Macunaíma é a obra mais conhecida do genial Mário de Andrade, mas o poeta e escritor também publicou crônicas. Em Esquina, veiculada no jornal O Estado de S. Paulo em 17/12/1939, Andrade descreve a esquina de sua residência, em São Paulo. Com leveza e bom humor, finaliza a crônica divagando sobre um problema já bastante recorrente àquela época: as baratas.
“(…) Gasto mais da metade do meu ordenado em remédios e venenos contra as baratas. Vivo sem elas, mas só eu sei o que isso me custa de energia moral. E altas horas, quando venho da noite, há sempre uma, duas baratas ávidas, me esperando. Se às vezes abro a porta incauto, perdido nos pensamentos insolúveis desta nossa condição, elas dão uma corridinha telegráfica, entram e tratam logo de se esconder, inatingíveis. Eu sei que, feito de novo o escuro no apartamento, elas irão morrer se banqueteando com os venenos que me custam a metade do ordenado. Mas me vem uma saudade melancólica dos meus ordenados inteiros, dos livros que não comprei, dos venenos com que não me banqueteei. Para dar banquete às baratas… Às vezes eu me pergunto: 'Por que não mudo desta esquina?'… Mas sempre o meu pensamento indeciso se baralha e não distingo bem se é esquina de rua, se é esquina de mundo. E por tudo, numa como em outra esquina, eu sinto baratas, baratas, exércitos de baratas, comendo metade dos orçamentos humanos, e só permitindo até o meio o exercício da nossa humanidade. Não é tanto questão de mudança. Precisamos acabar com as baratas, primeiro.”
ANDRADE, Mário de. Esquina.
4 comentários:
Duas coisinhas. Primeira: O Macunaíma do Mario de Andrade foi escrito aqui em Araraquara-SP, na casa do Tio dele, que hoje está tombada pelo patrimônio. É um lugar lindo. Um casarão no meio de muitas árvores. Segunda: Levantei esses dias de madrugada para ir ao banheiro. Ao acender a luz, ali no chão, perto da porta havia uma barata enorme. Olhei para ela e ela balançou as anteninhas. Fui ao banheiro, depois apanguei a luz e dormi para nunca mais vê-la.
ODEIO baratas!
Eu já travei lutas napoleônicas com baratas. Já fiquei até sem durmir pq eu tinha que matar a maldita. Ah, até apelidei uma que sempre se escondia dentro do violão hahahha
Enquanto estive em SP convivi com várias, no meu apê-esconderijo lá na Sta. Efigênia. Mas nos tinhamos um trato, e nos respeitávamos de um modo geral. :)
Postar um comentário