sábado, 29 de janeiro de 2011

A espera

É como se eu estivesse há um longo tempo aguardando o inesperado. O acidental. E, como é de se imaginar, por ele não devemos criar expectativa alguma. Às vezes brota uma angústia que se alimenta do vazio dentro da gente, e ela vai crescendo e aproveita o espaço que está sobrando, se acomoda e espicha. Quando ela desaparece, a distração consegue cumprir seu papel, mesmo que seja por algumas horas. Ao retornar, recomeça, com baixa ou alta intensidade, depende do humor.
Falar sobre ela e seus motivos é ruim. Ouvir conselhos é inútil. Ter respostas, então, é praticamente impossível. Alguns preferem julgar e apontar o erro disso tudo, tentando me corrigir para que as coisas sejam diferentes. Mas quando não se tem fé alguma, e a decepção com a humanidade é cada vez maior, não existe motivo para mudar. E, talvez, nem para esperar.
Da janela me afasto, avistando um mundo cada vez menor e desfocado. Viro as costas e procuro outro rumo. Ou, quem sabe, outra coisa que possa me distrair. Um som, uma imagem, um sabor... nunca uma lembrança. Na crise, fecho a janela de vez. Bloqueio a luz e tateio no escuro, com as pupilas dilatadas, os braços esticados e as mãos abertas.
Vagueio pelo meu eu interior, perdida e aflita. Penso, relembro, esqueço - ao menos, forço-me a esquecer ou finjo que esqueço. Enquanto o sol reverbera do lado de fora da janela, procuro abrigo nas reflexões, que se mostram confusas e me fazem abrir a janela novamente. Esquivo-me da claridade e bloqueio a luz com meu escudo. E, assim, decido esperar mais uma vez, até que a lua apareça e traga consigo as estrelas.

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