segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Relativismo e...

Não adianta. Caio na armadilha de soar redundante, de fazer desse blog uma página de fã-clube, de afastar leitores ainda remanescentes... Mas registro, para futuras consultas próprias, essa sábia e poética reflexão de João Pereira Coutinho (para quê livros de auto-ajuda quando podemos ler esse autor?), como mais uma vez faço abaixo: 

"(...) Em doses temperadas, o relativismo é um convite para não fazermos o mal. Ele esvazia o nosso patético ego como uma agulha que fura o balão de uma criança. E ele é sobretudo útil em matéria de amor: somos amados, magoados, atraiçoados. Acreditamos que, depois do abandono, teremos uma dor inultrapassável, que se vai prolongar pelos séculos seguintes.

Mas a verdade é bem mais triste e, paradoxalmente, bem mais feliz. Tudo passa. A dor vai diluindo-se em tristezas menores, que ficam como o pó esquecido nos cantos da casa. E certo dia descobrimos que o tempo cobriu tudo com invisíveis mortalhas; e o passado é o porto de onde a nossa embarcação já se afastou há muito. Vemo-lo ao longe, por entre a neblina. Mas não há regresso.

Desesperado leitor: se achas que a dor de hoje te autoriza a tudo, lembra-te que és nada e que a tua vida será nada. E festeja essa certeza com a alegria sincera dos náufragos resgatados."

(Em defesa do relativismo suave, publicado originalmente na Folha Online)

2 comentários:

Sunflower disse...

Ah, já vi tudo, João Pereira Coutinho está para vc assim como Joseph Campbell está para mim.

beijaaa

Alexandre disse...

Eu li esse texto hoje de manhã numa chamada da Folha, muito bom.

Já até comentei algo nesse sentido no meu blog algum tempo atrás citando um dos grandes mestres inconscientes do relativismo suave: Nelson Ned. (rs)

"Mas tudo passa, tudo passará!.." :D

Brincadeiras a parte, o que ele chama de relativismo suave é algo dissolvido que surge da combinação de uma serenidade de espírito peculiar com a experiência de vida. Não é simples, e não é fácil. Sem falar que os visualizam e tentam trilhar esse caminho são a minoria.

Mas enfim, concordo com ele, e na minha visão é o grande charme da nossa existência.

:)