sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Não é tabu

Há alguns meses, vi que o Netflix tinha disponibilizado várias temporadas de Sons of Anarchy. Como tinha curiosidade de conhecer a série, aproveitei para assistir. Gostei bastante, apesar de ser violenta e ter um universo extremamente masculino e, consequentemente, machista. Mas como tem personagens mulheres para quebrar isso, e os machões são os mais idiotas, dá para assistir sem ficar culpando os roteiristas - afinal, é um mundo de motoqueiros contrabandeadores de armas de fogo.
Terminei a primeira temporada e já quis começar a segunda. No entanto, o primeiro episódio desta começa com um caso de "estupro de vingança". A matriarca do Sons of Anarchy sofre a violência de uma gangue rival e, apesar de a cena ter sido cortada, o que mostra já me deixou impressionada. Ao longo dos episódios, a série explora as consequências do crime para a mulher, retratando seu trauma e seu silêncio diante do que aconteceu.
Pronto, não consegui mais assistir ao programa. Cenas de estupro e abuso, ainda que fictícias, me impressionam muito. Não é exatamente o que um filme mostra, mas o que está por trás, afinal sabemos que esse tipo de violência acontece diariamente com milhares de mulheres. E ler sobre casos reais e depoimentos me faz ter asco de assistir a cenas assim. 
Nunca sofri diretamente esse tipo de violência, embora não seja preciso para saber como é terrível. Tem um filme chamado Miss Violence, está em cartaz em São Paulo, que traz temas que a imprensa chama de "tabu": pedofilia e incesto. Eu não acho que seja tabu algo que, repito, aconteça diariamente a milhares de mulheres/crianças e seja divulgado pela mesma mídia. Eu vi apenas uma parte dele - e foi demais para odiá-lo profundamente. Não é um filme sugestivo, ele tem cenas. O desfecho apenas demonstra como um lixo de produção, disfarçada de "polêmica" e "realista", consegue ser vendida apenas por trazer um tema que poucos têm a "ousadia" de tratar. (Não vou fazer spoiler, quem assistir talvez não pense o mesmo que eu.)
Não é que eu condene produções audiovisuais por colocar em pauta a violência contra a mulher. Ultimamente, não tenho suportado ver o assunto ser tratado sem sensibilidade, pois para um homem talvez seja mais fácil assistir e aplaudir pela técnica e a ousadia, porque é algo pelo qual ele nunca irá passar - e talvez até já tenha cometido sem sequer se dar conta, uma vez que algumas atitudes são consideradas "normais". 

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