sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Leitura para pensar

O trecho a seguir reflete algo que, ao meu ver, acontece em veículos de comunicação, como revistas. Sim, porque tenho experiência em redações de revistas há mais de três anos e, embora seja pouco tempo, certos aspectos me incomodam e me fazem pensar "claro que o leitor gosta e prefere dessa maneira, é a única que apresentamos a ele. O novo é mais arriscado para nós do que para o leitor." Não comparo a mesmíssima situação, mas dá para fazer a relação com algumas experiências recentes que tive:

"(...) [Harry] Cohn, habituado a se dirigir aos escritores como 'garoto judeu', gostava de se gabar de que os únicos atores judeus contratados pela Columbia só faziam papel de índio. De fato, a maioria dos chefes de estúdio tratava as outras minorias com o mesmo desprezo que tratava os judeus. Jack Warner, por exemplo, ordenou que tirassem de um filme, e destruíssem, uma cena em que dois negros se beijavam. 'É a mesma coisa que olhar dois animais', disse. 'Horrível!' Branco beijar negro era proibido, é claro, pelo código de produção dos estúdios. Louis B. Mayer detestou a versão altamente elogiada que seu estúdio fez do livro de Faulkner Intruder in the Dust. O herói negro era 'muito metido', disse a Schary. 'Devia tirar o chapéu ao falar com um branco.' Mayer também desaprovou Go for Broke, produção de Schary que mostrava o heroísmo do 442º Batalhão de Infantaria nissei, 'Ele está fazendo filmes sobre japoneses', resmungou. 'Quem foi assistir ao filme na semana passada? Todos os japoneses. Esta semana a bilheteria ficou lá embaixo.'
Com essa crueza, os executivos de Hollywood expressavam não somente a brutalidade de seu preconceito como uma comunhão com o que a América pensava de si mesma, isto é, que era uma sociedade branca e cristã completamente homogeneizada. No entanto, a todo instante deparavam com fatos que desmentiam isso."

FRIEDRICH, Otto. A Cidade das Redes - Hollywood nos anos 40. Trad. Ângela Melim. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. 

*Detalhe: Cohn, Warner e Mayer eram judeus, mas faziam o jogo do sistema para agradar ao público e aos censores. Além de manter os luxuosos salários. E isso na época da 2ª Guerra Mundial. O mundo não mudou muito. A hipocrisia reina ainda mais e o que é feito, muitas vezes, serve para mascarar reais intenções - não me refiro apenas à imprensa, mas ao cotidiano de modo geral. Sim, porque cansei de ouvir conversas aparentemente ingênuas, mas que guardam resquícios de racismo, preconceito ou até mesmo de maldade. Não é querer que o mundo seja politicamente correto, mas que as pessoas pensem antes de falar e agir - e deixem de se pautar pelo que vendem a elas como belo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Perche non:)