa que eu sou um mão de vaca só porque esqueci minha carteira em casa quando saímos.
- Nas duas vezes? – olha para ele, incrédula, a amiga.

A festa está apenas começando. Mais convidados entram e pequenos grupos se formam pelo salão, estabelecendo diálogos entre si. Algumas pessoas chamam a atenção pelas vestes de época; damas e cavalheiros do século 19 comportando-se de forma elegante e dançando como se estivessem em um baile aristocrático. No palco, um trio incia os primeiros acordes de
The Last Polka. O ambiente torna-se animado na medida em que um tênue nevoeiro confere aparência etérea à noite.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

10 Rue d'la Madeleine

10 Rue d'la Madeleine é uma banda alternativa francesa formada em 2006. 
A ótima Vive la commune - vídeo abaixo - faz parte do álbum de estréia do grupo, Sur les murs.



sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Pensamentos randômicos acerca da cultura audiovisual

- Sabe a melhor coisa do trailer de Watchmen? Take a bow, do Muse. A música foi utilizada como trilha da amostra da adaptação da graphic novel do britânico Alan Moore (que eu pretendo ler em breve). Levando em consideração que o diretor é Zack Snyder, responsável pelo trágico (no mau sentido) 300, não espero nada da película. Ainda mais depois de saber que o próprio Moore convenceu o excepcional Terry Gilliam (Brazil, Os Doze Macacos) a não adaptar sua obra porque ela seria “intransponível” para as telas. V de Vingança, também adaptado a partir de uma graphic novel do britânico, é apenas bom e nada mais.

- Terminei de assistir à minissérie inglesa da BBC Pride and Prejudice (Orgulho e Preconceito). Produzida em 1995, traz Colin Firth como Mr. Darcy e Jennifer Ehle como Elizabeth Bennet. A fidelidade ao livro de Jane Austen é impressionante; até os menores detalhes foram captados pelo roteiro. Destaque também para os figurinos e a direção de arte. Nem vou comentar a presença de Firth para não soar mais tendenciosa do que já sou…

- Uma das melhores coisas de Sim Senhor (Yes Man), nova comédia estrelada por Jim Carrey, é o personagem Norman (o neo-zelandês Rhys Darby, da série The Flight of the Conchords), chefe do protagonista. Nerd absoluto, ele promove uma maratona de filmes do Harry Potter em sua casa, com direito a convidados vestidos como os magos da série. Coadjuvante, sim, mas hilário.

- Sabe quando você tenta se encantar com um filme, mas não consegue? Saí do cinema com essa sensação após conferir O Curioso Caso de Benjamin Button. Amálgama de Peixe Grande (Big Fish) com Forrest Gump – o roteirista, aliás, é o mesmo deste último –, é um drama um tanto açucarado, que não consegue promover a devida reflexão nos espectadores sobre seu tema central. E os protagonistas não despertam carisma, tornando a obra tecnicamente bela e emocionalmente fraca.

- Quando fui assistir Austrália, só tinha um objetivo: ver o Hugh Jackman. Acho os filmes do Baz Luhrmann insuportáveis e a Nicole Kidman atua realmente bem em um filme ou outro. Mas esse não é ruim: sua primeira metade tem sequências até de tirar o fôlego, mas depois cai no pieguismo natural ao estilo de Luhrmann.

- A banda indie californiana Cold War Kids foi uma das minhas recentes descobertas. O primeiro album, Robbers & Cowards, lançado em 2006, é um daqueles que você não sente vontade de pular nenhuma faixa. Com influência de blues – e um pouco de folk –, o baixo, a bateria e o piano, aliados ao ótimo vocal e a discretos riffs de guitarra, resultam em músicas matadoras. Já Loyalty to Loyalty, de 2008, é um trabalho um tanto arrastado, onde o blues se destaca ainda mais. Resumindo, é inferior ao seu antecessor: um tanto chato e com poucas músicas marcantes.

- Outra descoberta foi o trio galês Feeder, que tem mais de quinze anos de existência. A exemplo de outras bandas da mesma região, como Manic Street Preachers e Stereophonics, as canções possuem belas melodias. Comecei pelos dois últimos álbuns. Pushing the Senses, de 2005, contém músicas tão gostosas de ouvir que você até relaxa. Mas isso não quer dizer que seja uma obra só de baladas, uma vez que há alguns bons rocks permeando o trabalho. Já Silent Cry, ao contrário do que o nome sugere, é mais pesado. Lançado em 2008, é um antagonista ao Pushing the Senses, prova de que a banda realmente não gosta se repetir.  

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Literatura inspiradora

Macunaíma é a obra mais conhecida do genial Mário de Andrade, mas o poeta e escritor também publicou crônicas. Em Esquina, veiculada no jornal O Estado de S. Paulo em 17/12/1939, Andrade descreve a esquina de sua residência, em São Paulo. Com leveza e bom humor, finaliza a crônica divagando sobre um problema já bastante recorrente àquela época: as baratas.

