Alguns o chamam de Mel. Outros, de Mineiro. Eu nunca soube o nome dele, e jamais dei muita importância a desacelerar os passos, parar por alguns instantes e fazer essa pergunta. Não que eu seja tão antipática a ponto de ignorar pessoas que vejo diariamente, apenas fico vermelha quando ele me vê e começa a gritar “Bom dia, minha coisinha linda. Tudo bem com você?”. No início, eu dava risadas tímidas, tentando contê-las ao me deparar com saudações diárias que a vizinhança inteira podia ouvir. “Oi minha gata”; “Essa daí é linda mesmo”; “Ela não é dez, é mil”... quantas vezes ouvi essas expressões, seja em dias de sol ou de chuva interiores? Não sei, é assim quase todos os dias quando chego à empresa para trabalhar.
Novata no emprego, dei um jeito de saber se o Mel era assim com todo mundo ou se eu tinha sido escolhida a musa dele. “Não liga, não. Ele fala assim com todas as moças. É meio lelé”. Não foi a resposta que eu esperava ouvir, mas poucos sabiam sobre ele. Mora em uma casinhola na rua, dessas que os guardas ficam para vigiar a vizinhança, e dorme sentado. Não sei como faz para usar o banheiro ou tomar banho, mas a morada dele tem até antena.
Um dos fatos mais interessantes que contaram a respeito do Mineiro (ou Mel) é que ele é rico. “Um dia deixaram uma correspondência para ele na recepção. Estava aberta e tinha o extrato da conta dele, não sei quantos mil reais”. Questionaram o interlocutor por quê o Mel morava na rua se tinha conta no banco e até uma quantia razoável nela. “Ah, ele deve gastar tudo e não guarda”.
Mel se tornou uma lenda. Em quase um ano que o vejo, ele continua o mesmo. Às vezes passam umas teorias pela cabeça sobre o verdadeiro passado desse misterioso varredor de calçadas, mas nada que me instigue a levar a sério – assim como as inofensivas cantadas que ouço cada vez que o encontro.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
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4 comentários:
com certeza eu tinha parado pra bater um papo com essa figura, com uma devida escolta, é claro. Nunca que ia resistir. Aqui, perto de onde eu estudava alemão, tem um velhinho que passa O ANO INTEIRO vestido de papai noel. Parei pra conversar com ele, ele é administrador aposentado, pede dinheiro -diz ele- para ajudar criancinhas, toda vez que passo buzino e grito
PAPAAAAAAAAAAAAAAAI NOOEEEEEEEEEEEEELLLLL
e ele acena de volta. Ele desapareceu um tempo e eu preocupei, simpatizo com o bom velhinho.
beijas
São Paulo concentra muito seres como esse Mel (o mineiro). E esse é um dos meus aspectos favoritos da terra da garoa.
Ah, vc podia entrevistar ele, né?
Adoro tais figuras. Adoro, principalmente, divagar sobre tais figuras.
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