quarta-feira, 8 de julho de 2009

Son(h)o mudo

A estafa insiste em permanecer em meus dias. Mesmo após horas seguidas dormidas, levanto cansada e expressando o quanto gostaria que fosse noite para poder descansar mais.
No sono, sonhos. Delírios do cotidiano e ansiedade expressos em imagens pálidas. Por que meus sonhos têm cores opacas? Por que neles as pessoas são melancólicas? Por que sempre ajo impulsivamente?
A cabeça lateja, os olhos são mantidos abertos forçosamente, a atenção precisa ser endireitada para não se desviar. O relógio para e só retoma o curso rotativo quando quer, deixando-me à espera da hora que se atrasa.
A impaciência, devota do improdutivo, toma uma cadeira ao meu lado e me observa a trabalhar. Puxa-me um fio de cabelo, aponta para os ponteiros imóveis do relógio, sorri sarcasticamente, ri sadicamente, puxa o cadarço do meu tênis e me tira do lugar.
Subitamente, arranco o relógio do pulso e removo seus ponteiros inertes. Levanto-me da cadeira e sigo para a rua, com as pequenas agulhas do relógio entre os dedos, buscando algo para provocar e extravasar o tédio acumulado ao longo da semana. Uma criança brinca com balões coloridos e eu os estouro com os ponteiros afiados, deixando para trás os restos de borracha e o choro agudo e mimado. Um homem bravo me repreende, e devolvo a suposta lição de moral com uma careta provocativa e a língua amoral.
Um piano com rodinhas desce a rua em velocidade e para na nossa frente, entoando uma canção animada que dá início à perseguição, que culmina em uma frenética escalada ao prédio. Lá do alto, o vento sopra e a harpa ecoa suavemente. Deixo-me cair entre colchões, cobertas, edredons e travesseiros, de onde levanto quando avisto a luz da manhã invernal.

2 comentários:

Rodrigo disse...

Põe um filme do Buster Keaton ou Woody Allen que tá tudo certo
;p

Alexandre disse...

Buster Keaton + Irmãos Marx + Garota no Hall; mudo não, botemos uma trilha sonora de Travis. :)