domingo, 24 de agosto de 2008

Matadores de canções

O bar estava cheio, com muita gente falando e rindo alto. A fumaça dos cigarros pairava sobre o ar como névoa em uma manhã de verão, tornando o ambiente ainda mais abafado e embaçado. Formávamos uma mesa com oito pessoas e aguardávamos ansiosamente pelo momento em que o videokê fosse ligado, pois assim nos divertiríamos ainda mais com os clientes exaltados, em pé no palco com um microfone na mão, muita pose e bastante desafinação.

Não demorou muito para que um dos funcionários convocasse o primeiro cliente-cantor para dar uma prévia de o quanto a noite seria divertida. Um homem alto se levantou e seguiu em direção ao microfone. Apresentou-se e escolheu uma música nacional dos anos 1980. Era visível que ele queria fazer umas gracinhas e impressionar a moça que o acompanhava, lançando a todo momento olhares apaixonados. Parecia aquele tipico cara mais engraçado da classe - alusão àquele colega pentelho que adora chamar a atenção.

Quando a apresentação terminou, meus amigos resolveram me sacanear: eu, a pessoa mais irritantemente comedida e reservada do grupo, fui apontada como a próxima cantora. Se me recusasse, seria a chata da noite. Se aceitasse imediatamente, seria a garota que gosta de aparecer – daquelas que levantam rindo alto, tropeçam antes de chegar ao palco e escolhem uma música da Ivete Sangalo. Então, enrubesci e lancei um olhar pedindo misericórdia aos meus colegas de mesa, que riram sem piedade. Um deles fez questão de me acompanhar ao palco e ajudou a escolher a canção mortificante: Because you loved me, da Celine Dion. Péssima escolha, eu sei, mas não tinha nenhuma nacional de que eu gostasse muito. E das internacionais, optei por aquela que tivesse a letra mais fácil, embora o tom deixe qualquer amadora sem fôlego.


Enquanto cantava e prestava atenção nos versos, percebi que eram muito fortes. Surreais como um quadro de Dalí, transbordando exagero e delírio. Poderia ser uma canção gospel, se colocar um deus no papel do amante; ou suicida, já que a declaração de amor faria qualquer depressivo na fossa querer cortar os pulsos diante de paixão tão perfeita.

Ao final da cantoria, voltei à mesa. Tentei comentar tudo o que passava pela minha cabeça enquanto estava sozinha no palco, mas ninguém me deu ouvidos. Pouco importava o que eu havia interpretado. Mais uma rodada e expectativas em ebulição. Próximo!

3 comentários:

Sunflower disse...

é, amigos e família estão fazendo a sua parte, sem eles milhares de psicólogos, farmaceuticos que fabricam drogas anti-depressivas estariam desempregados.

Cristina disse...

Espera até o próximo brit-encontro no karaokê :p

Alexandre disse...

Bem lembrado Cris, já precisamos nos organizar pra mais um brit-karaoke.. e claro, levar o Pérsio como MC. (rs)