segunda-feira, 16 de março de 2009

Dois, nenhum

Jean estendeu a mão direita timidamente e Beatriz a aceitou com receio de que, se recusasse, o deixaria sem graça. O sinal para pedestres abriu e os dois atravessaram a avenida movimentada e salpicada de faróis reluzentes. Ela pediu para parar em uma banca e observou atentamente as capas das revistas americanas e inglesas, tentando disfarçar um sorriso de surpresa ao ver um ator bonito estampado em uma delas. Ao notar, Jean comentou que havia gostado do último filme dele e teve como resposta um “preferi o anterior”.
Entraram na galeria, cada um com o olhar voltado para uma loja diferente: ela de olho na vitrine de sapatos; ele observando os equipamentos de informática.
- Hum, preciso de um pendrive com mais capacidade de memória, mas acho que vou comprar na 25. Lá é mais barato.
- Eu preciso de um sapato desses. Mas vou comprar por aqui mesmo, um dia que vier sozinha.
- Por que sozinha?
- Ah, eu prefiro. Sei que homem detesta quando uma mulher entra na loja e experimenta vários sapatos até encontrar o que seja perfeito.
- E mulher não curte quando a gente entra nessas lojas de computadores e fala um monte de siglas e números.
Beatriz pareceu ignorar essa observação, embora no seu íntimo concordasse. Preferiu não responder, afinal tinha pouca afinidade com o rapaz e achava seu nome engraçado.

- Jean, nome de homem na França, mas existe mulher chamada Jean em outros países.
- Para quê você quer me lembrar isso?
- A Jean Harlow.
- É, o Jean-Claude Van Damme…
- Calça Jeans.
- Aí você pegou pesado.

Ela riu e ele sorriu com o rosto vermelho. Tentou aconchegar-se mais quando sentaram em um banco, mas ela levantou subitamente, dizendo que queria tomar um milk shake.
- Vamos?
- Hum, pode ser.
- Se você não quiser, tudo bem. Eu tomo sozinha.
- Não, eu tomo também.
Compraram a bebida e se sentaram em outro banco, em frente a uma loja de brinquedos. Ela olhava atentamente os bonecos, bichos de pelúcia e jogos, enquanto Jean tentava encontrar uma forma de puxar assunto, mas Beatriz parecia tão interessada na vitrine que ele desistiu. Deram mais algumas voltas até ela olhar no relógio e dizer que precisava ir.
- Mas tão cedo?
- Não quero virar a noite. Preciso chegar em casa.
- Tá bem, vamos então. Você vai de metrô, né? Eu pego um ônibus aqui.
- Bom, eu gostei do passeio. Até qualquer dia desses.
- Tchau, a gente de fala.

Despediram-se com um beijo no rosto e cada um seguiu o seu caminho com o mesmo pensamento: “Eu devia ter dito de uma vez o que eu acho dele(a)”.

3 comentários:

Rodrigo Carreiro disse...

Garota, isso já aconteceu comigo. É péssimo

Alexandre disse...

Eu vi esse filme no shopping aqui esses dias. Eu (observando distraidamente) aquele mundaréu de gente (comprando) e a dupla sentada no banco timidamente.

Cristina disse...

Está praticamente uma crônica do Veríssimo.