Ainda hoje lembro do momento em que fui apresentada a um dicionário, vulgo Pai dos burros. Devia ter cinco anos de idade e morava em um apartamento em São Paulo. A sala era pequena, tinha uma estante modesta e uma mesa de vime e vidro. Em cima da estante, na prateleira ao lado da televisão, ficava o Aurélio, que anos mais tarde descobri ser parente do Chico.
O Aurélio era grande (um gigante para mim, que mal conseguia carregá-lo); a capa preta em couro trazia letras douradas, que identificavam o autor e a editora. Fomos apresentados assim, por acaso.
- Pai, o que significa tal palavra? – ah, memória! Não te perdôo por me fazer esquecer esse detalhe, a palavra desconhecida que me inseriu no mundo das letras.
- Vamos olhar no Pai dos burros.
- Pai dos burros? O que é isso?
- É o dicionário, que tem todas as palavras e o que elas significam – esclareceu, tirando o gigante da estante e colocando em cima da mesa.
Certamente, achei o Pai dos burros incrível. Um livro com todas as palavras do mundo, como eu acreditava. Mas eu não sabia ler e só conseguia entender histórias de livros e gibis graças às ilustrações ou a algum leitor que se dispusesse a lê-las para mim.
Outro gigante de capa de couro e letras douradas que conheci na mesma época foi a Bíblia. Essa eu gostava de folhear para ver as ilustrações, que traziam obras cristãs de grandes artistas renascentistas que reconheci apenas nas aulas de História da Arte, como El Greco e Andrea Del Castagno.
Agora, o Pai dos burros me acompanha todos os dias, na versão digital. Ele me poupa de fazer perguntas aos outros e economiza meu tempo, me apresentando a um mundo cheio de significados, onde eu não preciso questionar “qual é o sentido da vida?”. Basta ir à página.
sábado, 9 de maio de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
6 comentários:
Dicionário tem que físico, pegar na mão e folhear. Esses on-line não tão com nada!
Amo dicionários, virtuais ou nao.
Mas, flor, eu realmente tentei curtir TBBT e não rolou. Mesmo. Assisti cinco episódios e achei a maior chateação do mundo. Sei la porque, ah, deve ser porque sou chata pra cacete.
Que legal! Comigo foi bem assim tbm, mas não me lembro da situação exata e capa de couro era vermelha.
Minha mãe fez a mesma coisa comigo. Até hoje, toda vez que temos dúvidas de uma palavra, eu vou no pai dos burros online, e ela no clássico de bolso.
Salve o Houaiss online! É um dos principais motivos para eu continuar assinante do UOL.
Eu não gosto muito dessa definição, pra mim é o pai dos inteligentes. :)
Postar um comentário