terça-feira, 18 de outubro de 2011

Por milhares de dólares a mais

Estava lembrando de um fato que aconteceu há quase dez anos, mais precisamente em 2002. Gisele Bündchen, que já era a top model número um do mundo, tinha uma conta bancária bem recheada e liberdade para escolher as grifes para as quais desfilaria e/ou emprestaria a imagem. Eis que a marca Blackglama ofereceu US$ 500 mil e mais dois casacos caríssimos para que a moça estrelasse uma campanha glamourosa. Como se precisasse muito do dinheiro (vai ver ela precisava mesmo, vai saber), a modelo aceitou e participou das fotos da campanha publicitária. 
Para entender melhor a matéria prima utilizada pela Blackglama, saiba que eles abatem milhares de mamíferos de uma espécie ameaçada em extinção conhecida no Brasil como marta (mink), dos quais retiram a pele coberta de pelos negros. Porém, se grande parte dos milionários acredita que o dinheiro compra definitivamente qualquer coisa (eles exploram seres humanos para se manter onde estão, então o que os impediria de torturar e matar uma dúzia de animais para ostentar seu glamour?), existem pessoas engajadas em defender os direitos daqueles que não podem se expressar e dependem não de bondade, mas de uma boa dose de bom senso e ousadia - é aí que se encaixa o Peta (em português, Pessoas pelo Tratamento Ético dos Animais)  
Voltando à tal da Gisele: eis que lá estava ela, desfilando de lingerie Victoria's Secret, quando algumas ativistas subiram na passarela segurando cartazes com os dizeres "Gisele: escória das peles". Nos dias que se seguiram, a imprensa brasileira deu destaque ao fato, mostrando a modelo fazendo um mea culpa do tipo "eu só estava fazendo meu trabalho [para a Blackglama]" e "elas [as ativistas] não tinham o direito de protestar no meio do desfile de uma marca que nada tinha a ver". Seja como for, representantes do Peta foram muito corajosas e ousadas para chamar a atenção para uma causa muito mais importante do que calcinhas e sutiãs de gosto duvidoso (sim, acho Victoria's Secret cafona).
Não preciso nem dizer que muitos brasileiros deram razão para Gisele. Afinal, é normal fazer qualquer coisa por dinheiro por aqui - não que somente aqui se faça isso. Alguns anos depois, tenho que aturar a ridícula da Gisele com aquela fala mole alertando sobre a importância de preservar a natureza, salvar os animais e as florestas. Depois de embolsar 500 mil dólares, é fácil vir com esse discurso "faça o que eu digo, não faça o que eu faço/fiz". Só fico tentando imaginar o que ela fez com os dois casacos que ganhou da Blackglama. 
Curiosidade: No site da Blackglama tem os ícones que ajudaram a divulgar a grife (veja aqui). É claro que a Gisele não foi a única personalidade de peso a vestir os casacos. Decepcionei-me por saber que Audrey Hepburn, Lauren Bacall, Catherine Deneuve e Shirley MacLaine tenham ajudado a sustentar esse absurdo, e me surpreendi ao ver a própria Brigitte Bardot posando com um casaco (para quem não sabe, ele é uma das principais defensoras dos direitos dos animais da atualidade). Até tento entender que há 30 anos (e mais) não houvesse essa conscientização que temos hoje do que é feito para produzir um casaco de pele e as alternativas sustentáveis disponibilizadas para nos proteger do frio de maneira elegante e bonita. Mas agora é mirar no presente e no futuro e manter o olhar crítico contra essas pessoas que fazem tudo por dinheiro. Literalmente.

Gisele não é a única culpada, mas... que vergonha!

Um comentário:

Carrie Bradshaw Tupiniquim da Silva disse...

deveriam tirar o couro da gisele pra ela ver o q é bom... desde essa época peguei birra com ela, ela não precisava disso, muito canalha...