segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Sozinha no bar

Fernanda chegou sozinha ao bar, onde assistiria ao aguardado show naquela atípica noite fria de verão. Reparou nas pessoas conversando animadas na fila, aguardando chegar a vez de serem revistadas, confirmar o nome na reserva e entrar no local.
Sentia um misto de excitação e melancolia; a cabeça doía por causa do estresse. Evitava pensar no que havia acontecido antes e tentava se concentrar no que estava prestes a presenciar. Antes de revistarem sua pequena bolsa, um pensamento cometário perpassou pelos neurônios, provocando pequenas faíscas microscópicas que, talvez, apenas um equipamento hospitalar de alta precisão pudesse registrar.

- Seria um tumor raro a acometer a massa encefálica desta jovem? – o médico recém-formado questionou ao mais velho.
- Não, não. É apenas alguma caraminhola brilhante que percorre seus neurônios, deixando um rastro brilhante que, em segundos, desfalecerá. – respondeu o velho e experiente doutor, após analisar o exame imaginário.

“Perdedora. Sinto-me uma perdedora.” Era este o pensamento misterioso de Fernanda que causaria espanto ao jovem médico, complementado minutos depois de ela conseguir entrar e apoiar-se no balcão. “Aqui, sozinha, e todas essas pessoas animadas que provavelmente encontarão vários amigos enquanto eu reparo a decoração e vejo a hora passar antes de começar.”
Sentou-se na banqueta alta e se perdeu em um mundo de pensamentos e opiniões próprias, como se conversasse imaginativamente com uma outra versão de si mesma. Discutiam sobre estar ali, ter insistido no que qualquer outra pessoa optaria por desistir e voltar para casa. “Eu sei me virar, não preciso de ninguém. Sou uma mulher independente que corre atrás daquilo que quer.”
Silenciou a conversa cerebral após uma conclusão súbita. Pediu um mojito de morango e testemunhou a noite no bar, entre risos e constatações, não querendo nem pensar em como faria para voltar para casa depois.

3 comentários:

Sunflower disse...

e o medo que eu tenho disso tudo?

Alexandre disse...

"caraminhola brilhante que percorre seus neurônios"; demorou, mas gostei da imagem que veio na minha cabeça. :)

Nathália disse...

"caraminhola brilhante que percorre seus neurônios". Adorei!
No mais, me identifiquei...