Sentia um misto de excitação e melancolia; a cabeça doía por causa do estresse. Evitava pensar no que havia acontecido antes e tentava se concentrar no que estava prestes a presenciar. Antes de revistarem sua pequena bolsa, um pensamento cometário perpassou pelos neurônios, provocando pequenas faíscas microscópicas que, talvez, apenas um equipamento hospitalar de alta precisão pudesse registrar.
- Seria um tumor raro a acometer a massa encefálica desta jovem? – o médico recém-formado questionou ao mais velho.
- Não, não. É apenas alguma caraminhola brilhante que percorre seus neurônios, deixando um rastro brilhante que, em segundos, desfalecerá. – respondeu o velho e experiente doutor, após analisar o exame imaginário.
“Perdedora. Sinto-me uma perdedora.” Era este o pensamento misterioso de Fernanda que causaria espanto ao jovem médico, complementado minutos depois de ela conseguir entrar e apoiar-se no balcão. “Aqui, sozinha, e todas essas pessoas animadas que provavelmente encontarão vários amigos enquanto eu reparo a decoração e vejo a hora passar antes de começar.”
Sentou-se na banqueta alta e se perdeu em um mundo de pensamentos e opiniões próprias, como se conversasse imaginativamente com uma outra versão de si mesma. Discutiam sobre estar ali, ter insistido no que qualquer outra pessoa optaria por desistir e voltar para casa. “Eu sei me virar, não preciso de ninguém. Sou uma mulher independente que corre atrás daquilo que quer.”
Silenciou a conversa cerebral após uma conclusão súbita. Pediu um mojito de morango e testemunhou a noite no bar, entre risos e constatações, não querendo nem pensar em como faria para voltar para casa depois.
3 comentários:
e o medo que eu tenho disso tudo?
"caraminhola brilhante que percorre seus neurônios"; demorou, mas gostei da imagem que veio na minha cabeça. :)
"caraminhola brilhante que percorre seus neurônios". Adorei!
No mais, me identifiquei...
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