Antonio empurrava suavemente o carrinho de supermercado e deslizava os sapatos macios cor caramelo pelo piso liso e brilhante da loja. O modo como conduzia as compras e movimentava as pernas magras atraiu olhares, alguns de deboche, outros de admiração. A sola do calçado parecia complementar o trabalho da faxineira, lustrando e fazendo refletir no chão as enormes lâmpadas esguias e fluorescentes.
Percorreu corredores com o mesmo movimento corporal, como um elegante patinador de gelo ilustrando o número de “O homem vai às compras” para uma bancada silenciosa de jurados sérios. Reduzia a velocidade ao encontrar algum produto na prateleira que deveria ir para o carrinho, deslizando em círculos ao organizar as compras dentro dele.
No setor de frutas, legumes e verduras, rodopiou ao dar o nó na sacola de batatas, fez malabarismo com as maçãs verdes e equilibrou uma abobrinha no queixo. A menina de vestido rosa e olhos e cabelos negros encarou Antonio com a boca aberta de surpresa. Havia sido arrastada pela mãe para fazer compras e detestava ter que acompanhá-la em todos os corredores, já que se demorava para concluir o afazer ao apalpar cada tomate e comparar as pêras mais perfumadas.
O patinador imaginário sorriu para a garota e sumiu de sua vista ao seguir para o caixa, oculto pelas grandes pirâmides de caixas de biscoitos amarelas e latas de refrigerante vermelhas.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
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4 comentários:
Mercado é bom por isso.
abraço
Gostei. Crônica Elegante. Aliás, difícil tirar elegância de uma cena tão prosaica como essa.
Garota Know-how, the writer.
:)
Desculpa, ainda estou rindo do post passado.
A construção da idéia foi tão bem feita que eu posso ver a expressão de Antonio.
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