quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Tempestade de verão

A pequena gota de suor brotou discretamente da testa e foi ganhando volume, até o sacolejar da caminhada fazer com que se desequilibrasse e deslizasse lentamente pelo lado esquerdo do rosto, deixando um rastro brilhante na pele e se dissipando com o calor daquela tarde.
Os óculos escuros amenizavam o brilho solar, embora não fossem totalmente úteis em dia como aquele, permeado pelo mormaço e pelo alerta de previsão de tempestade. Trinta e seis graus celsius. Uma cachorreira e uma garrafa de água era tudo o que pedia, enquanto apressava os passos e olhava para os lados antes de atravessar a rua.
O asfalto queimava e exalava fumaça, formando uma ilusão ótica que se assemelhava a uma poça d'água; uma miragem raquítica que deslumbrava poucos, talvez uma ou duas crianças mais curiosas e sem outro assunto com que se preocupar enquanto nuvens espessas e cinzentas se aglomeravam como se a cidade estivesse sendo sitiada do alto. Prédios envidraçados escureciam, vozes clamavam por tempo para que pudessem chegar em casa a tempo. Trovões cada vez mais sonoros anunciavam a aproximação da tempestade, até que um estalo seco deu início ao aguaceiro.
Pingos grossos caíam desajeitadamente enquanto os desprevenidos corriam para tentar se proteger. As buzinas competiam entre si, como se disputassem para saber quem era mais impaciente; os pedestres xingavam a cada banho involuntário por conta do buraco inundado e do egoísmo alheio. Em poucos minutos, o caos rendeu a cidade e modificou rotinas.
Repentinamente, um pequeno raio de sol perpassou as nuvens e iluminou uma roseira. Aos poucos, a chuva diminuiu e o céu azul buscou seu espaço gradativamente. A cidade se silenciou e as pessoas se acalmaram. O sol tímido mostrou sua força e aqueceu, mais uma vez, as cabeças desprotegidas.

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