segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O caderno de Isabella

Grande, rechonchudo e feminino. Assim era o caderno de Isabella, uma estudante inteligente e atenciosa. Durante as aulas, sacava a lapiseira e anotava tudo o que os professores diziam: cada vírgula, parêntese, exemplo, citação... Não era de se espantar, portanto, que tivesse ótimas notas devido ao interesse e à atenção com os quais assistia às aulas.
Em poucos meses, seu caderno virou um sucesso entre a classe. Em vésperas de provas, logo aparecia um grupinho de pessoas pedindo para tirar cópias de suas anotações minuciosas. Páginas inteiras repletas de idéias, conceitos e palavras. A caligrafia pequena, sinuosa e elegante preenchia cuidadosamente os espaços das folhas brancas, como desenhos que se desdobravam em significados, atentamente interpretados por cada um que tivesse a reprodução de seus escritos. O balcão da sala de cópias se apinhava de gente, todos apressados para garantir sua própria versão do caderno de Isabella. A porta voz do grupo pedia:
- Cinco cópias dessa página até essa aqui.

E todos voltavam aliviados para a sala de aula, devolvendo o caderno e sem esquecer dos agradecimentos. Ele era entregue mais amassado e encardido do que antes, um tanto irritado com a falta de zelo da dona. Não entendia o porquê de tanta badalação e detestava aqueles dedos sujos virando suas folhas apressadamente e pressionando-as naquele vidro quente e luminoso. Do outro lado, apareciam réplicas suas, mais brancas, porém feias e tortas. De repente, surgia um exércitos de clones, com palavras iguais, mas sem o mesmo amor em seus discursos.
Com ar de superioridade, o caderno encarava as cópias com a certeza de que jamais se igualariam a ele. Afinal, depois daquela prova perderiam o valor e virariam meras páginas largadas em um canto qualquer do quarto ou, pior, terminariam rasgadas e jogadas na lixeira. A arrogância subiu-lhe à cabeça, e só no final daquele período de muita correria e solicitações percebeu que ele mesmo havia perdido a importância ao ser substituído por um novo e invejável caderno, que a partir daquele momento seria recheado de histórias e ouviria os melhores elogios de que sem ele as provas seriam muito mais penosas.

8 comentários:

Rodrigo Carreiro disse...

Eu conheci várias Isabellas...

Anônimo disse...

A última matéria dos meus cadernos era destinada a anotações de assuntos aleatórios. No fim do ano virava atração porque era quase um diário das coisas interessantes e engraçadas que haviam acontecido o ano todo, até os professores se juntavam ao grupo pra ouvir.

Bons tempos...

Cristina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cristina disse...

Eu era uma Isabella na faculdade, até o dia em que uma amiga levou meu caderno e demorou vários dias pra devolver e eu disse que nunca mais ia emprestar matéria pra ninguém.

Alexandre disse...

Isabella é uma legião; até na faculdade encontrei uma.

Marguerita disse...

Eu já fui uma Isabella e não é algo que sinta orgulho.

Bj

Sunflower disse...

eu conheço essa Isabella aí por outro nome. Ah, ela adora CQC.

beijas

Tania Capel disse...

que lindo!
vc sempre me emociona com suas sutilezas!
bjs