sábado, 28 de novembro de 2009

Literatura inspiradora

É impossível um irmão Marx não extrair um sorriso de meu rosto. Mesmo o estado emocional mais borocoxô não escapou de uma agradável levantada de espírito proporcionada pela releitura de Harpo fala... de Nova York, deliciosa crônica de pouco mais de 30 páginas coescrita por Harpo Marx e Rowland Barber. O crítico Luiz Carlos Merten, de O Estado de S. Paulo, comenta o livro aqui. Já o trecho escolhido por mim traz Harpo (também conhecido por Adolph e, posteriormente, Arthur) relatando a importância da escola em sua vida:


"E assim, aos oito anos de idade, eu estava fora da escola e em liberdade. Não sabia o que fazer comigo mesmo. Uma coisa era certa: jamais chegaria perto da Escola Pública 86 ou dentro do alcance do dedo acusador da srta. Flatto de novo. A escola era ótima para Chico, que estava na quinta série e era um gênio da aritmética, e para Groucho, que só tirava nota 100 na primeira série, mas não para mim. Eu só era bom para sonhar acordado, uma disciplina à qual não davam crédito no sistema escolar da cidade Nova York.
(...) Nunca duvidei que tivesse feito a coisa certa quando caminhei deixando para trás a janela aberta da E. P. 86, para nunca mais voltar. A escola estava toda errada. Não ensinava a ninguém como existir no dia a dia, que era como os pobres tinham de viver. A escola preparava você para a vida - aquela coisa no futuro remoto -, mas não para o mundo, a coisa que você tinha de encarar hoje, esta noite, quando acordava na manhã seguinte sem a menor ideia do que o novo dia traria.
Quando eu era criança não existia realmente futuro. Lutar para sobreviver num período de 24 horas já era duro o bastante sem precisar refletir sobre o período seguinte. Você podia rir do passado, porque tivera sorte bastante para sobrevivê-lo. Mas principalmente havia o presente com que se preocupar.
(...) A escola simplesmente não lhe ensinava como ser pobre e viver cada dia. Isto eu tive de aprender sozinho, da melhor maneira que pude. Nas ruas eu era, segundo os padrões atuais, um delinquente juvenil. Mas pelos padrões do Lado Leste de 1902, eu era um estudante de honra."


BARBER, Rowland; MARX, Harpo. Harpo fala... de Nova York. Trad. Roberto Muggiati. 1. ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2006.  

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