segunda-feira, 23 de junho de 2008

O dia perfeito

Ela contava os dias para a chegada daquela aguardada data comemorativa. Planejava sair mais cedo do trabalho e fazer um jantar especial. No caminho para casa, compraria velas ornamentais. Não. Se fossem muito bonitas, teria pena de vê-las queimar e se extinguir em algumas horas. Apenas velas coloridas; umas cinco, para iluminar bem a pequena cozinha do apartamento.

No final de semana que antecedia a data, foi às compras. Pegou tudo o que precisava, menos as velas. Essas seriam compradas no dia, para não correrem o risco de deformar com o calor fora de época. A previsão do tempo indicou um mormaço incomum para aquele período do ano. Coisas do aquecimento global.

Chegou em casa e guardou as compras no armário. Aproveitou aquela folga semanal para limpar o apartamento. Enquanto esfregava o chão, projetou na mente o que faria naquela data. "Saio mais cedo, passo na lojinha e compro as velas. Cinco. Vou usar uns pratinhos para colocá-las em cima. Depois, chego e preparo o jantar. Vou tomar um banho, me arrumar e usar aquele vestido novo. Coloco a mesa... não posso esquecer o vinho. Daí ele chega, jantamos, conversamos e eu entrego o presente. Será que ele vai gostar? Ele disse que estava precisando de camisa social... O que será que ele comprou? Ah, dia 12 será perfeito!".

O tão esperado momento chegou. Ela comprou as velas e chegou ansiosa em casa. Preparou tudo conforme havia planejado semanas antes. A receita que copiou de um site da Internet parecia ótima. Maquiou-se, colocou o vestido azul marinho e calçou as sandálias de salto alto. Não poderia esquecer os brincos, o colar, a pulseira e, principalmente, o perfume.

Quando a campainha tocou, mal conseguia respirar. Atendeu o interfone e autorizou a entrada do convidado. Em poucos minutos, ele estava à porta, batendo levemente. Foi imediatamente atendido. Seu olhar percorreu o salto da sandália e o decote do vestido. Com o presente em mãos, entregou à namorada.

- Nossa, mas já? Achei que fosse ficar para o final da noite. – comentou surpresa.

- Não, abra agora. Quero ver se fun... fica bom o tamanho.

Um pouco decepcionada com a pressa e com o fato de ele sequer tê-la beijado com o romantismo que esperava, abriu a caixa. Em meio ao papel de seda, viu um corpete. Levantou a delicada peça e comentou:

- É mais pesado do que eu imaginava. É lindo, adorei!

- Vista.

- Mas já? Vamos jantar primeiro, fiz um...

- Vai lá no quarto que eu te espero.

Com a própria vontade mais uma vez contrariada, foi ao quarto. Despiu-se e vestiu a lingerie. Tinha alguma coisa ali, algum volume diferente no busto da peça. Seria um defeito? Foi para a sala e viu o namorado sentado com o notebook no colo. Nem percebeu que ele havia entrado em sua casa com aquele aparelho. “Até agora vai ficar com os olhos vidrados nessa maldita coisa?”, pensou com raiva.

- E aí? Gostou? Nossa, tá linda!

- Tem alguma coisa no busto.

- Não é nada, não.

- É sim, tem alguma coisa!

- Espera um instante que o site abriu. Pronto, tá funcionando! Maravilha!

- Hã? Como assim?

Ela apalpou o busto da lingerie e notou um bolso discreto. Dentro dele, um pequeno aparelho com adesivos em inglês.

- Mas o que é isso? Um gravador?

- Não. Promete que não fica brava? Fiquei sabendo que estavam vendendo essa novidade e não resisti.

- Fala!

- Um GPS.

Sabia que o namorado era ciumento, mas não imaginava que fosse chegar a tanto. A aguardada data estava arruinada. Ela se trocou, vestiu um pijama e pediu a ele que fosse embora – não sem antes devolver o presente e falar o quanto achava aquilo um absurdo. Ele partiu sem dizer nada, e ela viu as velas queimarem enquanto jantava sozinha aquele frango grelhado com risoto e vinho rosé. A camisa deveria servir em seu irmão.

5 comentários:

Carrie Bradshaw Tupiniquim da Silva disse...

que namorado mais broxante rss
é quase o cinto de castidade da vida moderna rss
beijos!

Tania Capel disse...

nossa, amei...
quer dizer, amei o texto, não a situação... rs!
abraços

Alexandre disse...

Ô loco, assim no melhor estilo "car system"? (rs)

Anônimo disse...

Deveriam inventar um GPS em cuecas também! Apesar que seria capaz dos homens gostarem do "volume" na parte da frente! Hahaha

Escreve muito bem!

Cristina disse...

Imagine, geek e ciumento! ninguém merece :p