segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A arte de falar sobre si mesmo

Eu lembro que nos meus tempos de ginásio e colegial, diários, agendas e páginas de cadernos antigos serviam de espaço para a cultura narcisista. Porque, acima de tudo, gostava de escrever sobre mim - mesmo que ninguém mais fosse ler, o que importava era eu reler alguns meses depois e tentar decifrar o meu "eu" do passado. Algumas menções a outras pessoas figuravam naquelas linhas, mas os escritos eram principalmente sobre a autora.
Hoje, comparo o antigo hábito às facilidades online de compartilhar os meus gostos, ideias e pensamentos - ou pelo menos tudo isso de uma outra versão minha, a pública. E existe algo que não descobri e nem sou a primeira ou última a falar sobre: a internet está cheia de "eus". Após a popularização dos blogs, há aproximadamente 10 anos, e com o boom das redes sociais, tudo multiplicou-se. Evoluímos para a coletividade? Discordo. Diria "individualidade". Porque mais do que compreender o outro, queremos compartilhar o que é nosso, receber feedback, comentários, "curtis", "retuítes". Queremos nos divulgar, mostrar o quanto são boas as bandas que ouvimos ultimamente ou que aquele filme que todos andam aclamando tanto não passa de uma obra esquizofrênica que será esquecida em um ano.
Também aplaudimos e divulgamos ideias dos outros - desde que sejam semelhantes às nossas. Compartilhamos elogios alheios para satisfazer nosso ego em dobro - quer algo mais egocêntrico do que isso? Fazemos nosso "marketing do meia-boca" e esperamos que amigos, colegas e seguidores leiam e se manifestem - de preferência a favor. Tudo isso nesse mundo estranho, oculto por um monitor brilhante e habitado por avatares cool, provocantes ou simplesmente cafonas. Queremos atenção aqui, e muitas vezes nos desesperamos por isso, pois do lado de fora da tela, sabemos o quanto é difícil conseguir uma aprovação, uma conversa sincera, um sinal de lealdade. Enfim, sabemos o quanto é difícil sermos ouvidos e reconhecidos. 
Enquanto ambos os mundos correm velozmente em direção ao excesso, nós nos equilibramos entre lembranças, anotações, desvarios, novidades e expectativas. E, infelizmente, não temos tempo nem disposição para enxergar o outro ou reler nós mesmos.

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