“(…) Gasto mais da metade do meu ordenado em remédios e venenos contra as baratas. Vivo sem elas, mas só eu sei o que isso me custa de energia moral. E altas horas, quando venho da noite, há sempre uma, duas baratas ávidas, me esperando. Se às vezes abro a porta incauto, perdido nos pensamentos insolúveis desta nossa condição, elas dão uma corridinha telegráfica, entram e tratam logo de se esconder, inatingíveis. Eu sei que, feito de novo o escuro no apartamento, elas irão morrer se banqueteando com os venenos que me custam a metade do ordenado. Mas me vem uma saudade melancólica dos meus ordenados inteiros, dos livros que não comprei, dos venenos com que não me banqueteei. Para dar banquete às baratas… Às vezes eu me pergunto: 'Por que não mudo desta esquina?'… Mas sempre o meu pensamento indeciso se baralha e não distingo bem se é esquina de rua, se é esquina de mundo. E por tudo, numa como em outra esquina, eu sinto baratas, baratas, exércitos de baratas, comendo metade dos orçamentos humanos, e só permitindo até o meio o exercício da nossa humanidade. Não é tanto questão de mudança. Precisamos acabar com as baratas, primeiro.”

ANDRADE, Mário de. Esquina.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Romanticazinha

A indústria cultural é uma filha bastarda. Estou ali tranquila, vivendo e convivendo com o corpo inteiro na realidade, fazendo meu trabalho, planejando os gastos do mês, escrevendo meus textos... Mas a bastardinha, narcisista e ambiciosa, chega de mansinho e vai ocupando, sem convite, um lugar no meu subconsciente, revirando o espaço e expondo segredos até então trancados a chave, com duas voltas na fechadura. E a moça forte que não se abate por pouca coisa, revela-se vulnerável e… romântica.
Um teste à capacidade de discernir o real da ficção: em uma sala grande e escura, com uma tela imensa à frente, onde são projetadas imagens que contêm som e história. Uma mulher ruiva, verdadeira lady, e um homem bastante másculo, com uma voz que ressoa agradavelmente, um olhar penetrante e um corpo desejável. Um beijo sob a chuva, uma noite de amor em um quarto aconchegante. Dentro do crânio, alguma coisa se remexe incomodada com a imagem refletida pelos olhos brilhantes e atentos, enquanto um grito silencioso ecoa no interior do corpo. Não importa se é um filme de Baz Luhrmann, o príncipe da pieguice e da sacarose. Aquela paixão arrebatadora, apoiada no belo exemplar do gênero masculino que protagoniza as cenas, se enraiza no subconsciente e faz suspirar por algo que nunca será possível ter. Talvez uma imitação. Ou uma realidade bem mais conveniente.
Outra tela. Menor. A bastardinha se disfarça de produção artística e o aristocrata orgulhoso surge com sua fisionomia impassível. Sob o olhar da heroína, ele é desprezível e não merece sua atenção. Porém, como ignorar a presença do cavalheiro que sai molhado de um lago após um mergulho, em suas vestes brancas, nesse momento de avassaladora tentação – o mesmo homem que se declarou e foi rejeitado dias antes?
Já não ouço canções de amor com seriedade. Passei da idade em que levava músicas a sério e considerava Fran Healy o protótipo do último heterossexual sensível da face da Terra. “Eu sou uma rocha”? Não é para tanto. Mas bem que gostaria. E, hoje, não são as palavras ditas que me envolvem no seu aroma doce e enjoativo. São as atitudes: aquilo que presencio e sinto. Ou as imagens que a bastardinha insiste em botar na minha cabeça.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Sozinha no bar

Fernanda chegou sozinha ao bar, onde assistiria ao aguardado show naquela atípica noite fria de verão. Reparou nas pessoas conversando animadas na fila, aguardando chegar a vez de serem revistadas, confirmar o nome na reserva e entrar no local.
Sentia um misto de excitação e melancolia; a cabeça doía por causa do estresse. Evitava pensar no que havia acontecido antes e tentava se concentrar no que estava prestes a presenciar. Antes de revistarem sua pequena bolsa, um pensamento cometário perpassou pelos neurônios, provocando pequenas faíscas microscópicas que, talvez, apenas um equipamento hospitalar de alta precisão pudesse registrar.

- Seria um tumor raro a acometer a massa encefálica desta jovem? – o médico recém-formado questionou ao mais velho.
- Não, não. É apenas alguma caraminhola brilhante que percorre seus neurônios, deixando um rastro brilhante que, em segundos, desfalecerá. – respondeu o velho e experiente doutor, após analisar o exame imaginário.

“Perdedora. Sinto-me uma perdedora.” Era este o pensamento misterioso de Fernanda que causaria espanto ao jovem médico, complementado minutos depois de ela conseguir entrar e apoiar-se no balcão. “Aqui, sozinha, e todas essas pessoas animadas que provavelmente encontarão vários amigos enquanto eu reparo a decoração e vejo a hora passar antes de começar.”
Sentou-se na banqueta alta e se perdeu em um mundo de pensamentos e opiniões próprias, como se conversasse imaginativamente com uma outra versão de si mesma. Discutiam sobre estar ali, ter insistido no que qualquer outra pessoa optaria por desistir e voltar para casa. “Eu sei me virar, não preciso de ninguém. Sou uma mulher independente que corre atrás daquilo que quer.”
Silenciou a conversa cerebral após uma conclusão súbita. Pediu um mojito de morango e testemunhou a noite no bar, entre risos e constatações, não querendo nem pensar em como faria para voltar para casa depois.