domingo, 7 de abril de 2013

Depressão pós-show

O sorriso demorou a desaparecer do rosto. Mesmo deitada sobre o travesseiro, com os olhos fechados e quase pegando no sono, lá estava ele, de canto a canto. A canção ecoava na cabeça e alguns detalhes remanescentes cintilavam na lembrança. Aqueles pálidos olhos azuis perpassavam a todo momento na memória, assim como o gesto com o qual se expressava enquanto cantava. 
A todo momento, queria voltar a ouvir aquela voz. Encantadora e sensual, mexia com os sentidos e os sentimentos. Um tipo de excitação brotou e algumas fantasias tomaram forma no exato momento em que presenciou. E não conteve o berro espontâneo de "Dan, take me home", que permanecia como uma anedota divertida. 
Pequenas histórias que, coladas, formavam um mosaico do que aquele show representou. Mas, aos poucos, uma melancolia tomava forma e a abatia. Esperou tantos meses por aquilo e, finalmente, tinha acontecido. O que viria a seguir? O que esperar? Deu-se conta de que era uma pessoa adulta e que sua vida seguiria naquela mesma e velha rotina. Algo que, naquele instante, soou cruel e insuportável. Nada de Wendy na Terra do Nunca: havia crescido e envelhecido em poucos segundos. 
As dores do dia anterior, que em vão procurava ocultar, subiam das pontas dos pés ao topo da cabeça. Trêmulos, pernas e pescoço concentravam pontos latejantes, que vez ou outra pareciam torcer os músculos. Não se importaria em voltar no tempo e espaço, pulando enquanto os pés afundavam na lama e cantando com uma voz que jamais imaginou conseguir entoar. Era como se algo mágico saísse daqueles amplificadores e a transformasse.
Enquanto os delírios daquele passado próximo insistiam em elevar-se à décima potência, a realidade se aproximava lentamente, explodindo em câmera lenta na sua face. Nos dias que se seguiram, agiu de maneira apática. 
Ao mesmo tempo que queria falar sobre o que havia presenciado naquela noite de sábado, sabia que ninguém a compreenderia e nada do que dissesse traduziria o que viu, ouviu e sentiu. Não revelaria que naquela noite voltou a ter 17 anos, sendo a mesma sonhadora de outrora, que enxergava a beleza na simplicidade de uma canção. 
Embora obsessão e fanatismo fossem termos que pudessem ser usados para julgá-la, encantamento e melancolia seriam as palavras corretas para defini-la, enquanto lançava um olhar distante remetendo à pequena figura de pálidos olhos azuis contornados por olheiras, emoldurados pelos desgrenhados fios de cabelo ruivo e pela barba avermelhada. E a voz excitante conjugando tudo aquilo.

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