A indústria cultural é uma filha bastarda. Estou ali tranquila, vivendo e convivendo com o corpo inteiro na realidade, fazendo meu trabalho, planejando os gastos do mês, escrevendo meus textos... Mas a bastardinha, narcisista e ambiciosa, chega de mansinho e vai ocupando, sem convite, um lugar no meu subconsciente, revirando o espaço e expondo segredos até então trancados a chave, com duas voltas na fechadura. E a moça forte que não se abate por pouca coisa, revela-se vulnerável e… romântica.
Um teste à capacidade de discernir o real da ficção: em uma sala grande e escura, com uma tela imensa à frente, onde são projetadas imagens que contêm som e história. Uma mulher ruiva, verdadeira lady, e um homem bastante másculo, com uma voz que ressoa agradavelmente, um olhar penetrante e um corpo desejável. Um beijo sob a chuva, uma noite de amor em um quarto aconchegante. Dentro do crânio, alguma coisa se remexe incomodada com a imagem refletida pelos olhos brilhantes e atentos, enquanto um grito silencioso ecoa no interior do corpo. Não importa se é um filme de Baz Luhrmann, o príncipe da pieguice e da sacarose. Aquela paixão arrebatadora, apoiada no belo exemplar do gênero masculino que protagoniza as cenas, se enraiza no subconsciente e faz suspirar por algo que nunca será possível ter. Talvez uma imitação. Ou uma realidade bem mais conveniente.
Outra tela. Menor. A bastardinha se disfarça de produção artística e o aristocrata orgulhoso surge com sua fisionomia impassível. Sob o olhar da heroína, ele é desprezível e não merece sua atenção. Porém, como ignorar a presença do cavalheiro que sai molhado de um lago após um mergulho, em suas vestes brancas, nesse momento de avassaladora tentação – o mesmo homem que se declarou e foi rejeitado dias antes?
Já não ouço canções de amor com seriedade. Passei da idade em que levava músicas a sério e considerava Fran Healy o protótipo do último heterossexual sensível da face da Terra. “Eu sou uma rocha”? Não é para tanto. Mas bem que gostaria. E, hoje, não são as palavras ditas que me envolvem no seu aroma doce e enjoativo. São as atitudes: aquilo que presencio e sinto. Ou as imagens que a bastardinha insiste em botar na minha cabeça.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
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3 comentários:
Fran Healy é heterossexual?? :O
rs.
Australia? o.O
É impossível não ser romântica quando o macho em questão é Hugh Jackman. Se ele bruto já é uma coisa de meu Deus, ele fofo e carinhoso... Não dá. Não há mulher forte que resista. E com uma personificação dessa, nosso inconsciente romântico grita por algo similar.
E, após ler este post, não vejo Australia nem por decreto. Não estou em condições de me render ao lado mulherzinha.
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