quinta-feira, 8 de março de 2012

Nada, não

Aquela vontade de dizer alguma coisa estava engasgada na garganta. Muda, olhou para um lado e para o outro, procurando uma maneira de expressar o que queria. Levantou o copo de plástico e levou o canudo à boca, sugando o resto da bebida até fazer barulho, como uma criança que parecia forçar para que mais líquido aparecesse magicamente ali. 
Abandonou o copo na mesa e olhou para o relógio. Tirou o celular da bolsa e olhou as horas, como se quisesse comparar qual estava correto. As mãos se juntaram em movimentos inúteis que denotavam ansiedade - e a vontade de dizer aquilo ia e voltava, como se ensaiasse e, no momento preciso, desistisse. Ao notar aquele comportamento estranho, ele levantou as sobrancelhas e perguntou se havia algo errado, se queria ir embora ou fazer algo mais. A resposta negativa mal disfarçada não incentivou insistência alguma. OK, deixaria como estava.
Incomodado com o silêncio, puxou uma história da memória e começou a contá-la entusiasmado, como se desejasse propor uma reação semelhante. O sorriso sem graça imediatamente fez com que desistisse de contar qualquer outra coisa naquela noite. Decidiu pedir a conta e, assim que pagaram, ele se levantou e inventou uma dor de cabeça qualquer. Ela abriu a boca para falar, mas mudou de ideia imediatamente e forjou um bocejo acompanhado de um aceno com a cabeça, concordando que também não se sentia muito bem.
Antes de cada um seguir seu caminho, despediram-se com um frio beijo na bochecha. Assim que ele virou as costas, ela murmurou algo que não pôde ser compreendido. Ele se virou e se aproximou, insistindo em saber o que era, o que ela gostaria tanto de dizer a noite toda e por quê se conteve. Com os olhos brilhando, ensaiou mentalmente, mas ao invés de falar o que martelava na cabeça, suspirou e respondeu.
- Nada, não.

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