quinta-feira, 24 de maio de 2012

Não vi - e já odeio

Desde o momento em que li uma notícia anunciando Baz Luhrmann como diretor de outra adaptação de O Grande Gatsby, obra prima de F. Scott Fitzgerald que figura entre os livros mais belos e poéticos que já li, quis chorar. Embora o elenco escolhido seja excepcional (Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan, Isla Fisher, Tobey Maguire, Joel Edgerton), nunca fui com a cara de um filme do diretor australiano. Aquele que é considerado seu melhor longa, Moulin Rouge, considero de uma pieguice insuportável - tão irritante que até o meloso Austrália consegue ser melhor. Tentei ver Vem Dançar Comigo, mas não consegui passar da metade. Romeu + Julieta é um caso à parte - não sou entusiasta nem do texto teatral de Shakespeare, quem dirá da adaptação melô-kitsch. E aquele negócio chamado Everybody's Free to Wear Sunscreen (narrado em português por Pedro Bial e rebatizado de "Filtro Solar") é uma das coisas mais chatas que já ouvi na vida.
Com tudo isso, não pense que é um exagero eu admitir que quase chorei quando vi o trailer de The Gerat Gatsby. Para começar, aquela música horrível que abre o trailer, mostrando uma festa estilo cabaré de Moulin Rouge (PQP, Baz Luhrmann! Como você é original, hein?). Tudo o que Fitzgerald escreveu - e descreveu - com extrema elegância e bom-gosto, Luhrmann fez o oposto. Nem sou fã da adaptação de 1974, estrelada por Robert Redford, Mia Farrow e Sam Waterston, mas ao menos ela conservou o espírito da obra na qual foi baseada - veja bem, foi roteirizado por Francis Ford Coppola, que co-adaptou magistralmente O Poderoso Chefão.
E apesar de achar DiCaprio um bom ator, seu Gatsby não parece ter a discrição nem o charme com os quais o original foi dotado - qualidades que Redford conseguiu manter na sua atuação. Aliás, sutileza é um termo que passa bem longe de Luhrmann, rei da extravagância e do exagero, cujo universo narrativo gira em torno de muito barulho e lágrimas. 
Por isso, já odeio The Great Gastby somente tendo assistido ao trailer. A melancolia em tom pastel do romance, que me hipnotizou, ganhou as tonalidades brilhantes e a histeria de um diretor que precisa de imagens escandalosas para chamar a atenção - e muito lenço para secar as lágrimas de quem se afoga em açúcar.


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