Subiu as escadas de carvalho da antiga morada da família. Era uma casa imponente e elegante, que exalava lembranças de um passado luxuoso, agora envolto em muita poeira. Esses tempos de luxo e de festas, ele desconhecia. Apenas ouvia as histórias do avô, contando de onde vinha cada móvel, azulejo e taça de cristal. Agora, a casa que testemunhou suas férias durante a infância e o início da adolescência estava deteriorada.
O bisavô havia dedicado quase uma década de vida à construção da casa de verão. Mas conforme despendia as economias na decoração e na manutenção do mimo, o lar provisório se tornou definitivo, e a antiga mansão da família foi vendida para pagar algumas dívidas e render mais investimento para a nova casa.
O avô cresceu ali. Tinha uma governanta rigorosa que batia a régua em sua mão caso errasse a tabuada. Agia como uma professora sádica e queria se orgulhar por ter criado um engenheiro famoso como o pai. No início da juventude, foi estudar fora. Voltava no final de cada ano letivo, auge do verão. Logo após a formatura, viu o pai definhar e sumir. Sendo o primogênito, o destino da família estava sob o seu poder. Assim, casou as duas irmãs com colegas da faculdade e utilizou o escritório do pai para desenhar seus projetos.
A fama não se atrasou para o jovem engenheiro. As festas eram um chamariz para os anseios do rapaz, que tinha o braço direito sempre solicitado por moças interesseiras, todas belas, mas nem sempre interessantes. Casou-se com a sobrinha de uma das empregadas, para o choque da sociedade da época. Tiveram quatro filhos, todos acomodados pela fortuna paterna e despreocupados com o futuro.
O meio da história, que separava o início da depredação da casa e o presente, o neto desconhecia, já que a ausência constante do pai impedia qualquer tipo de indagação. Imaginava, melancolicamente, que fim haviam tido todos os móveis e objetos, saqueados pelos herdeiros do velho engenheiro. E naquele espaço vazio e sujo, obervava a minúscula habitante, que protegia os ovos em um repulsivo emaranhado de teias.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
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8 comentários:
vi a casa... umas escadas circulares... linda!
Olá Garota do Hall, visitei seu blog via "Menina Enciclopédia" e gostei, vou lincá-lo para visitá-lo sempre. Abraços.
Putz, ficou feio lincá-lo e visitá-lo, mas agora já foi, perdão. É o que dá não revisar o que escreve.
é sempre assim né?
leva-se anos para construir, instantes para acabar.
beijas
Talvez a derrocada do velho engenheiro tenha se iniciado com a descoberta de que a mulher com houvera casado e constituido uma familia era uma fria espiã russa...ou não (RS).
Bom texto.
Bjus.
Oie,
Obg pela visita tb...o livro é um pouco denso, mas muito interessante. Você vai adorar.
Bjus.
Você escreve muito bem...em relação a história, quantas vezes já vimos isso acontecer???
famílias... patrimônios que se desfazem com os laços frouxos da sociedade atual! beijosssss
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