domingo, 28 de agosto de 2011

Impressões pessoais sobre Melancolia

Neste blog, costumo escrever sobre aquilo de que gosto. OK, eu nem gostei de Thor o suficiente para escrever sobre ele, mas aquele post foi sobre as impressões femininas daquele filme esquecível - memorável só por ter revelado o Tom Hiddleston para mim. Porém, há algumas semanas assisti ao tão falado Melancolia, do superbadalado Lars von Trier, o cineasta dinamarquês que não fica satisfeito enquanto o espectador não sentir vontade de cortar os pulsos enquanto assiste a qualquer um de seus filmes. Mas estou sendo hipócrita por afirmar isso, já que vi apenas dois longas desse diretor: Dançando no escuro e o tema deste post. O fato é que tenho preguiça dos filmes do von Trier. E some a isso o desinteresse que acabei cultivando, graças ao drama musical da Björk; aliás, acredito ser a única pessoa que não ficou com vontade de chorar, mas de dar um tapa na cara da personagem da irritante cantora islandesa. E olha que sou muito pacífica.

Entrando numa fria com a família
Falta muito para acabar?
A monumental sequência de abertura em câmera lenta, apocalíptica e impressionante, hipnotizou minha atenção. Vários minutos depois, o letreiro anuncia o primeiro capítulo do filme, dedicado à protagonista, Justine (Kirsten Dunst). A moça é apresentada como uma recém-casada linda e bem-sucedida. A handcam trêmula e quase desfocada de von Trier parece querer tornar a sequência da horripilante festa de casamento um arquivo documental. Infelizmente, esse artifício só me deu uma dor de cabeça tão forte que quase saí do cinema. E como se não bastasse, comecei a ficar enjoada com o balancê das imagens. Mas consegui resistir (até hoje não sei como) e encarar a enfadonha primeira parte do filme, propositalmente sufocante. O problema é que von Trier não sabe escrever diálogos inteligentes ou interessantes, então ele despeja um monte de personagens problemáticos e cria situações constrangedoras, com as quais sua handcam trêmula colabora para deixar tudo mais insuportável.

Von Trier não poupa nem criança
Sobre metáforas e tal
A segunda parte de Melancolia é focada em Claire (Charlotte Gainsbourg), irmã de Justine e, de longe, a personagem mais interessante do filme. Enquanto Justine está quase afogada num estado prolongado de melancolia, Claire se preocupa com ela e faz o que pode para que melhore. Mas, uma metáfora gigantesca e azul se aproxima da vida de toda a família (inclui-se o marido e o filho de Claire), deixando-a em êxtase e temerosa do que está por vir. A metáfora é o planeta Melancolia (viram como o roteiro é sutil?), que está cada vez mais próximo da Terra e, embora os cientistas digam que a aproximação é inofensiva, Claire teme pelo pior. 

Cadê o Kubrick?

It's the end of the world as we know it
Um momento de beleza assustadora: Melancolia se aproxima cada vez mais Terra, tornando-se visível na atmosfera do planeta e provocando uma série de fenômenos retratados na sequência inicial e final da película. Von Trier comprova ser um diretor talentoso para criar imagens plasticamente belas - muito do que ele faz lembra bastante os ensaios da fotógrafa Annie Leibovitz. O espectador se sente engolido pela incerteza e pelo medo, tal qual Claire. O estado de melancolia sai da tela e toma conta do espectador. Como se não bastasse a dor de cabeça e o enjoo, provocados pela primeira parte do filme, ainda por cima melancolizei. Não é à toa que o final é algo libertador: finalmente saí para tomar um ar fresco na noite paulistana, mas com aquela sensação pessimista de que a vida é uma porcaria.

Eu queria ir embora, mas algo
 me prendia na poltrona
Sci-fi melodramático
O que é Melancolia? Um drama que se utiliza de um tema digno de ficção-científica para sufocar o espectador. Não é à toa que a senhora ao meu lado disparou essa quando o filme terminou: "esse von Trier é um filho da p#*@". Realmente, von Trier consegue alcançar seu principal objetivo com Melancolia. O problema, pra mim, é que o debate proporcionado pelo filme é muito superior à película em si. Não que eu ache que filme bom é só aquele que te faz se sentir leve e feliz (vide Meia noite em Paris), mas assistir a algo que me dá dor de cabeça logo no começo e me faz pedir para que o mundo acabe, só para minha tortura chegar ao fim, não é algo que considero digno. É como aquele episódio de Seinfeld no qual Elaine encara O paciente inglês como uma interminável tortura: nem sempre o que todo mundo ovaciona necessariamente nos agrada.

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