Eu não sabia como dizer. Fiquei esperando ele falar alguma coisa – e falou muitas. De tantas palavras e frases, nenhuma era aquela que eu queria ouvir. Continuei em silêncio, apenas respondendo a uma pergunta ou outra que ele fazia. Senti medo em dizer, pois não queria ser a primeira. Preferiria que ele dissesse e eu respondesse com um “também” no final. Não, não. O “também” ficaria mais bonito se viesse depois do pronome pessoal.
Olhei no relógio e a hora passava devagar. Comecei a pensar várias bobagens começando com “e se...”. Será que eram mesmo bobagens ou faziam algum sentido naquele momento? Ele notou minha inquietude, e perguntou se estava tudo bem. Estava e não estava. Coisas de mulher, querer que adivinhem o que deseja e satisfaçam sua vontade. Não tem graça saber que algo foi feito ou dito porque você pediu, mencionou ou deu uma indireta. É tão bom quando você pensa e aquilo acontece. Ainda bem que só no cinema o homem entra na cabeça das mulheres e sabe o que elas querem, já que seria um tanto desagradável se ele soubesse tudo mesmo.
Optei por responder que estava tudo bem. Apenas uma dorzinha de cabeça que me impedia de falar tanto quanto costumava. (Ah, a dor de cabeça! Bela desculpa.) Ele olhou no relógio também. Disse que eu deveria estar cansada, parecia abatida. Despediu-se longamente. Não disse o que eu queria ouvir. Quando se afastou, chamei pelo seu nome. Ele se virou para mim, com aquela expressão de “esqueci alguma coisa?”, e eu finalmente disse a frase. Foi pronunciada de forma curta e discreta, elegante até. Brigitte Bardot não teria feito melhor. Surpreso, voltou para perto de mim e me beijou.
Passaram-se anos. Tive muitas dores de cabeça, mas nenhum filho. A frase perdeu a importância e desbotou com o tempo, assim como as cores daquele momento, agora em tom sépia.
Um comentário:
melhor não ter filhos mesmo...
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