sábado, 12 de fevereiro de 2011

A felicidade num cupcake

O céu cinza escuro prenunciava mais um daqueles temporais de verão. A brisa morna colava seus cabelos contra o rosto enquanto ela impacientemente removia os fios com as pontas das unhas recém cortadas. Andava apressadamente, olhando para o céu a todo momento, se esforçando para enxergar a mais fina gota de chuva que pudesse cair a qualquer momento. Passou a língua nos lábios pensando que aquilo pudesse deixá-los menos ressecados. Talvez desse um tom mais avermelhado e disfarçasse a cor esbranquiçada, mas era mais um ato impensado, uma mania, do que uma atitude vaidosa.
Atravessou a rua e viu a pequena loja a algums metros à frente. Olhou mais uma vez para o céu e suplicou mentalmente para ganhar mais tempo de trégua. Entrou e se dirigiu à vitrine. Os bolinhos coloridos pareciam soltar pequenas faíscas, reluzentes como neon. Tentou sentir o aroma, mas o esforço foi em vão, e esticou o pescoço para fazer o pedido. Escolheu aquele com a cobertura rosa e uma cereja no topo. Era o mais delicado e também parecia ser o mais delicioso.
Sentou ao balcão e tirou a cereja elegantemente com o polegar e o indicador, analisando-a com um olhar devorador, daqueles com o qual qualquer mulher faminta conseguiria arrancar um beijo do seu homem sem precisar dizer uma palavra sequer. E a mordeu, deixando escapar uma expressão aprovadora.
À sua frente, o cupcake coberto de glacê rosa aguardava ir de encontro aos grandes dentes brancos e mergulhar naquela cavidade misteriosa. Uma mordida depois, um grande pedaço foi removido e se revirava dentro da boca. O recheio de mirtillo borbulhava em seu imaginário e a convidava a outra grande dentada, que pareceu ser ainda mais tentadora do que a primeira. 
Cinco mordidas depois, era o fim do cupcake. Chegava ao fim, também, aquele parco momento de felicidade, que agora se dissipava diante do clarão de um relâmpago anunciando a chegada do temporal.

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