quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sylvia & eu

Em uma de minhas andanças cibernéticas, o nome de Sylvia Plath pipocou na minha mente. Em busca de alguns trabalhos dela (poemas, trechos de obras), eu me deparei com este logo abaixo:
Quando acordei esta manhã no quarto úmido e escuro, ouvindo o tamborilar da chuva por todos os lados, tive a impressão de que havia sarado. Estava curada das palpitações no coração que me atormentaram nos últimos dois dias, praticamente impedindo que eu lesse, pensasse ou mesmo levasse a mão ao peito. Um pássaro alucinado se debatia lá dentro, preso na gaiola de osso, disposto a rompê-lo e sair, sacudindo meu corpo inteiro a cada tentativa. Senti vontade de golpear meu coração, arrancá-lo para deter aquela pulsação ridícula que parecia querer saltar do meu coração e sair pelo mundo, seguindo seu próprio rumo. Deitada, com a mão entre os seios, alegrei-me por acordar e sentir a batida tranquila, ritmada e quase imperceptível de meu coração em repouso. Levantei-me, esperando a cada momento ser novamente atormentada, mas isso não ocorreu. Desde que acordei estou em paz.

Senti-me como se fosse a própria Sylvia. Objetiva, poética e sincera, ela faz um relato belíssimo sobre o que estava passando - e a escolha das palavras e metáforas impressiona, ainda mais lendo o original em inglês.

When I woke this morning in the dark, humid bedroom, hearing the rain beating down on all sides, it seemed to me I was cured. Cured of the shuddering heartbeat which has plagued these last two days so that I could hardly think, or read, for holding my hand to my heart. A wild bird pulsed there, caught in a cage of bone, about to burst through, shaking my whole body with each throb. I began to want to hit my heart, pierce it, if only to stop that ridiculous throb which seemed to wish to leap out of my chest and be gone to make its own way in the world. I lay, warm, my hand between my breasts, cherishing the surfacing from sleep and the peaceful steady unobtrusive beat of my rested heart. I rose, expecting at every moment to be shaken, and indeed I was not. I have been at rest since.

Às vezes eu me sinto um pouco Sylvia. Quando a palpitação começa, tento me distrair - criando histórias, vendo algum seriado engraçado ou simplesmente repousando minha cabeça sobre o travesseiro para me acalmar. Muitas vezes não tem motivo; sou simplesmente tomada por essa sensação de pessimismo que parece envolver tudo à minha volta. Se existisse um botão para me desconectar do mundo exterior, talvez fosse mais fácil. Enquanto sou mais humana do que ciborgue, tento lidar com isso do meu modo. 

terça-feira, 16 de julho de 2013

O último/ A última...

...filme visto: O Quarteto
...filme visto no cinema: A Bela Que Dorme
...filme na lista dos mais aguardados: Blue Jasmine
...episódio de série visto: The Merger (S03E08), de The Office
...livro ganhado: Entre os Atos, de Virginia Woolf (já lendo) 
...música escutada: The Black Keys, Never Gonna Give You Up
...exposição visitada: Lucian Freud, no MASP
...momento de gulodice: sorvete duplo de pistache
...comprinha de mulher: blusas para o frio e um cachecol
...show na lista do "preciso ir": Beck no Planeta Terra

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sobre as escolhas que fazemos

Às vezes a vida parece acontecer em câmera lenta. Os dias são longos, as noites monótonas e os finais de semanas terminam sem novidades. Essa lentidão dá a impressão de que a vida é mais longa do que deveria ser. São tantos sonhos e desejos que não cabem dentro dela. Você tenta colocar tudo com cuidado, mas logo percebe o quanto esse espaço é raso. Então, precisa escolher o que colocar dentro da vida, mas conforme o tempo passa, menos itens cabem dentro dela e você precisa tomar decisões rapidamente. Fazer escolhas.
E o que acontecia lentamente, de repente ganha os contornos de um fast-forward. Tudo acontece mais rápido e, se você se distrair por alguns minutos, perde a chance de dizer ou fazer algo. E foram muitas oportunidades perdidas ao longo dos anos, imaginando que ainda teria tempo o suficiente pela frente para alcançá-las. 
Pausar é difícil, mas voltar atrás e consertar é impossível. O que aconteceu, fica lá - no passado. Parar é o limite: muitos fazem com que aconteça, outros são surpreendidos precocemente. Aos que seguem, a pressão parece esmagadora, mas é preciso tirar proveito das preciosidades que nos são oferecidas.
Um sorvete num dia de sol. Um abraço num dia frio. Uma risada com os amigos. Um sorriso sincero. Um longo beijo. Um elogio inesperado. Uma conversa entusiasmada. A música certa no momento certo. A ligação que você estava esperando. O pedido de desculpas aceito. 
Estava tudo rápido demais, até que decidi pausar. Fiz com que a vida desacelerasse e retomasse seu ritmo normal. Passei a escutar as pessoas, mas também a me expressar melhor diante delas. Entendi que não sou "eu", somos "nós". Compreendi que o perfeito é o agora: é quando acontece que você tem certeza do que quer, e não quando aponta as expectativas para o futuro e aguarda.
Não é simples, não é fácil e não tem fórmula. Eu mesma nem sempre faço as escolhas que deveria. E quando acredito que fiz a escolha certa, desejo gritar para que o mundo me ouça. Mas, calada em meus pensamentos, tento encontrar a maneira de dizer para uma única pessoa. Tomada por uma espécie de medo, fecho os olhos e espero o dia amanhecer para, quem sabe, dar a ele um novo significado.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Corrente invisível

Naquela noite escura e fria
Mais do que fugir ou se esconder
Apenas o que ela queria
Era ser ouvida por alguém
Enquanto recostava a cabeça pesada
Cheia de pensamentos em vaivém
Como o pêndulo incessante do velho relógio
Que a despertava em badaladas
Encerrando pesadelos noturnos
Enquanto revirava o corpo entre as cobertas
Encarando o teto com os olhos soturnos
E a boca levemente entreaberta

Submersa nas próprias lembranças
Agitava braços e pernas
Na tentativa de recuperar o fôlego
E manter apenas as recordações ternas
Mas o rosto cansado e sôfrego
Não disfarçava o sentimento de rancor
Que persistia dia após dia
Embebido não só em incerteza e dor
Mas também em crise e melancolia