- Eu só vou me casar com um homem que seja viúvo.
Esse era o plano de casamento para Dona Marta, solteira aos 46 anos. Conheceu poucos homens na vida e, com alguns deles, passou mais tempo do que deveria. Cansada de assistir à casa se tornar um acampamento de marmanjo toda vez que oferecia o teto e o jantar, tomou a decisão de só se envolver a sério com quem valesse a pena o suficiente para casar. E como todas as tentativas de romance anteriores eram apenas com solteirões que queriam sair debaixo das asas da mãe, mas não tinham maturidade o suficiente para bancar nem metade das despesas de um lar, chegou à conclusão de que experiência seria o mais relevante na hora de encontrar um novo amor.
- Eu te entendo pelos trastes que passaram por aqui, mas precisa ser viúvo? Homem separado não conta? – questionou Irene, sentada à mesa na casa da amiga, bebendo uma xícara de café fresco.
- Não, porque se separou é que aprontou. Mulher da nossa idade só deixa homem disparar de casa se é um mulherengo que não vale nada. E muitos nem são expulsos, fogem com a sem-vergonha que arrumou e deixa a coitada com os filhos e sem pensão.
- Para você não existe meio termo mesmo. Mas por que defende viúvo?
- Ah, é um amor que se consumou até que morte separasse o casal. Ele fica, sofrendo, e só se envolve com outra mulher de verdade quando o amor é tão grande que ele supera a dor.
Dizendo isso, lançou um olhar romântico para a janela e notou uma mancha no vidro. Subiu na cadeira e esfregou um paninho, voltando à conversa com uma conclusão:
- Da nossa idade, só viúvo que sabe valorizar a mulher. Homem só aprende quando a perda é grande, e eu não quero ensinar ninguém os deveres masculinos numa casa.
Algumas semanas depois, Irene conheceu um viúvo. Parente de um vizinho, morava sozinho desde a morte da esposa, há seis meses. Passava uns dias na casa do irmão, a quem não via há muito tempo, e despertou a curiosidade de Irene a ponto de ela traçar um plano para ele e Dona Marta se conhecerem.
- Agora você não reclama mais que eu não venho te visitar. Tem alguém batendo palma lá no portão.
- Ah, é uma pessoa que quero apresentar, o Seu João…
- Lá vem você! Mas eu tô bem assim!
- É viúvo e um homem muito educado.
Dona Marta disfarçou a excitação e Irene foi abrir o portão para o visitante, que cumprimentou a amiga de Irene e se sentou ao lado dela no sofá. A conversa foi tranquila, sem faíscas, mas Irene insistia na ideia de haver um interesse entre os dois. E, de fato, havia. Discretamente, ele pediu o telefone de Dona Marta para convidá-la à quermesse da igreja na próxima semana. Ficaria algumas semanas na cidade e poderiam se ver mais vezes. E se viram tanto que a estadia do homem se estendeu até ele pedir a mão de Dona Marta em casamento.
- Só dois meses depois daquele encontro na sua casa e já quer ir ao altar comigo!
- Mas não era isso que você queria? Um viúvo educado e de boa família? O irmão dele é trabalhador, ele deve ser também.
- E é, pelo que disse. Eu já estou velha e não vou desperdiçar. Não tem como dar errado, o amor dele por mim superou a dor da perda da esposa…
Dona Marta aceitou o pedido e Seu João ficou feliz. O casamento foi marcado para dali a alguns meses, tempo suficiente para ele vender a antiga casa e comprar uma nova na cidade para os dois. Ela não precisaria mais pagar aluguel e teria um homem de verdade ao seu lado.
Às vésperas do casamento, resolver entrar no assunto da esposa do viúvo. Nunca havia colocado a falecida como assunto principal da conversa, mas naquele momento sentiu que tinha liberdade para fazer perguntas mais pessoais, aproveitando a leveza trazida por alguns cálices de vinho tinto.
- João, você ficou muito triste quando sua mulher morreu?
- Por que falar disso agora?
- Porque você sempre evitou falar dela, e agora que vamos nos casar deve estar menos triste, pois um novo amor supera a dor.
- Não sei dizer… triste assim… - a lentidão do raciocínio denotava embriaguez, mas o homem se esforçava – Foi até rápido… ela tinha problema no coração… todo mundo sabia… tomava remédio… fazia tratamento… mas ninguém esperava…
- Ela não sofreu, então? Não mais do que você?
- Não muito… o efeito da bolinha foi… rápido.
Ao ouvir isso, Dona Marta arregalou os olhos e disse precisar ir ao banheiro. Antes, correu para a sala e tirou o telefone sem fio do gancho.
- Alô, Irene. Você não vai acreditar…
- Marta? É você? Tá falando com a voz baixa, o que aconteceu?
- O Seu João matou a mulher! Perdi minha fé nos viúvos também. – e esperou a polícia aparecer na porta de casa após Irene desesperar-se pela vida da amiga.
segunda-feira, 25 de maio de 2009
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5 comentários:
Pobre dona Marta!
Coitadinha dela!
Sempre a culpa é do macho. Tsc, tsc. rs
O.o
Sabia que vc tinha um lado sombrio... Huhauahua
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